Arquitetura do Museu Nacional do Catar é inspirado em um grão de sal do deserto
Felipe Carvalho
Arquitetura do Museu Nacional do Catar é inspirado em um grão de sal do deserto

O Catar, antes um país quase desconhecido localizado no Oriente Médio, ficou famoso como a sede da Copa do Mundo de 2022, e chamou a atenção pela cultura árabe que é tão fluida em um país relativamente jovem. O iG Turismo foi até a cidade de Doha , a capital da nação, para relatar um pouco mais da experiência de estar em um país com uma  cultura completamente diferente do que se vê por aqui.

Para começar, o Catar é muito pequeno, se comparado à imensidão do Brasil. Ele tem uma área de apenas 11.571 km² e, o equivalente a praticamente a metade do estado de Sergipe, o menor entre os estados brasileiros. A população de lá também tem uma peculiaridade interessante: 90% das pessoas que habitam o território são estrangeiros, pessoas vindas de diversos lugares do mundo (principalmente da Índia) em busca das riquezas do petróleo, e somente 10% realmente nasceram ali.

O Catar esteve em grandes batalhas e, após a Segunda Guerra Mundial, passou a ser protetorado pelo governo britânico em 1916, conquistando sua independência somente em 1971, tornando-se assim um Estado Soberano. A economia deste lugar é, em grande parte, voltada para a exportação de petróleo e gás natural.

Às margens da cidade de Doha é possível ver os pequenos barcos de madeira, chamados de dhows, que eram usados na colheita de pérolas. Antes de toda a riqueza vista às margens do Golfo Pérsico, principalmente pelos prédios gigantes do Skyline catari, o Catar era um país pobre e 95% dos homens eram pescadores de pérolas.

Cultura milenar

O Catar ainda é um país jovem e tem um pouco mais de 50 anos desde sua independência, mas a cultura local é milenar, herdada principalmente de seus antepassados árabes que habitam a região desde o grande império otomano. Um dos principais pontos turísticos de Doha é o Katara Cultural Village , um centro cultural com vários restaurantes, teatro, lojas e duas mesquitas.

Os corredores deste lugar são feitos de pedras de mármore, enquanto que o teto é forrado com palhas trançadas, tudo isso para trazer mais frescor aos visitantes, já que trata-se de um país que foi construído em um deserto. Além disso, no meio do Katara, é possível encontrar o palco de um grande anfiteatro, com capacidade para 5 mil pessoas, tudo feito de mármore em estilo de anfiteatro grego, que é usado para eventos, shows, apresentações culturais e até encontros políticos.

Neste lugar é possível encontrar uma rica gastronomia com restaurantes, cafés, sorveterias e docerias. Somado a ele também tem um teatro, chamado de Drama Theatre, que tem capacidade para 430 pessoas e é inspirado na arquitetura tradicional dos prédios de Doha.

Os estrangeiros não muçulmanos que têm curiosidade de conhecer um pouco mais sobre a cultura deles podem visitar a Mesquita Azul , uma das grandes atrações do Katara. Na entrada da mesquita, há funcionários e pregadores do Qatar Guest Center para apresentar o Islã à Eid Charity Foundation. Eles recebem não muçulmanos e respondem perguntas e dúvidas sobre a mesquita. Eles também organizam a entrada dos turistas na mesquita após as orações para que as pessoas conheçam a atmosfera interna de uma mesquita.

Uma curiosidade bem peculiar do Catar é que, por ser uma região muito quente, que pode atingir até 50°C sem muita dificuldade nos dias mais quentes do ano (entre março e outubro), o Katara tem um sistema de ar condicionado que vem do chão (veja no vídeo). Em diversos locais do centro cultural o turista pode ser surpreendido com um ar gelado subindo pelas pernas e que deixa o corpo mais fresco.

A estação de metrô mais próxima é a Katara (linha vermelha), que fica a menos de 5 minutos de caminhada.

Museus

Ainda falando sobre cultura, o Catar tem uma grande preocupação de preservar tudo o que é possível de sua riqueza material e imaterial. A cidade de Doha tem dois grandes museus e o primeiro deles é o Museu da Arte Islâmica (MIA) , cuja arquitetura encanta os olhos de quem trafega pela Corniche, uma avenida à beira-mar construída por meio de um aterramento do mar para dar mais espaço para os carros e pessoas circularem.

O projeto arquitetônico é do chinês Ieoh Ming Pei , o mesmo que desenhou a Pirâmide do Louvre em Paris, que estudou muito sobre a cultura islâmica e considerava que sua maior obra era este museu de Doha. A parte interna é formada por exposições permanentes, com peças do mundo islâmico, do Oriente Médio a África, Europa e Ásia, incluindo joias, tapeçarias e parte da coleção particular da família al Thani, a mesma que governa atualmente o país.

O preço para entrar no MIA é 50 rials por pessoa, algo em torno de R$ 72, mas o visitante pode adquirir o Museum Pass (100 rials), uma espécie de cartão que te dá direito a entrar em todos os museus e centros turísticos pagos por apenas um valor durante três dias. As carteirinhas de estudantes brasileiras são aceitas para pagar meia entrada também.  

Para chegar lá, a estação mais próxima é a Souq Waqif (linha ouro), mas é preciso caminhar cerca de 20 minutos a pé até o museu. Se o dia estiver muito quente, opte por um táxi ou Uber.

O segundo museu é o Museu Nacional do Catar , que tem uma arquitetura inspirada no cristal rosa do deserto, que pode ser encontrado no país. O projeto é do arquiteto Jean Nouvel e foi inaugurado em março de 2019, com o objetivo de “dar voz ao patrimônio do país ao passo que celebra seu futuro”. O local tem 21 mil m² de galerias de exposições permanentes e temporárias, um auditório para 220 pessoas, um fórum de 70 lugares, um centro de pesquisa de patrimônio e laboratórios de conservação. A parte interna ainda tem algumas áreas em finalização e outros espaços que estão sendo modelados, como a área de cafés, restaurante e loja.

Quem não quer desembolsar os 50 rials para ver a exposição do museu pode curtir a parte externa sem pagar nada, o que já garante boas fotos para guardar de recordação. Um dos aspectos mais importantes no processo de projeto do museu é o desejo de fazer com que o visitante se sinta imerso no deserto e no mar. O iG Turismo conseguiu conhecer a exposição do Majlis , uma espécie de cabana rústica antiga, incluído na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco (ICH) como “um espaço cultural e social”, e que representa onde as pessoas se reúnem para discutir eventos e questões locais, socializar e aprofundar sua conexão umas com as outras (veja no vídeo).

Este museu está bem pertinho da estação de metrô Souq Waqif (linha ouro), que terá uma saída dentro das dependências dele. Por enquanto, é preciso andar até a entrada mais próxima que fica a 7 minutos de caminhada. Para quem vai de carro, o local disponibiliza carrinhos de golfe que levam os visitantes até seus veículos dentro do estacionamento.

Mercado

Doha tem uma avenida bem gigante chamada de Corniche, à beira do Golfo, em que é possível deslumbrar de paisagens lindas, mas caminhar pelas ruas da cidade fora do inverno pode ser um tanto desconfortável. É importante ter em mente que o ideal é visitar os pontos turísticos que tenham teto para não passar mal. Pouca gente se arrisca a caminhar grandes distâncias debaixo do sol, então o melhor é circular sempre de metrô ou de carro até os pontos turísticos.

O Souq Waqif é o mais famoso entre os mercados e todas as emissoras de TV do mundo estavam ali durante a Copa do Mundo. O local é muito antigo, tem mais de 100 anos, e era o local onde os comerciantes negociavam animais e tecidos. Na época, a água chegava até ali bem perto, e todo mundo sempre ficava em pé à espera da maré subir. Aliás, a palavra “souq” significa “mercado” em árabe, enquanto que “waqif” se traduz como “em pé”. Por isso o nome do mercado.

Em 2003, um grande incêndio consumiu o que restava do antigo centro comercial e tudo ficou praticamente em ruínas. Três anos mais tarde, ele começou a ser reconstruído e finalizado em 2008. Alguns turistas brasileiros que passam por ali comparam a arquitetura a um grande cenário de novela antiga porque lembra o desenho clássico de mercados antigos, como pode ser visto em filmes como “Aladdin”, mas é nítido o quão recente a construção é.

Lá dentro, é possível encontrar mercadorias de todos os tipos: comida, tapeçaria, especiarias, souvenir, artesanato, roupas e até pássaros à venda. O povo catari é especialmente amante de pássaros então pode-se encontrar aves de todos os tipos, desde pequenos falcões que são domesticados e criados dentro de casa, a outros tipos coloridos como vemos no Brasil, como as calopsitas (veja a galeria de fotos) e até pombos. Por mais estranho que seja para brasileiros, eles criam esta ave. Inclusive, no Katara Cultural Village existe um famoso “pombal”, de cerca de 10 metros de altura, em que os animais moram e os funcionários recolhem o excremento para usar na agricultura.

Porto e aeroporto

O aeroporto catari ( Aeroporto Internacional de Hamad ) é conhecido como o mais luxuoso do mundo e serve de conexão com diversos voos que circulam pela região do Oriente Médio e da Ásia. Os turistas que optam por parar ali têm o privilégio de fazer passeios gratuitos pela cidade, recebem acomodação e alimentação grátis, a depender da duração da parada.

O local também abriga lojas de grifes internacionais como Adidas, Apple, Bottega Veneta, Burberry, Bvlgari, Chloé, Dior, Dolce&Gabbana, Armani, Gucci, Hermés, Hubo Boss, Jimmy Choo, Louis Vuitton e tantas outras.

Já o porto de Doha é também é um show de arquitetura à parte. Para quem chega de navio, vai avistar uma área gigante com muitos arcos brancos e desenhos que remetem às formas arredondadas dos tradicionais mercados. Eles se assemelham com os Arcos da Lapa, do Rio de Janeiro, porém com uma área interna bem grande.

Por falar na parte interna, o visitante que chega ali tem a oportunidade de ver gratuitamente um aquário gigante com várias arraias que nadam deste o chão e chegam ao topo, que tem uma altura média de 10 metros. De vez em quando, um mergulhador pode ser visto por ali enquanto alimenta os animais e faz a manutenção interna do aquário.

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