O tabu de mulheres viajando sozinhas vem diminuindo com o passar do tempo graças à quantidade crescente de mulheres partilhando suas experiências nas redes sociais. Apesar do Brasil ser o segundo destino mais violento com as viajantes, isso não impede que elas queiram conhecer o país e o mundo - tomando os devidos cuidados.
"Planejar é importante não só para não passar perrengue, mas também para sua própria segurança. Sempre que eu viajo, um amigo meu tem a cópia do meu roteiro e, se algo vai mudar, eu informo a ele e digo: 'Se até tal horário eu não falar com você, pode me ligar para checar'", diz Pollyane Marques, 35, funcionária pública e influenciadora digital pelo Instagram Viaja Gorda .
Primeira parada da mulher viajante
A primeira viagem de Pollyane foi para São Paulo. Ela tinha muita vontade de conhecer a capital paulista, uma das metrópoles mais importantes do mundo. Já Mary Zoghby, 31, também influenciadora digital , tinha sonhos mais além das fronteiras e sua experiência foi bem diferente.
"Eu tinha 25 anos quando decidi terminar um noivado e estava completamente cansada do meu trabalho. Pedi um mês de férias para a minha chefe e, faltando uma semana, comprei um intercâmbio para passar um mês em Londres", lembra ela que, na época, não falava inglês e hoje além dele, fala espanhol e italiano.
Tem perrengue em ser mulher?
Elas dizem que o medo sempre existe e que ele varia de acordo com o destino e o conhecimento que existe sobre a cultura local. Adepta do planejamento solitário e integral de suas viagens, Polly conta que quando foi para o Egito, por segurança, preferiu contratar uma agência de viagens, mas nem por isso sentiu seu espírito aventureiro diminuído.
Mary, por sua vez, diz que carrega mais boas lembranças do que ruins. A experiência negativa que serviu de lição e ensinamento a ser repassado são sobre quartos coletivos em hostel. "Certa vez, eu estava na Argentina, hospedada em um quarto coletivo misto e um homem achou que, por eu estar ali, ele poderia tentar alguma coisa. Consegui sair da situação e fui à recepção do hostel solicitar a transferência para um quarto compartilhado exclusivamente feminino", conta.
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Para onde ir?
Assim como a vontade de viajar não tem limites, os percalços não devem ser um impedimento para ninguém. Ambas têm amigas viajantes ao redor do mundo e conhecem mulheres que viajam por trechos considerados perigosos ou não tão indicados para mulheres, como o Oriente Médio. As duas também colecionam diversos carimbos em seu passaporte, com alguns lugares mais visitados que outros, é claro.
Mary começou sua trajetória em Londres e circulou bastante pelo eixo Inglaterra-Itália-Espanha, chegando até a morar e trabalhar em alguns países. Já Polly foi cinco vezes para a Itália - destino da sua primeira grande viagem internacional - e não vê a hora de estar vacinada para voltar lá.
A segunda ressalta a importância de questionar todos os detalhes ao local de hospedagem, principalmente se a viajante tem alguma necessidade especial. "Sou gorda, então sempre pergunto se a cama do hotel vai me atender, se o banheiro vai ser ok, essas coisas. É importante que a gente fale de acessibilidade para todas as pessoas. Viajar ainda é um privilégio e muita gente sua bastante para juntar o dinheiro da viagem. Então, não tenha vergonha de perguntar. Não passe perrengue por isso", acrescenta.
Para inspirar mais ainda
Polly fez parte da equipe técnica do documentário "Vai sozinha?", como editora e diretora. Veiculado pela TV Brasil, o programa mostra mulheres que viajam sem acompanhante.
"Eu me considero uma pessoa medrosa, mas eu vou mesmo assim. Antes de ter medo, confio em mim. Não adianta me desesperar na hora que o perrengue está acontecendo porque isso não resolve nada. Acontece muita coisa em viagem que você precisa agir rapidamente - e aqui entra o instinto e seu planejamento. É importante não ter vergonha de pedir ajuda", finaliza Mary.