Nadine e Guilherme viajam de bicicleta pela Europa
Reprodução/Instagram - 01.12.2023
Nadine e Guilherme viajam de bicicleta pela Europa

“Nós dois sempre compartilhamos um espírito aventureiro, o que acredito ser um dos maiores pontos de convergência do nosso relacionamento. Desde quando estávamos nos conhecendo, fazíamos pequenas viagens para o Vale do Paraíba , litoral norte e sul de Minas Gerais . Sempre encontramos conforto e apoio um no outro, e quando estamos viajando não é diferente. Portanto, acho que foi algo muito mais orgânico do que premeditado. O desejo de ambos se tornou um só”, explica Nadine Azevedo, que viaja ao lado do marido dela, Guilherme Gomes. 

Ela é de  São José dos Campos e ele de São Paulo . Antes de iniciarem a vida de viajantes, estavam morando juntos em na capital paulista. Nadine sempre teve um espírito inquieto, um desejo de explorar e conhecer lugares novos, uma vez que já havia feito intercâmbio e vivido fora do país, mas não tinha viajado muito. 

Já Guilherme, sempre fazia viagens curtas com a família ou amigos, com datas definidas de ida e volta. Ele nunca fez intercâmbio e sempre teve uma rotina em São Paulo — cidade a qual ele diz ter pouca identificação, o que o fazia passar o tempo livre em outros destinos.

O desejo de conhecer todos os países do mundo era de Nadine, até que ela compartilhou esse sonho com Guilherme. Ela sempre expressava um desejo forte de viajar, enquanto o parceiro enfrentava uma realidade mais complicada devido à carreira médica. 

No entanto, após uma viagem para o Atacama , no Chile, Nadine disse para o companheiro: “Gui, eu te amo, mas preciso dar a volta ao mundo”. E ele respondeu: “Acho que consigo dar a volta ao mundo”. 

Quando Nadine perguntou quando, ele deu um prazo de três anos para terminar sua residência em cirurgia vascular. Durante esse período, eles planejaram se preparar tanto financeira quanto psicologicamente para a viagem.

Quando os dois decidiram iniciar a jornada de mochileiros e ciclistas, foi “libertador” e parecia ser “a coisa certa a fazer no momento certo”. Guilherme conta que, quando partiu para essa viagem longa, após o primeiro mês, sentiu uma sensação estranha de saudade da rotina. Mas, uma vez que se estabelece uma nova rotina e se envolve mais profundamente com os lugares que está visitando, ele afirma que a sensação passa. O primeiro país da lista deles foi o Chile , na primeira etapa da viagem, e Berlim , na Alemanha, quando estavam com as bicicletas. Nadine brinca que a única coisa que seu pai lhe disse foi: “Eu não faria isso, mas é você, né?”

Viagem de bicicleta pela Europa 

Nadine e Guilherme viajam de bicicleta pela Europa
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Nadine e Guilherme viajam de bicicleta pela Europa

Depois de completar 1 ano viajando, a aventureira queria viajar mais tempo e precisava convencer o parceiro a viajar mais também e de forma econômica. Então, a viagem de bicicleta foi a moeda de troca dela e ele concordou.

A viagem de bicicleta foi inédita para ambos. Eles nunca haviam pedalado por tanto tempo e nem tão longe. Conseguiram completar 3300 km e 13 países em quatro meses de viagem. A lista de perrengues era atualizada diariamente.

“A sensação de liberdade e autonomia de decidir o ritmo e o destino do seu caminho, podendo viajar de maneira 100% sustentável, é indescritível. Além disso, você passa a conhecer pessoas que viajam de maneira semelhante por se encontrar pelas estradas e campings, e isso não tem preço”, compartilha Nadine. 

Ela continua: “O sabor de chegar nos destinos com a força das próprias pernas era completamente outro. Além do próprio encanto que cada destino guarda, há uma sensação de conquista e superação que vicia.” 

Foram poucos momentos que eles precisaram pedalar em estradas de terra. “A Europa tem uma vantagem também de ser um local mais seguro que a América do Sul”, o que os deixava mais tranquilos para fazer acampamento selvagem ou confiar em campings quando precisavam deixar coisas na barraca e ir até o centro da cidade. Como eles, haviam vários. Casais, ciclistas solitários, famílias inteiras com filhos de todas as idades. 

“A oferta de material, rotas e estímulo ao ciclismo em quase toda a totalidade do continente europeu é incomparável com a América do Sul. Preços acessíveis e uma gama enorme de marcas e materiais que cabem em qualquer perfil.” 

O único local que eles sentiram não ser muito “bike friendly” foi a  Croácia com “suas vias sem acostamentos ou ciclofaixas e seus motoristas malucos.” 

A grande viagem

Nadine e Guilherme no Monte Everest
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Nadine e Guilherme no Monte Everest

A viagem de bicicleta sempre esteve nas mentes desses aventureiros. Eles pensaram em começar a “grande viagem”, como chamam, de bicicleta, mas acharam que seriam muitas mudanças de uma vez só, além de haver certos lugares que queriam visitar com calma e estar com a bicicleta seria um pouco custoso e trabalhoso para chegar. 

Eles dizem que é difícil escolher um destino preferido, mas um lugar que marcou a viagem inicial deles foi o Oman, país no Oriente Médio pouco conhecido por aqui. “Indo na época certa, o lugar parece um paraíso, com vales no meio do deserto repletos de cachoeiras e palmeiras de Tâmaras”, afirma Nadine. 

Para Guilherme, o  Nepal foi marcante por tudo o que oferece, desde trilhas pelas montanhas até seu povo, cultura e espiritualidade. 

Já na viagem com as bicicletas, o voto deles pela Eslovênia é consoante. Eles não sabem se foi porque estavam pegando muita chuva nos dias anteriores e lá tiveram sol por vários dias seguidos, ou se foi “pela experiência de descer todo o vale do rio Socha, acompanhando um rio azul como o céu em meio aos Alpes”. De qualquer forma, o retorno ao destino é garantido.

Planejamento 

Nadine e Guilherme viajam de bicicleta pela Europa, mas antes se planejaram por três anos
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Nadine e Guilherme viajam de bicicleta pela Europa, mas antes se planejaram por três anos

O casal começou com um planejamento financeiro, calculando um valor diário de gastos com base em suas viagens anteriores de mochilão. Esse valor foi multiplicado por 365 dias e dividido por 3 anos para determinar o montante que seria necessário economizar.

Eles planejaram não trabalhar durante a viagem, então largaram seus empregos para viver na estrada. Ela, que é farmacêutica, trabalhava com pesquisa clínica em uma das Big Pharma, e ele, que é médico, trabalhava em hospitais públicos e privados como cirurgião vascular.

Além da economia, o casal também encontrou maneiras de melhorar seu rendimento. Venderam itens que não iriam precisar e que iriam desvalorizar, como carro e eletrônicos, e outras coisas que só ocupariam espaço. O dinheiro angariado foi colocado em investimentos que os ajudam a seguir viajando.

Durante a aventura eles optam por hospedagens mais baratas e leem todas as avaliações. Também utilizam ferramentas como Couchsurfing e o Warmshowers — aplicativos que oferecem acomodação gratuita.

Cada um deles escreveu em um papel 10 países que sonhavam visitar e começaram a pensar em uma rota plausível para passar por todos da maneira mais econômica e fácil possível. Outro fator importante era o clima e as chuvas de cada país no período em que estariam visitando.

Com a rota em mãos, procuraram quais países precisavam de vistos e quais tinham qualquer problema social, guerra ou que seria perigoso entrar. Para isso, utilizaram vários sites como o VisaIndex, que mostra a compatibilidade dos passaportes, e sites da embaixada dos Estados Unidos e Alemanha para saber sobre as situações sociopolíticas em cada país.

Eles acreditam que para qualquer tipo e estilo de viagem esses itens são essenciais para saber quais roupas levar, o tipo de mala e qual a realidade que irão encontrar em cada lugar. Para dinheiro, eles têm um cartão internacional (Wise) e para internet pesquisaram qual a melhor opção em cada destino, como comprar o SIM local ou contratar um e-SIM, por exemplo.

Guilherme ainda passou alguns dias dentro de uma loja de conserto de bicicletas aprendendo como fazer a manutenção do transporte. Eles também assistiram a muitos vídeos sobre viajantes, o que eles costumam levar e quais equipamentos são essenciais. 

“É importante ter em mente que estar 100% preparado é impossível, e que os percalços e perrengues fazem parte. Talvez aí esteja a graça e aquela pitada a mais de aventura em tudo isso”, diz Nadine. 

Tempo médio de viagem 

Nadine e Guilherme
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Nadine e Guilherme

A duração da estadia deles em cada país varia bastante e não segue uma regra específica. Isso depende de vários fatores, como a facilidade de locomoção com transporte público, o tamanho do país, o custo diário no local e se eles têm algum projeto ou ideia que requer uma estadia mais longa. 

Em Singapura, por exemplo, eles ficaram apenas um dia, pois é um lugar caro e pequeno, afirmam. No Egito, em contrapartida, ficaram 25 dias, cruzando o país apenas com transporte público. Já no Nepal, ficaram 48 dias porque subiram até o campo base do Everest, e Guilherme trabalhou como voluntário em um hospital local.

Em relação à viagem de bicicleta, eles tinham um prazo para sair da zona Schengen devido ao visto de um deles. Portanto, tiveram que planejar a rota com base nos 90 dias de visto, optando por pedalar em países próximos aos Bálcãs, que facilitavam a saída da zona do visto por um tempo, como Montenegro e Albânia.

Além disso, eles são fluentes em inglês, e é com esse idioma que se comunicaram nos mais de 60 países que já visitaram. Em cada país que vão, aprendem algumas palavras e frases de saudações básicas, e foram poucos países que tiveram mais dificuldade em se comunicar. 

O mais complicado foi a Coreia do Sul, quando saíram da zona de Seoul, já que poucas pessoas conversavam em inglês com eles. “Nesses casos, sempre têm os aplicativos de tradução, e tudo é possível com um pouco de paciência e boa vontade.”

Perrengues 

Nadine e Guilherme já passaram diversos perrengues
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Nadine e Guilherme já passaram diversos perrengues

Eles já passaram por várias situações de perigo e perrengue. Uma situação assustadora ocorreu quando estavam mochilando pelo México. Eles ficaram presos na região da Selva Lacandona, próximo à divisa com a Guatemala, devido a um caminhão de gasolina tombado na estrada. “Esta área é conhecida por ser perigosa, pois é uma fronteira e uma região de tráfico humano e de drogas.” 

Eles tiveram que sair do carro em que estavam, entrar na mata durante a noite com pessoas completamente desconhecidas para poder passar pelo local, encontrar outro carro do outro lado da estrada e seguir viagem. Para completar, na volta, descobriram que estavam em uma van com imigrantes ilegais da Guatemala. “Foi muito assustador, mas, por sorte, nada grave aconteceu.” 

Logo no início, no voo para o Chile, a Latam perdeu as malas deles, e só as devolveu 10 dias depois. Além disso, 15 dias antes de subir o Everest, o Guilherme contraiu dengue no Laos. “A lista de perrengues é grande!”, brincam. 

Saudades

Entre os dois, Guilherme é quem mais sente falta de casa. Ele tinha uma vida social muito ativa no Brasil e amigos muito próximos. A falta da comida brasileira também é grande. Já Nadine sempre lidou melhor com a distância, talvez por ter família fora do Brasil e por ter feito faculdade em Minas Gerais logo aos 18 anos.

Quando a saudade da comida aperta, eles alugam um Airbnb com cozinha e preparam algum prato preferido. E conseguem lidar com a distância mantendo sua página do Instagram , grupos de WhatsApp e fazendo chamadas de vídeo — o que traz todas as pessoas queridas e também novos amigos para perto deles.

Além disso, eles têm a tradição de enviar postais para seus pais de todos os países que visitam. “É muito legal quando eles avisam que chegou e o que acharam do que escrevemos e do postal que escolhemos”. Agora, eles abandonaram o continente europeu e escolheram visitar países da África, onde farão uma viagem de três meses. 

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