Dennis Hyde e Letícia Alves em expedição no Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, Paraná
Acervo pessoal
Dennis Hyde e Letícia Alves em expedição no Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, Paraná

Num fim de tarde, quando a maioria dos visitantes já havia deixado o Parque Nacional do Iguaçu, milhares de andorinhões se reuniram no céu paranaense para seu espetáculo diário. Um balé aéreo, combinando acrobacias plásticas e rasantes radicais na água, que terminou com os pequenos pássaros recolhidos nas grutas atrás das cataratas, onde costumam passar a noite. Na plateia estavam Letícia Alves e Dennis Hyde, casal que, em junho do ano passado, deixou para trás a vida urbana em São Paulo para visitar os 74 parques nacionais brasileiros e colecionar momentos como aquele.

Enxergar além dos cartões-postais mais conhecidos se tornou rotina para Letícia e Dennis desde que tiraram do papel o projeto Entre Parques (@entreparquesbr no Instagram), uma expedição a bordo de um motorhome pelas principais unidades federais de conservação ambiental do país. Até o momento, já estiveram em 21 parques, incluindo todos os 13 da Região Sul. No total, a viagem deve durar três anos e terminar nas praias de Fernando de Noronha.

Apesar da paixão pelas coisas da terra e do mar, Letícia e Dennis seguiam carreiras totalmente urbanas. Ela, psicóloga. Ele, economista “faria limer”, em suas palavras. Em comum, o gosto por viagens a destinos de natureza. A ideia do projeto surgiu justamente numa viagem de férias do casal para um parque nacional, o da Serra das Confusões, no Piauí, antes da pandemia.

— Naquele dia, não havia ninguém além de nós dois num parque incrível de quase um milhão de hectares. Ali, começamos a pensar como poderíamos ajudar a divulgar esses atrativos, tão ricos — explica Dennis.

Sem pressa

O trailer usado pelo casal num camping em Cambará do Sul, durante a visita aos parques da Serra Geral e Aparados da Serra, entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Acervo pessoal
O trailer usado pelo casal num camping em Cambará do Sul, durante a visita aos parques da Serra Geral e Aparados da Serra, entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul

Para Letícia, além de incentivar o turismo consciente, que possa impactar positivamente a economia dessas regiões, o projeto pretende alertar para a importância desses parques para a preservação ambiental.

— A água que usamos nas nossas casas e a que é empregada nas grandes plantações, por exemplo, dependem dessas matas e florestas. Visitar esses parques é uma forma também de entender a importância do equilíbrio ambiental para a nossa própria vida — afirma Letícia.

A falta de estrutura de visitação, na maioria dos parques, e o acesso restrito, em muitos casos, são alguns dos desafios que o casal tem encontrado até aqui. Mas, segundo Dennis, as dificuldades começam bem antes, no planejamento da viagem.

Dennis Hyde e Letícia Alves, do Entre Parques, num passeio de barco pelo Parque Nacional Marinho das Ilhas Currais, no litoral do Paraná
Acervo pessoal
Dennis Hyde e Letícia Alves, do Entre Parques, num passeio de barco pelo Parque Nacional Marinho das Ilhas Currais, no litoral do Paraná

— É preciso ter paciência e dedicação, porque é a parte mais complexa do processo — conta. — Em geral, há pouca informação oficial nas páginas dos parques e do ICMBio, seu gestor principal. Temos que garimpar dicas e roteiros em fontes espalhadas por aí e com outros viajantes.

Dennis Hyde e Letícia Alves, do Entre Parques, num passeio de barco pelo Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais, no litoral do Paraná Foto: Acervo pessoal

Dennis Hyde e Letícia Alves, do Entre Parques, num passeio de barco pelo Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais, no litoral do Paraná Foto: Acervo pessoal

Contratar um bom guia credenciado, que conheça bem o local e possa mostrar não apenas os caminhos, mas os detalhes escondidos, também é fundamental, na visão de Letícia. Outro conselho é não ter pressa:

— Só pudemos apreciar a revoada nas Cataratas do Iguaçu porque ficamos mais tempo lá. No Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina, ficamos horas explorando uma floresta de xaxins que nem imaginávamos que pudesse existir.

Sem correria, o casal planeja os próximos passos. Amanhã, saem de São Paulo, onde pararam por duas semanas para manutenção do veículo, para o Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais. No caminho, vão se abastecendo de inspirações. Letícia lê os diários de Charles Darwin, nos quais o naturalista descreve a Mata Atlântica do século XIX. Dennis conta os dias para chegarem ao Parque Nacional Grande Sertão Veredas, no Norte mineiro, saboreando o clássico de Guimarães Rosa:

— Estou economizando as páginas para terminar o livro lá, naquele cenário onde nunca estive, mas que já conheço tão bem.

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