Quando o Vitor e eu falamos que iríamos fazer esta viagem, uma semana após o terremoto, fomos questionados se isso não seria uma loucura. O fato é que trabalhando com viagens pelo mundo inteiro, e assim como em vários países, no Marrocos também temos a nossa equipe local, formada por nativos, que nos davam as informações exatas e em tempo real de como tudo estava acontecendo, livres de qualquer sensacionalismo, que é comum na busca por audiência e likes.
Antes de qualquer coisa, precisamos deixar claro que foi uma infeliz coincidência a proximidade da nossa viagem com o terremoto, afinal, ela já estava marcada desde janeiro de 2023.
Então o que verdadeiramente aconteceu? A verdade é que a parte afetada pelo terremoto se concentrou basicamente na área de montanha do Marrocos, e para quem não sabe o país é enorme, com 710.850 km² de extensão, sendo 700 km só de montanha, que vai do norte do Marrocos até a Tunísia.
Portanto, a área que realmente sofreu com o impacto do terremoto foi a Cordilheira do Atlas, a cerca de 70 km de Marrakech, ocasionando a morte de quase 3 mil pessoas que faziam parte dos povos berberes, que moravam na região. E por ter sido exatamente na área de montanhas, lugares como a vizinha Argélia e o extremo norte de Portugal , também sentiram os tremores.
A pergunta que pode surgir é: Marrakech então não foi afetada? Sim. Foi afetada, mas colocando em uma porcentagem de área atingida, podemos dizer que apenas 5% da cidade sofreu com o impacto do terremoto. Já os outros 95%, como já evidenciado acima, foi a região montanhosa.
É importante dizer que o Marrocos recebeu ajuda de vários países neste difícil momento e que as famílias estão sendo assistidas pelo governo. O primeiro passo é que os povos berberes foram retirados desta região de montanha em que moravam, dando início a uma nova vida em Marrakech, tendo cada família, que perdeu sua casa, uma quantia de 14 mil euros (R$ 98.000,00) para construir uma nova e o valor de 300 euros (R$ 2.100,00) mensais para gastos com alimentação.
Roteiro de viagem
Outra dúvida que pode surgir é se foi preciso realizar alguma alteração em nosso roteiro em função do ocorrido, e a resposta é: não! O roteiro que o Franklin e eu fizemos passou pelas “Cidades imperiais de Marrocos”, ou seja, com exceção de Marrakesh, nenhuma outra cidade foi afetada pelo terremoto.
Nossa viagem começou em Casablanca , onde passamos a primeira noite hospedados, apenas para descanso. Nas quatro primeiras noites já tínhamos o jantar incluído nos hotéis, sendo assim, não precisamos nos preocupar em sair para procurar um restaurante para jantar, afinal de contas, em locais como Marrocos - com a culinária bem diferente da nossa - esta é sempre a melhor opção, pois as comidas em hotéis são mais “padronizadas” e acabamos evitando “surpresas indesejadas”.
Pra chegarmos em Casablanca, pegamos um voo do Brasil para Portugal (Lisboa), e na sequência, para Casablanca, com apenas 1 hora e meia de duração. A primeira impressão que tivemos de Marrocos, ao chegarmos em Casablanca, foi de um país muito bem estruturado (se formos comparar à cidade do Cairo, no Egito , por exemplo), mas isso porque a cidade traz um legado colonial francês em sua arquitetura muito grande, com uma mistura de estilo mouro e art déco europeia.
Por falar em francês, desde a chegada na imigração do aeroporto, ouvimos e vimos muitas placas informativas em francês, mesmo sendo o árabe, o idioma oficial do país.
Voltando a falar de Casablanca, ela é considerada a capital administrativa do país, com uma aérea de 19.448 km e quase 9 milhões de habitantes, o que faz dela a cidade com maior densidade populacional (cerca de 26% de todo Marrocos).
Em nosso segundo dia de viagem, logo pela manhã, saímos sentido à cidade de ChefChouen, conhecida como "Cidade Azul", localizada a 340km de distância. A viagem, via terrestre, levou cerca de 5 horas de duração, com paradas na estrada para almoço, inclusive.
Fizemos um passeio a pé pelas ruas da cidade, onde cada cantinho era uma parada para foto. O local parecia uma verdadeira pintura, de tão lindo. Por lá, passamos uma noite hospedados, e então seguimos viagem para a cidade de Fes, localizada no Nordeste do Marrocos, fundada em 789, e conhecida também como capital cultural do país.
Lá tivemos oportunidade de conhecer sua famosa Medina, considerada uma das cidades históricas mais extensas e melhor conservadas do mundo árabe-muçulmano. O local conserva a maior parte de seus atributos originais, e não só representa um património arquitetônico, arqueológico e urbano incríveis, mas também transmite um estilo de vida e uma cultura que persistem e se renovam apesar dos diversos efeitos da evolução das sociedades modernas.
Além disso também conhecemos a Universidade Al Quaraouiyine, a mais antiga universidade do mundo ainda em funcionamento, criada em 859, e o palácio real de Fes.
Na cidade de Fes passamos duas noites hospedados, quando finalmente seguimos viagem para a cidade de Marrakesh, onde percorreremos cerca de 533km de distância, em quase 6 horas de viagem, via terrestre.
No caminho, demos uma parada na cidade de Rabat, que é a capital do Marrocos, e a segunda maior cidade do país, com cerca de 1,9 milhões de habitantes, e que está localizada na costa do Atlântico.
A cidade tornou-se cidade imperial em 1660 e foi a capital do Protetorado Francês em Marrocos entre 1912 e 1956 (inclusive este foi o principal motivo de ainda se falar francês por aqui).
Um protetorado é um território ou país que, no direito internacional, possui certos atributos de Estado independente, porém, sob outros aspectos, está subordinado a uma potência que decide sua política externa e tem a obrigação de o proteger e, às vezes, controlar internamente seu governo, seu judiciário e suas instituições financeiras.
Chegando em Marrakesh, percebemos poucos locais turísticos afetados, como foi o caso do minarete da pequena Mesquita Kharboush, localizada na esquina da famosa Praça Jemaa el-Fna. A verdade é que as construções destruídas eram muito antigas, datadas do século Xll, com alicerce e paredes precários, feitos de areia, argila e pedras.
Depois vimos algumas poucas construções com leves rachaduras, devido ao ocorrido, como a Mesquita Koutoubia, que acabou sendo divulgada por muitos veículos como algo totalmente destruído.
A praça Jama também foi incansavelmente divulgada como sendo um dos pontos bastante afetados, mas como já falamos, apenas a Mesquita Kharboush, localizada na esquina da praça, é que sofreu, de verdade, as consequências do terremoto. Então, o que podemos dizer aqui por Marrakesh, é que a vida - e o turismo - seguem completamente normais.
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