“Comecei as minhas aventuras pelo mundo a bordo de um avião, fazendo a primeira expedição sobre as asas no Brasil, depois dirigi um motorhome pelas estradas da América do Sul em uma viagem que durou seis meses, e passei por países como Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Equador e Colômbia. Após ter realizado expedições pelo céu e pela terra, eu falei: agora farei uma expedição pelo mar”, inicia Max Fercondini, o ator, velejador, escritor e também piloto de avião.
Fercondini começou a trabalhar aos 14 anos na televisão, transitando pelas funções de ator, apresentador e diretor, quando estreou na novela “Esplendor” (2000), na TV Globo, com o personagem Freddy. Em 2013, ele participou de sua última novela “Flor do Caribe”, como o Tenente Ciro Albuquerque.
Há sete anos, ele deixou a televisão, seu último trabalho foi como repórter no programa “Como Será?”, entre 2014 e 2016, e há cinco vive em alto-mar.
Em sua trajetória, ele conta que, aos 22 anos, tornou-se piloto de avião particular e conduziu sua primeira expedição pelo Brasil. Depois foi para as estradas, percorrendo mais de 21 mil km pela América do Sul. Mas, só aos 32 anos que ele se habilitou como velejador.
As duas expedições que ele realizou — aérea e terrestre —, chegaram a ser transmitidas pela TV Globo. No “Como Será?”, os quadros “América do Sul Sobre Rodas” e “Sobre as Asas”, já evidenciaram o que ele buscaria seguir no futuro após sua saída da emissora.
Com o barco comprado em Barcelona, batizado de Eillen, hoje, Fercondini está há cinco anos vivendo a bordo de seu veleiro na Europa — atualmente na Marina Parque das Nações, em Lisboa —, mas ele já navegou pela Espanha , Portugal, Inglaterra, França , Itália , Martinica, Bonaire, Curaçao, Saint Lucia, Gibraltar, Açores, Córsega, Sardenha e ilhas Baleares e ente outros lugares. No Brasil, o ator relembra que navegou na região de Angra dos Reis e Bahia. “Vivo na costa, vivo de porto em porto”.
Ele conta que pensava que fosse ficar só um ano e meio nas viagens em alto-mar, mas acabou se apaixonando por esse estilo de vida. “Mudei completamente a minha forma de me relacionar com o mundo”, afirma ele, que já adquiriu três travessias oceânicas no currículo e mais de 30 mil km navegados.
O ator percebeu a necessidade de ressignificar sua existência. Para alguns, sair da zona de conforto significa mudar de emprego ou então iniciar um novo hábito. Para Fercondini, fazer do mar sua morada foi o que deu início a um novo projeto de vida e remodelou a sua personalidade.
“Um destino que me marcou bastante foi o estreito de Gibraltar porque sempre li sobre ele nos livros de História e Geografia. Era um lugar que tinha bastante interesse em conhecer. Quando naveguei pelo estreito, ao olhar para a esquerda, vindo do leste para oeste, olhei o continente africano e à direita o continente europeu. Com isso, pude constatar a divisão de um paradigma social e cultural que sempre me despertou muita curiosidade.”
Sua expedição em alto-mar é narrada em seu segundo livro " Mar Calmo Não Faz Bom Marinheiro ”, lançado em 2022 — o primeiro é o “América do Sul sobre rodas: Relatos, Guias e Dicas” (2017) —, que ele escreveu em parceria com sua ex-namorada, a atriz Amanda Richter.
No livro, Fercondini compartilha seus medos, aprendizados e reflexões, tendo o mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico como testemunhas e pano de fundo de sua jornada solitária.
“No mar eu aprendi que se tem uma pessoa responsável pelo seu sucesso ou fracasso, essa pessoa é você. Para navegar é necessário conduzir o barco com firmeza e responsabilidade, mas sem abrir mão da sensibilidade para apreciar as lições que a vida e a natureza nos presenteiam”, conta.
Na obra, ainda há detalhes dos cenários por onde ele esteve, transportando o leitor para esse mundo náutico, que transita no imaginário de muitos. Ele ainda foi auxiliado com a contribuição de importantes personagens reais pelo caminho, o que ele conta que permitiu que ele vivesse intensamente cada uma dessas relações, reconhecendo o valor imaterial da amizade e da troca de conhecimento e aprendizado.
“Conto um pouquinho da expedição sobre as asas, um pouco da expedição pela América do Sul sobre rodas. Mas o foco maior é nessa minha experiência vivendo em alto-mar. De maneira geral, o livro também propõe ao leitor o questionamento dos perigos de permanecer na zona de conforto e o leva a compreender que são as adversidades que nos fazem melhor”.
Ao iG Turismo , Fercondini cita que já precisou lidar com ondas de 6 m de altura e ventos muito fortes e que, mesmo sabendo que o risco é algo que sempre existe, quando se depara com essas situações, é preciso lidar da melhor forma e mantendo a calma. “Foram momentos em que fui colocado à prova, momentos de maior atenção, até ir ganhando confiança, conhecendo mais meu barco e navegando mais.”
Max viaja sempre sozinho em seu barco de 13 metros, mas salienta que em travessias mais longas só veleja acompanhado, com uma tribulação, em viagens que duram mais de 15 dias. “É uma vida bastante interessante porque conhecemos outras pessoas que também estão vivendo esse mesmo sonho, e eu gosto muito dessa comunidade náutica”.
Fercondini defende que, para ser aventureiro, também é necessário bastante planejamento. “Não adianta você decidir que quer mudar de vida e que deseja seguir um sonho sem estar preparado. Eu me preparei durante bastante tempo. Um conselho que dou é colocar uma data, definir uma meta, porque parece que a vida conspira a favor quando temos um planejamento ou um objetivo”.
Em seus planos, o piloto aspira navegar por toda a costa do mar Mediterrâneo até chegar na Turquia. ‘Quero sair de Lisboa até a Turquia, em uma viagem que deve durar entre dois e dois anos e meio, e nessa experiência, quero fazer o meu próximo documentário ‘Sobre as Ondas’, contando um pouco mais sobre o berço da civilização ocidental”, conclui.
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