Aos 18 anos, a artista nômade Paloma Cores decidiu que iria trancar a faculdade e viajar pelo mundo. Na época, estudava Arquitetura e Urbanismo em Juiz de Fora, Minas Gerais, e deu o pontapé inicial em 2014, quando teve a oportunidade de realizar um curso particular de bioconstrução na Amazônia e obteve contato com uma experiência completamente diferente. O curso era de apenas uma semana, mas como a faculdade estava em greve ela ficou durante um mês.
Paloma conta que o nomadismo surgiu de uma maneira inesperada. “Eu nunca pensei que eu fosse virar nômade, não planejei. Eu nunca tinha saído da minha cidade, nem viajado de avião. Quando eu cheguei na Amazônia, vivi uma outra realidade que eu nunca imaginei. Tanto num cenário físico mesmo, de outro ambiente, de outra cultura, quanto de outras possibilidades de viver a vida. Eu conheci pessoas de outros países, pessoas viajantes, que decidiram ir morar na Amazônia depois de muito viajar”, diz.
Ao retornar para Minas, percebeu que a antiga vida não fazia mais sentido. No ano seguinte, em 2015, já que a faculdade ainda estava em greve, ela resolveu que iria realizar um mochilão pela Colômbia com uma amiga. “Quando eu voltei para minha cidade, não conseguia me ver mais lá. Sempre tive uma dúvida se fazia arquitetura ou se circo porque quando criança eu estudei em uma escola que tinha aulas circenses e era algo que eu gostava muito. Quando eu fui para a Amazônia, vi que eu poderia ter o circo e a arquitetura no mesmo lugar, que eu não precisava escolher um ou outro. Eu realmente vi as infinitas possibilidades que tinha na vida”, revela.
Depois de economizar cerca de R$ 3 mil, ela partiu para a Colômbia, passando por cidades como Medellín, Bogotá, Cartagena, Santa Marta e Letícia. Para conseguir se estabelecer na viagem, fez voluntariado, couchsurfing e apresentações circenses e com tecido acrobático. “Onde eu ia pendurava o tecido e conhecia pessoas que viviam de arte e faziam apresentações de rua. Eu comecei a ver que também conseguiria fazer isso. Nessa época, a faculdade já tinha voltado, mas eu decidi que não iria voltar mais, queria continuar vivendo essa experiência, foi algo muito fluido, algo que foi acontecendo”, explica.
Após o mochilão, que durou um mês, Paloma não voltou para Minas. Dessa forma, foi direto para a Amazônia, por meio de um percurso de barco. Foram quatro dias na embarcação até Manaus, e mais dois dias de volta a Alter do Chão, em Santarém. “Fazer essa viagem de navio pelo Rio Amazonas, conhecer a cultura local, e me desconectar, porque era realmente uma viagem sem sinal telefônico, me fez conectar bastante com as pessoas do barco”, comenta.
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A artista afirma que não foi fácil no início, principalmente porque a família demorou para compreender a sua escolha. “Meus pais e meus amigos estavam preocupados, eles queriam que eu voltasse para a faculdade, não sabiam o que eu faria da vida, como eu me bancaria. Era difícil lidar com isso porque eu sabia, nem tinha essas respostas, ainda estava me descobrindo. Então, nesse momento, eu tive de me afastar um pouco da minha família porque nenhum de nós sabia como lidar com a situação. Fiquei sem me comunicar com eles por alguns meses, me comunicava uma vez por semana, falava que estava tudo bem, mas eu ainda estava me descobrindo”, pontua.
Neste momento, os pais de Paloma foram visitar a filha, a fim de entender do que se tratava o estilo de vida adotado por ela. “Quando eles chegaram em Alter do Chão, viram que eu estava bem e feliz, que eu não tinha deixado de estudar. E viram que eu estava conseguindo me bancar financeiramente, na época com as artes mesmo, mas também trabalhei com bioconstrução e permacultura em uma comunidade. E eles ficaram mais tranquilos. Hoje, sete anos depois, eles me aceitam, amam o que eu faço, me admiram, me visitam, e eu visito eles pelo menos uma vez por ano. A gente se encontra, se fala sempre por telefone, e temos uma relação muito mais próxima do que antes de eu começar a viajar”, destaca.
Sobre as maiores dificuldades enfrentadas, Paloma aponta para as questões financeiras. Quando começou a viajar, ela ainda não sabia como se sustentar com o trabalho de artista e não desejava se prender a nenhum emprego considerado usual. “Eu queria viver das coisas que eu acredito, não queria me entregar para um um trabalho convencional que não fizesse sentido para mim. Então, busquei viver de arte desde sempre. É desafiador realmente viver de arte, aprender a colocar o nosso próprio negócio no mundo, sendo que a gente ainda nem sabe qual é o nosso negócio. Hoje eu já tenho mais clareza sobre isso, mas na época não, então eu experimentei de tudo. Eu trabalhei com circo de rua, fazendo malabares no semáforo, espetáculos nas praças, em festas, eventos, trabalhei com turismo, com bioconstrução, tatuagem”, enumera.
Paloma diz que nunca passou fome ou ficou sem lugar para dormir, mas que por diversas vezes teve dificuldades devido à saúde mental. “Quando a gente é dono da nossa própria empresa tem que se bancar psicologicamente também para que a empresa funcione. Em momentos que eu não estive tão bem psicologicamente, não estive bem financeiramente também. Consequentemente, tive dificuldade para encontrar um lugar para dormir, de ter lugar pra comer. Mas sempre encontrei pessoas incríveis ao longo do caminho que me ajudaram e isso foi a parte rica do momento desafiador. De ver que mesmo eu estando passando pelos perrengues, sempre consegui passar tranquilamente porque eu tinha pessoas ao meu redor que me ajudaram”, esclarece.
A artista já passou pela Colômbia, Peru, Pará, Jericoacoara, Pipa, Canoa Quebrada, Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis. No entanto, viajar sozinha não é um problema para ela. “Eu não consigo dizer que viajo sozinha porque sempre estou com alguém, acompanhada com uma pessoa que eu conheço durante a viagem. Mesmo nas vezes em que eu peguei um ônibus sozinha, conheci pessoas durante o caminho e nunca me senti solitária. Estou sempre acompanhada de pessoas muito queridas. Sempre peço muita proteção ao universo, peço que cheguem pessoas de bem, que cheguem pessoas positivas, que cheguem pessoas que ressoem com as coisas que eu acredito, e com essa confiança sempre chegam pessoas e assim vou seguindo o meu caminho”, finaliza.