Em mais um dia de inverno que deu praia no Rio de Janeiro, com termômetros ultrapassando os 30 graus, nesta quinta-feira, os cariocas se depararam com uma novidade no Leblon, na altura do mirante: uma nova faixa de areia mudou completamente o cenário onde antes só havia rochas e mar.
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Uma "nova praia" atraiu pessoas em busca de um bronze mais reservado e, também, atletas de slackline, que viram ali o local perfeito para a prática do esporte radical.
“Pratico slackline há 1 ano e 4 meses, e foi uma surpresa. Eu nunca tinha visto isso acontecer antes. O pessoal me disse que é um fenômeno raro, que tinha tempo que não viam, conta Erika Sedlacek de Almeida, 27 anos, uma das atletas do grupo que aproveitava a nova paisagem.
“Nós ficamos muito felizes. Há dois anos, quando nosso grupo começou, aqui estava com areia. E agora, todo esse tempo depois, voltamos a ver areia por aqui de novo. Uma praia particular, só para a gente praticamente”, comemora Caio Henrique Matos, 24 anos, também atleta de slackline.
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Como a ‘nova praia’ surgiu?
O fenômeno de fato é raro. E, de acordo com o professor do curso de oceanografia da Universidade Estadual do Rio (Uerj) David Zee, é um alerta, fruto da mudança climática, consequência do aquecimento global . Ele afirma, através de sua tese, que o padrão de entrada dos ventos que carregam as frentes frias durante o inverno no Rio estão mudando, e, com isto, a paisagem muda também.
“O padrão de entrada das frentes frias mudou. Antes vinham ao longo do continente, e agora pelo mar. Além de alterar a intensidade das ressacas, este vento está entrando em sul e sudeste, e não mais em sudoeste. Essa areia conseguiu passar pelas pedras e foi jogada exatamente em cima delas, formando essa nova faixa de areia”, explica.
Ele diz que o fenômeno aconteceu por meio das grandes ressacas que se formaram na orla do Rio nas últimas semanas. Zee alerta que as autoridades devem estar atentas para estas mudanças do perfil meteorológico, e diz que, nas próximas ressacas que estão por vir, pode acontecer, inclusive, do mar chegar à Avenida Atlântica, em Copacabana. A tendência, de acordo com o professor, é que a "nova praia" do Leblon se amplie ainda mais, antes de desaparecer.
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“Pode destruir parte do calçadão, dependendo da intensidade. Essa praia (no Leblon) vai ficar ainda mais cheia de areia. Na Barra, a nova direção do vento já fez o mar atingir e derrubar a ciclovia, próximo ao Corpo de Bombeiros”, exemplifica.
Segundo ele, as autoridades competentes precisam olhar com mais seriedade para essas mudanças. “Elas já nos avisam que o Rio está muito exposto a estas ressacas. A começar pela Ciclovia Tim Maia que caiu três vezes. Depois, a própria Niemeyer, que foi interditada. Daqui a pouco é interdição da Avenida Atlântica e da Vieira Souto, e aí a cidade vai funcionar como?”, diz.
“É preciso ter um plano de contingência, de prevenção, chamar quem entende para começar a participar do gabinete de gestão de risco. Não adianta depois que acontecer um acidente, todos se reunirem no Centro de Operações, como já aconteceu”, completa.
O professor revelou ainda que esta mudança no perfil climático também foi o que causou o encolhimento da faixa de areia de Copacabana, na altura do Posto 5, na semana passada.
“Ali no Posto 5 de Copacabana, também é uma área exposta a essas mudanças. Ela é voltada para sul e sudeste. Leblon e Ipanema, é uma área voltada mais para leste e oeste. Então, acontece um efeito inverso nessas duas praias: onde numa aparece uma faixa de areia que não existia, em outra, encolhe a que já existe”, explica e conclui.