O navio que realiza passeios turísticos pelo rio Tietê nasceu de um sonho de infância do jornalista Carlos Nascimento, ex-âncora de telejornais do SBT e Globo. A embarcação fluvial foi construída pela empresa Transtietê Navegação e Transporte, que também tem à frente Nascimento. O Homero Krähenbühl foi feito no Estaleiro Igaraçu, em Igaraçu do Tietê e demorou onze anos e três meses para ser concluído.
Ele e seu amigo, Homero Pincke Krähenbuhl, que dá nome ao barco, tinham um sonho de construírem um navio que levasse turistas à navegarem pelo rio Tietê, um dos principais do estado de São paulo. Porém, com a morte de Krähenbuhl, em 1991, Carlos precisou seguir sozinho com esse desejo.
O turista que estiver no navio, ao mesmo tempo que irá apreciar a experiência e observar as belas paisagens, também faz um percurso pela vida de Nascimento, pois todo o trajeto é baseado na trajetória de vida do jornalista, com origem em Dois Córregos, município banhado pelos rios Tietê, Piracicaba, Turvo e Jacaré-Pepira, onde a poluição não causou grande estragos como na cidade de São Paulo.
Em entrevista ao iG Turismo, o jornalista diz que vai sempre a esses rios desde muito pequeno e, por isso, decidiu usar o rio Tietê como passeio turístico. “Conheci o Tietê ainda no comecinho dos anos de 1960. Um lugar chamado Quebra Pote, perto de Barra Bonita. Fora isso é a única hidrovia que temos no estado de São Paulo. Barra Bonita é a cidade que tem a melhor estrutura para navegação fluvial de passageiros. Aliás, a única no centro paulista”.
Ele transformou a paixão em realidade e conta que desde sempre também conseguiu conciliar o jornalismo com os rios. "Comecei a trabalhar em jornal em 1971, aos 16 anos, e meus primeiros salários foram usados para comprar dois botes de madeira e um motor de popa Mercury 3,6 HP", completa.
Ele também enfatiza sobre a qualidade da água, que é navegável e possibilita proporcionar um bom passeio aos turistas. Nascimento destaca que o Tietê em Barra Bonita é relativamente limpo, salvo problemas com algas, aguapé e a falta de cuidado das populações ribeirinhas com o lixo, mas nada grave.
"A SOS Mata Atlântica faz o acompanhamento anual da qualidade da água que no ponto em que estamos, a 300 km de São Paulo e a jusante, ou seja, abaixo da Usina Hidrelétrica de Barra Bonita, é considerada de regular a boa”.
O navio
A construção conta com dois conveses e 47 m de comprimento. Além de ainda ter dois grandes salões internos, terraço, três bares e dois restaurantes. Os motores de propulsão são dois Scania 400 HP e o conjunto gerador usa 3 motores MWM. Comporta quase 17 mil litros de combustível e conta com câmaras frias no porão e elevador para portadores de necessidades especiais, idosos e gestantes.
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Carlos comenta que o navio Homero foi projetado e licenciado para 550 pessoas, “mas em nome do conforto, espaço e bem-estar a bordo esse número foi reduzido e classificado para 350 pessoas”.
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Trajeto turístico
A embarcação fica ancorada no Píer 37, na margem do Tietê, em Barra Bonita. No site, há um resumo que explica que o turista navegará por um trecho de 54 km de água limpa do rio Tietê, a jusante da barragem de Barra Bonita, em direção ao Porto Intermodal de Pederneiras, no qual se concentra o transporte de grãos por rodovia, ferrovia e hidrovia.
O rio atravessa uma área de mata ciliar reflorestada, bastante próxima do Tietê original. É possível avistar na margem esquerda a sede da fazenda Porto. Não há registro na história, mas, segundo a narrativa popular, o Imperador Pedro II hospedou-se nesta casa. Também está no roteiro, na margem direita, à distância, a vista do local em que segundo a Igreja Católica deu-se o mais importante milagre de Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro.
"O navio passará debaixo da ponte ferroviária entre Jaú e Pederneiras e retornará ao atingir o Porto Intermodal, onde se concentram as barcaças graneleiras. Por ali circula uma grande parte da produção agrícola brasileira. A soja vem de São Simão, no rio Paranaíba, em Goiás, e segue por ferrovia até o Porto de Santos”, explica ele.
A viagem tem apresentação de música ao vivo e um cardápio criado pela chef Nina Costa, com várias opções de entrada, almoço e sobremesa, que já são inclusos na compra da reserva. Apenas as porções e bebidas são cobradas à parte.
No convés superior, o ambiente é mais reservado e os passageiros assistem ao show pelo telão e ouvem a banda nos alto-falantes do barco, caso não queriam ficar no convés principal, que é mais agitado, sendo até possível dançar no local.
"Eu viajei muito por rios da Europa e Estados Unidos. Visitei companhias de River Cruises como a Brandner Schiffahrt e a DDSG na Áustria e a Hornblower em Nova York. Queria oferecer aqui um serviço parecido. É o que estamos fazendo. O Tietê nada deve ao Mississipi, por exemplo, como via navegável. Corta boa parte do interior paulista e o usamos pouco e mal, sendo que ele pode proporcionar bons cruzeiros fluviais".
A reserva para adultos custa R$ 280, enquanto que crianças até 12 anos pagam R$ 140 e até 2 anos é grátis.