Para os fissurados em literatura , um jeito criativo de conhecer o Brasil é se basear nos cenários nos quais se passaram os enredos de alguns dos principais clássicos da literatura nacional.
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E, por que não, para a experiência ser ainda mais imersiva, aproveite para ler ou reler esses clássicos durante a jornada.
1. Salvador, Bahia - “Capitães da Areia”, Jorge Amado

A capital baiana é cenário de muitos livros e poemas, incluindo do romance de 1937 de Jorge Amado “Capitães da Areia”, no qual ele conta a história de um grupo de meninos de rua que vivia num trapiche e precisava se virar para sobreviver.
No livro, são citadas a Cidade Baixa, área litorânea e portuária de Salvador, onde os meninos viviam; e a Cidade Alta, zona mais moderna de Salvador atualmente. Na época, era um local mais residencial onde morava a elite da capital baiana. Hoje, as duas regiões possuem atrativos para turistas.
2. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - “Dom Casmurro”, Machado de Assis

A cidade do Rio de Janeiro sempre foi e talvez sempre será fonte de inspiração para escritores. No caso de Machado de Assis, um dos maiores autores brasileiros até hoje, a Cidade Maravilhosa, onde ele nasceu, é o cenário de muitas de suas obras.
“Dom Casmurro”, por exemplo, se passa no Rio do Segundo Império, de Dom Pedro II. Na trama, Bentinho e Capitu, amigos de infância, se casam, mas ele vive sempre se questionando se a esposa o teria traído com seu melhor amigo. A dúvida o corrói e acaba destruindo seu casamento, mas nunca é revelada a verdade sobre o que de fato aconteceu.
É possível reviver aquela época visitando locais como o Museu Nacional, o Paço Imperial, o Jardim Botânico, entre outros.
3. São Paulo, São Paulo - “Amar, verbo instransitivo”, Mário de Andrade

Local de nascimento de Mário de Andrade, um dos principais nomes do Modernismo, é na capital paulistana que se situa o romance “Amar, verbo transitivo”, cuja trama gira em torno de uma família rica que contrata uma governanta alemã para ensinar ao filho adolescente sobre sexo, um tema tabu na época.
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A família da história mora na Av. Higienópolis, no bairro Higienópolis, tradicionalmente atribuído à elite de São Paulo. É possível ter um gostinho do estilo de vida do local naquela época passeando pelas ruas da região e visitando pontos como o shopping Pátio Higienópolis, que é aberto e conta com um teatro. Vale também explorar bairros adjacentes, como o da Consolação, onde fica a famosa Praça Roosevelt.
4. Chapada Gaúcha, Minas Gerais - “Grande Sertão: Veredas”, Guimarães Rosa

Famosa obra brasileira, “Grande Sertão: Veredas” foca na vida do sertanejo de Minas Gerais, acompanhando especificamente o jagunço Riobaldo. Inovando na linguagem e na forma de se escrever um romance, Guimarães Rosa se aproveita dos principais espisódios do livro - como o pacto de Riobaldo com o diabo e seu amor por Diadorim -, para discutir questões filosóficas universais.
A trama se passa majoritariamente onde hoje fica o pequeno município de Chapada Gaúcha, localizado quase na divisa com a Bahia. A visita até lá vale para conhecer o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, com mais de 230 mil hectares de cerrado preservado. Com frases do livro espalhadas por toda sua extensão, o parque conta com trilhas que visam transportar o turista para o universo do livro.
5. Rio Capibaribe (Recife), Pernambuco - “Morte e Vida Severina”, João Cabral de Melo Neto

Obra-prima de João Cabral de Melo Neto, “Morte e Vida Severina” é um grande poema recitado por Severino, um retirante que sai do interior de Pernambuco, quase na divisa com a Paraíba, em direção a Recife, em busca de uma vida melhor, longe da pobreza e da seca do nordeste.
Na obra, o retirante parte da Serra da Costela, um local fictício que coincide com a nascente do Rio Capibaribe, que corta todo o estado desaguando no mar por Recife - e que seca durante os períodos sem chuva.
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Na capital pernambucana, o rio é responsável por garantir à cidade o apelido de “Veneza Brasileira”. É possível caminhar por suas margens pelo calçadão que ali existe e, partindo do Terminal Cais de Santa Rita, indo na direção norte, perceber referências arquitetônicas de diferentes épocas.
6. Manaus, Amazonas - “Relato de um certo Oriente”, Milton Hatoum

O primeiro romance do autor amazonense Milton Hatoum se passa em Manaus. Após muitos anos longe, uma mulher regressa à cidade de sua infância, buscando encontrar Emilie, a matriarca de uma família de origem libanesa que lá vive há gerações, mas tudo mudou. O relato, então, é a busca de um mundo perdido situado entre o Oriente e o Amazonas.
Para quem quiser percorrer Manaus guiado pelo “Relato de um certo Oriente”, vale visitar o igarapé dos Educandos, um dos “ouvintes” do narrador do livro, assim como a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, que muitas vezes ecoa os sentimentos da matriarca Emilie.
Pontos como o Teatro Amazonas, o Cemitério São João Batista e o Mercado Municipal de Manaus também servem como pano de fundo para outras obras de Hatoum. Entre elas, “Dois Irmãos” e o livro de contos “Cidade Ilhada”.
7. Campinas, São Paulo - “Fluxo-Floema”, Hilda Hilst

Apesar de nas obras da poetisa Hilda Hilst não ficar exatamente claro onde se localizam seus poemas e contos, os temas abordados por eles costumam ser bastante íntimos e pessoais, fazendo referência à própria vida da autora e suas questões com a própria obra, como no caso de alguns contos de seu primeiro livro em prosa, “Fluxo-Floema”.
Para um olhar mais profundo no universo de Hilda, vale visitar a Casa do Sol, em Campinas, chácara onde ela morou até sua morte, em 2004, e que hoje é aberta para turistas.
8. Bagé, Rio Grande do Sul - “O Tempo e o Vento”, Érico Veríssimo

“O Tempo e o Vento” é possivelmente a obra-prima do escritor gaúcho Érico Veríssimo. O romance, dividio em três volumes, se passa na cidade fictícia de Santa Fé e é um testemunho da expansão do Rio Grande do Sul e de seu povo, incluindo a criação da identidade do gaúcho.
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Como acontece com muitos clássicos , este foi transformado em filme e, assim, Santa Fé virou realidade. Foi construída uma cidade cenográfica no Parque do Gaúcho do município de Bagé. Lá é possível visitar a casa da famosa família Terra Cambará e comprar lembranças literárias confeccionadas por artesãos locais.