Com a pandemia, o setor de turismo sofreu grande impacto, sobretudo por causa das restrições advindas da Covid-19, que impossibilitou as viagens domésticas e internacionais e também a realização de grandes eventos. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor deixou de faturar R$ 214 bilhões em 2021. Do início da pandemia, em 2020, até dezembro de 2021, a perda foi de R$ 473,7 bilhões.
Nesse contexto, muitos empreendimentos tradicionais precisaram se reinventar para conseguirem se manter em um cenário de instabilidade turística. Em 2022, com a retomada do setor, os estabelecimentos e empreendimentos estão sentido as mudanças.
Segundo dados da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), nos quatro primeiros meses deste ano, a entrada de turistas estrangeiros no Brasil foi 60% maior que em todo o ano de 2021. De janeiro até abril de 2022, mais de 960 mil pessoas entraram com visto de turista no país. Enquanto, em 2021, não foram nem 600 mil. Só em junho deste ano, houve 3,8 mil chegadas de voos internacionais ao país.
Chocolate Gramadense
O Chocolate Gramadense, um dos empreendimentos mais tradicionais de Gramado precisou adaptar-se ao cenário. Fundado em 1982, o Chocolate Gramadense é uma empresa familiar que tinha à frente Altanísio Ferreira de Lima e sua esposa, Enir Maria Pereira Lima.
A marca iniciou suas atividades com uma pequena produção artesanal em uma sede de apenas 80 m² que atendia apenas consumidores locais. Ao longos dos anos foi expandindo a sua produção e conseguiu alcançar notoriedade no mercado de chocolates artesanais.
Porém, em maio de 2021 Altanísio faleceu aos 69 anos, por causa da Covid-19, fazendo com que o filho Ezequiel Dias de Lima e sua esposa Danúbia Lima passassem a administrar a empresa.
Antes da pandemia, a marca era produzida para eventos corporativos e tinha um público mais comercial. Mas, com as restrições, as feiras começaram a ser canceladas e, para sobreviverem ao cenário de instabilidade, precisaram abrir lojas físicas, pois só tinham um showroom de 12 m² dentro desses eventos, que não estavam acontecendo.
“Enquanto todos se retraíram, a marca mudou seu público-alvo, embora já fosse conhecida tanto dentro, quanto fora de Gramado, percebemos ser necessário atrair os turistas, pois a Serra Gaúcha é bastante turística”, explica Ezequiel, 43.
A marca não deixou de lado os eventos corporativos, mas expandiram para outros públicos. Tanto que, no ano que completou 40 anos, entregou para o município de Gramado e seus visitantes uma loja temática de 500 m². A loja é unida com a fábrica que fica exposta e permite a visualização da preparação dos chocolates artesanais pelos visitantes. Além disso, conta com um estacionamento amplo e um espaço com mais de 300 produtos artesanais nas prateleiras.
O Chocolate Gramadense apostou na mudança, mesmo em um cenário incerto e conseguiram se reinventar. Tanto que hoje, a loja virou ponto turístico da cidade e recebe milhares de visitantes. A loja passou a representar uma grande parcela do faturamento da marca, que produz 200 toneladas de chocolate por ano e atende consumidores de todo o Brasil com quatro lojas licenciadas em diferentes estado do país.
Cravo & Canela
No Rio Grande do Sul, outro empreendimento precisou aderir mudanças: Débora Pieri Leonhardt e Paulo Leonhardt, estavam à frente da Pousada Cravo & Canela desde 2000, um espaço que fazia parte da Associação de Hotéis Roteiros de Charme, um grupo que se preocupa com a sustentabilidade de suas atividades e dos destinos turísticos onde estão situados.
Naturais de São Paulo, o casal mudou-se para a Serra Gaúcha em busca de qualidade de vida, fugindo da correria da cidade grande para criarem as duas filhas. E assim foi feito. Durante os 20 anos que geriam a pousada, ficaram conhecidos no Rio Grande do Sul, sobretudo, em Canela, onde a pousada ficava, e em Gramado.
“A Pousada Cravo & Canela já existia com esse nome, só que ela tava fechada e adquirimos o espaço. Ela é um casarão da década de 1950, uma mansão em estilo europeu que pertenceu ao ex-governador Ildo Meneghetti. Na época, era conhecida como Palácio das Hortênsias”, diz Débora, 47.
Com a pandemia, precisaram sair do espaço que era alugado após ser vendido para dar lugar a algum empreendimento do ramo imobiliário.
“A pousada ficou fechada por um tempo por causa do turismo enfraquecido. E, além disso, percebemos que os estabelecimentos tradicionais e de empreendedores menores não podiam competir com grandes empresas do ramo hoteleiro”.
O espaço ficou reconhecido pelo atendimento diferenciado, pela decoração impecável, além do tradicional e recomendado café da manhã apontado por muitos visitantes como o melhor da região. Além de possuir um amplo espaço, jardins, piscinas, área de convivência e 12 apartamentos. Nesses anos, também priorizaram pela integridades dos funcionários e buscaram não demitir ninguém.
Débora conta que, para lidarem com o cenário e não abandonarem o nome que construíram ao longo do tempo, passaram a atender as redes de hotéis e pousadas na área de Gastronomia e Eventos, terceirizando as atividades de A&B (Alimentos e Bebidas) para esses espaços. O casal enxergou a oportunidade de levar os já conhecidos cafés e chá da tarde da pousada Cravo & Canela para outros empreendimentos da região.
Antes, ela tinha uma parceria com o Hotel Cercano, mas mais recentemente, conseguiram uma parceria com a rede de hotéis Laghetto e estão atendendo três hotéis da rede em Gramado, sendo eles: Laghetto Château, Laghetto Fratello e Laghetto Gramado. O primeiro recebe, inclusive, o nome da pousada em dois de seus restaurantes.
“É um reinício de algo que a gente já faz há 20 anos, mas para nós tá sendo um reinício com uma energia nova: uma injeção de ânimo”, finaliza a empresária.
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