Antiga estação ferroviária de Alemanía, na Argentina, foi encerrada em 1971
Renan Tafarel/Portal iG
Antiga estação ferroviária de Alemanía, na Argentina, foi encerrada em 1971

Durante a  viagem à província de Salta, na Argentina, um dos locais pelos quais o iG Turismo passou, poucas horas antes de voltar ao Brasil, foi um estabelecimento simples, porém refinado, onde até 1971 havia a estação de trem da cidade de Alemanía.

O local, localizado a apenas 100 km da capital, esteve abandonado por décadas, mas o apelido de “cidade fantasma” continuou atraindo turistas que iam ao local visitar as muitas casas abandonadas e conversar com os poucos moradores que viviam da venda de seus artesanatos. Não apenas turistas, mas a fama de mal-assombrada também atraiu Hollywood e o local foi cenário para o filme de terror “Viagem do Medo” (2010).

Hoje vivem por lá pouco mais de 10 famílias, descendentes dos antigos trabalhadores da ferrovia, sem acesso à internet ou energia elétrica, e em alguns pontos é utilizada energia solar.

Em julho de 2021, o antigo galpão da estação de trem foi totalmente reformado, sendo inaugurado o novo Centro de Interpretación de la Quebrada de las Conchas. Além das artes, o turista pode visitar o restaurante localizado em frente, mesmo local em que no passado funcionava a estação de Alemanía.

Além da comida, o ambiente refinado e aconchegante chama a atenção, ao se destacar em meio à toda a simplicidade local. No restaurante também há um painel onde se pode assinar, ou deixar uma mensagem, marcando que o viajante esteve por ali. Para quem gosta de animais é possível interagir com gatos e cães (além de outros animais, mas cuidado com o touro) muito bem tratados, o que nos chamou a atenção logo ao chegarmos.

O nome "Alemanía" (Alemanha em espanhol) teria sido dado por tribos indígenas locais, mas alguns moradores apontam que se deve aos muitos homens alemães que trabalharam na construção da linha férrea que ligaria Salta aos Valles Calchaquíes.

O sucesso e o declínio da cidade fantasma

Os anos entre 1916 e 1920 foram os maiores de toda a história de Alemanía, atraindo centenas de moradores pelas oportunidades de trabalho que a expansão da linha férrea trazia. Foram assinados contratos milionários com empreiteiros, enquanto a linha férrea era construída à mão.

O vindouro sucesso era comemorado com festas que duravam dias, regadas a muito vinho e tiros de revólver disparados ao ar. Devido ao rápido crescimento do local, também incentivado pelo governo da época, as festas eram tamanhas que logo começaram a surgir acusações de que o local seria “amaldiçoado” e que os habitantes teriam feito um pacto com o diabo.

Porém, toda a comemoração teve um encerramento tão repentino quanto seu começo, quando começaram os eventos da Primeira Guerra Mundial, que levou à paralização das obras. Contratos foram cancelados e os investimentos que seriam dedicados à Alemanía foram para outros destinos e a construção jamais foi concluída.

Em 1971 a linha foi fechada definitivamente e a cidade foi esquecida com o tempo. Segundo histórias encontradas no antigo Museu Ferroviário Alemão, turistas e locais afirmavam que era possível sentir as vibrações do trem e o barulho de pessoas que passavam por ali anos antes, deixando o pequeno povoado conhecido como “cidade fantasma”.

Como chegar e onde se hospedar

Localizado ao sul da RN 68, no km 107 (entre Salta e Cafayate), o lugar faz parte do tradicional passeio turístico chamado La Vuelta a las Valles, e vale a pena conhecer por oferecer artigos de artesanato que não serão encontrados em nenhum outro lugar do mundo.

Geralmente as visitas duram algumas horas, mas para os mais aventureiros queiram aproveitar ao máximo a natureza quase intacta e as histórias da região, não existem hotéis ou pousadas por lá, a única opção é acampar.

Os moradores não se importam em compartilhar a terra para os acampamentos e costumam oferecer água fresca – por ser uma região muito pobre e com poucas fontes de renda, é de bom tom oferecer alguns pesos pela generosidade.

O iG Turismo viajou a convite da Província de Salta e Inprotur Salta, com passagem cortesia da Aerolíneas Argentinas.

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