Acervo pessoal
"Viajar para mim é terapia", afirma a pedagoga Benise Souto


A idade pode ser um fator decisivo para que muitas pessoas deixem de viajar, seja por medo das complicações ou porque um determinado lugar é muito longe. No entanto, a pedagoga Benise Souto, 60, é prova de que não tem idade certa para começar a conhecer o mundo. Grande parte de suas  viagens internacionais foram feitas após os 50 anos, sempre acompanhada dos filhos ou sobrinhos.

De acordo com ela, começar a viajar a partir dessa idade tornou as experiências mais gratificantes. “Lembro de uma vez em que fui para  Bonito  (MS) e vi pessoas com mais de 50 anos com medo de não conseguirem fazer os passeios. Mas comigo não tem isso, eu me meto em qualquer história, sou um pouco fora da rota. Eu gosto muito de aventuras”, diz ao iG Turismo.

Esse desejo de conhecer novos lugares e sempre buscar pelo diferente é um ponto marcante em sua vida. A pedagoga brinca que sempre viveu uma vida nômade. Benise nasceu em Belém, mas já viveu em Macapá, Rio de Janeiro, Brasília e em cidades do interior de São Paulo, como Itapetininga, Sorocaba e Salto, onde vive atualmente.

“Eu sempre gostei de conhecer novos lugares, outros costumes e gastronomia”, afirma. Benise explica que se casou com Paulo, que faleceu em decorrência de um câncer, quando era muito nova, e logo teve os três filhos: Fhoutine, Álvaro e Pauline. Nessa época, as viagens eram feitas em destinos mais próximos, como praias e cidades interioranas.


Depois que os filhos cresceram e começaram a ingressar ou se formar na faculdade, Benise e Paulo combinaram de viajar pelo menos duas vezes ao ano. “A gente tinha planos de envelhecer conhecendo o mundo”, diz. O casal conseguiu fazer duas viagens internacionais: uma para a Ilha de Margarita, na Venezuela, e dividiram 15 dias entre Paris e Londres . Poucos meses antes do 50º aniversário de Benise, Paulo faleceu.

Foi cerca de dois anos depois disso que as viagens com os filhos começaram. Ao viajar, Benise reacendeu o desejo de sair explorando por aí. Com isso, as companhias da pedagoga se revezam de acordo com a disponibilidade dos filhos. “Sempre tentamos conciliar as agendas para viajar juntos, mas às vezes vou com dois, às vezes com um só. Já eu não tenho esse problema de agenda. Para mim, qualquer hora é hora”, diz a pedagoga.

Com cada filho, uma viagem diferente

Benise explica que cada um de seus três filhos têm personalidades turísticas distintas. Álvaro, que é com quem ela mais consegue viajar, é o mais organizado. “Eu brinco que ele é meu concierge, porque é ele quem faz os planos e os roteiros. Ele faz levantamentos do que tem em cada cidade, desde passeios até restaurantes, e quanto tempo vamos ficar em cada lugar”, explica.

Com Álvaro, o passeio é como se fosse um mochilão. Os dois passam o dia inteiro batendo perna e conhecendo o máximo que conseguem de cada destino. Benise diz que passam, em média, 12 horas andando. “No hotel a gente cai na cama, já dorme e se prepara para acordar no outro dia bem cedo para começar tudo de novo”.

O que não pode faltar no passeio dele são museus e estádios de futebol, esporte pelo qual ele é fanático. “Essa é sempre a primeira coisa que ele faz, onde quer que ele chegue. Juntos, já fomos no Boca Juniors, no Real Madrid, Benfica de Portugal e Barcelona”, diz.

Fhoutine é a filha mais ligada em arte, cultura e destinos históricos. Os museus também estão sempre presentes nas programações dela. “Ela é muito ligada em música, então vai atrás de lugares que são referenciados nelas”.

Poesia é uma paixão que as duas compartilham, tanto que as duas visitaram juntas La Chascona, a La Sebastiana e a Isla Negra, as casas de Pablo Neruda no Chile, que hoje são museus dedicados ao poeta. “Esse passeio é apaixonante. Dá para ouvir a voz dele em diversos trechos, parece que estamos próximos dele”, conta.

“Já a Pauline gosta das coisas mais prazerosas. Ela viaja para ficar de boa”, diz Benise. Apesar de também gostar de roteiros culturais, ela prioriza praias, bons restaurantes e atrações teatrais. “Às vezes temos alguma coisa programada e ela pode cancelar para poder passar mais tempo na areia”, afirma.

A mudança de programação não aborrece, isso porque Benise se diz sempre muito flexível. “Cada um tem mais as suas preferências, mas eu gosto de xeretar tudo. É muito difícil eu recusar fazer um passeio. Eu não tive essa oportunidade de viajar enquanto jovem, então vou aproveitando agora”, diz.

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Aventura em primeiro lugar

Quando Benise diz que topa qualquer parada, ela fala sério. Ela se lembra de uma vez em que, em uma viagem para a Disney World, em Anaheim, Califórnia , ela topou dar uma volta na Mickey's Fun Wheel, a roda gigante no píer do parque Disney California Adventure Park . Além de ter 48 metros de altura, algumas das cabines se movimentam como em uma montanha russa. “Nossa, eu só conseguia pensar: 'Que diacho eu estou fazendo aqui?'. Aquilo ali é muito rápido, é apavorante”, explica aos risos, afirmando em seguida que foi uma boa experiência.

Nem mesmo uma conjuntivite a impediu de viajar. Ela contraiu a doença dias antes de ir para o Peru. “Imagine a gente com mil programações e toda hora eu precisava parar para colocar água gelada nos olhos com um algodão”. Isso não só não a desencorajou como a pedagoga fez todos os passeios programados. “E ainda subi toda aquela escadaria de Machu Picchu”, diz.


Das histórias cômicas, ela se lembra de quando estava em Moscou e quase se perdeu do filho no metrô. O motivo: estava admirada com a arquitetura e as obras de arte que estavam na estação.

“O metrô não tem instruções em inglês, é tudo em cirílico, e lá tudo é majestoso. De tanto admirar, Álvaro continuou o passeio e eu fiquei, até que ele voltou e pediu para que eu, por favor, não desgrudasse dele, se não ele não me encontraria nunca mais”, lembra a pedagoga.

No Chile, ela conta aos risos uma experiência “assustadora” que teve com Fhoutine e uma amiga no Chile. Quando as duas estavam em Viña Del Mar, a filha disse que precisava levá-la a um ponto turístico que lhe foi recomendado. Ela começa, então, a guiar a mãe e a amiga por alguns becos. Passaram 30 minutos andando.

“Eu olhava para a minha amiga e ela olhava para mim, as duas morrendo de medo, e a Fhoutine desfilando na frente, cumprimentando todo mundo”, diz. Fhoutine estava levando as duas até Veñaca, uma praia que possui uma faixa de pedras e recebe leões marinhos para tomar sol.

“Vem um monte deles! É muito bonito vê-los brincando, parecem crianças ao mesmo tempo que parecem família. É uma coisa muito diferente de se ver. Sem contar que o pôr-do-sol no mar é lindo”. Os sustos e o suspense, no fim, valeram a pena.

Destino surpreendente e culinária irresistível

Uma das viagens que mais a surpreendeu foi visitar a Tailândia , Camboja e Laos, destino sugerido por Álvaro. “Assim como eu, ele gosta de ver coisas e  lugares diferentes”, diz. Os dois passaram duas semanas se dividindo entre esses países.

A viagem começou em Bangkok, onde passearam por vilarejos e ilhas, chegando a fazer uma travessia no Oceano Índico. “É realmente um destino paradisíaco. A gente não tem ideia, mas quando chega lá a gente se encanta”, diz.

Tanto quanto os cenários e as experiências que viveu, a Tailândia ficou marcada para Benise também pela gastronomia. “Gosto muito de pratos que vêm do mar. Lá, eu comi coisas que não sei nem como se chamam, à base de marisco”, afirma.

As más experiências gastronômicas praticamente não existem, exceto pela comida da Inglaterra. “Parece que eles só comem batatas”, diz, em tom de indignação. Ela até tentou experimentar a fish and chips, o peixe enrolado em jornal acompanhado de batatas fritas, e o feijão, que achou muito doce. “Achei uma comida muito sem graça”, afirma.

Metas até os 70 anos

Para marcar o seu aniversário de 60 anos, Benise planejou três viagens. Ela estava preparada para conhecer a Grécia , e passaria por Mykonos, Santorini, Atenas e aproveitaria para passar pela Ilha de Creta e, depois, para a Capadócia para fazer o famoso passeio de balão . Infelizmente, seus planos precisaram ser adiados devido à pandemia do novo coronavírus.

Com a viagem adiada, ela decidiu fazer uma lista de lugares para visitar até os 70 anos. “Não é que eu vou parar de viajar depois disso, mas devo começar a priorizar locais mais próximos para não me desgastar tanto”, diz.

Entre os locais de sua lista estão, além da Grécia e da Capadócia, o Japão, a praia de Sardenha, ilha cor-de-rosa do Mar Mediterrâneo e um retorno à Noruega para conseguir ver uma aurora boreal. Benise explica que listou ao menos 10 lugares, um para cada ano.

“Viajar para mim é uma terapia. Quando eu viajo eu esqueço do mundo, quero sempre experimentar o melhor de cada lugar. Sempre que eu estou com meus filhos é muito especial para mim. A gente aprende a ter mais tolerância, a ser compreensivo, a ficar próximo e curtir as coisas boas. Sempre aproveito cada segundo, diz.

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