O Obelisco de Buenos Aires, visto a partir da Avenida Corrientes, uma das principais artérias do centro da capital argentina
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O Obelisco de Buenos Aires, visto a partir da Avenida Corrientes, uma das principais artérias do centro da capital argentina

Algumas das dúvidas mais frequentes entre quem viaja para Buenos Aires giram em torno do dinheiro. Qual a diferença entre levar real, dólar ou peso argentino? Qual é a forma mais segura para trocar as notas? Vale a pena usar cartão de crédito? Nos últimos dias, essa equação ganhou mais um ingrediente, com criação de uma taxa de câmbio oficial diferenciada para os turistas. Tudo isso num momento de grande desvalorização do peso, que deixou a Argentina mais barata para os viajantes brasileiros.

Na última semana de julho, o real chegou a ser negociado no mercado paralelo em Buenos Aires a 56 pesos argentinos. Para se ter uma ideia, em 1º de julho esse valor era de 44 pesos, e, em 1º de maio, de 39. Já no mercado oficial, R$ 1 compra, atualmente, 25 pesos argentinos, um valor que não mudou tanto nos últimos meses: no final de junho era R$ 24 e, no começo de maio, R$ 23.

Uma discrepância ainda maior se viu entre as cotações do dólar. A moeda americana cotada de acordo com o câmbio oficial, fixado pelo governo argentino, bateu os 131 pesos argentinos, enquanto que o chamado "dólar blue", cotado no mercado paralelo, chegou aos 332 pesos, uma diferença de mais de 150%. Um mês antes, na última semana de junho, o dólar oficial equivalia a 123 pesos argentinos, enquanto um "dólar blue" comprava 223 pesos, numa diferença de 80%.

Na prática, o valor de compra de quem trocou reais por pesos argentinos no mercado paralelo praticamente dobrou em relação ao câmbio oficial, e quase triplicou para quem fez a operação com dólares. Uma valorização que supera até mesmo a inflação galopante que tem aumentado o custo de vida como um todo no país.

"A moeda brasileira ficou muito valorizada, chegou a 56 pesos cada real. Para os brasileiros, a comida ficou barata, as roupas , passeios, suvenires e passeios em outros pontos da Argentina, como Bariloche. Só não houve alteração no preço dos hotéis, porque são são dolarizados", contou Simone Almeida, guia de turismo brasileira que vive há 11 anos na capital argentina.

Para mostrar o efeito prático da desvalorização do peso argentino nas últimas semanas, fizemos um comparativo com três gastos que um turista brasileiro poderia ter em Buenos Aires. E também tentamos responder a algumas dúvidas comuns em relação ao uso e à troca do dinheiro no país vizinho.

Quanto custa em real?

Almoço num rodízio de carnes:  comer na Siga La Vaca, popular churrascaria em Puerto Madero, com direito a um litro de bebida (refrigerante, vinho ou cerveja) custa 3.400 pesos argentinos. No câmbio oficial atual, esse valor equivale a R$ 134 (no final de junho sairia por R$ 142 e, no começo de maio, a R$ 147). Já no câmbio paralelo atual, o banquete sai por cerca de R$ 58 (um mês antes seria R$ 75, e, no começo de maio, R$ 85).

Visita a museu:  o ingresso para o Malba, uma das mais importantes galerias de arte latina-americana, em Palermo, custa 700 pesos argentinos. Na pela conversão oficial, custaria cerca de R$ 27 (um mês antes seria R$ 29, e, em maio, R$ 30). Na cotação paralela atual, o valor equivale a R$ 12 (em final de junho seria R$ 15, e, em maio, R$ 17).

Passear em ônibus turístico:  o bilhete para o Buenos Aires Bus, que funciona com esquema de múltiplas paradas em pontos de interesse da cidade, válido por 48 horas, custa 7 mil pesos. Na cotação oficial de final de julho, equivaleria a R$ 276 (no final de junho seria R$ 293, e, em maio, R$ 303). Se trocados no mercado paralelo no final de julho, os mesmos 7 mil pesos valeriam cerca de R$ 119 (um mês antes, R$ 154, e no começo de maio, R$ 176).

O que é o 'dólar blue' da Argentina?

Buenos Aires
Unsplash
Buenos Aires

O que qualquer pessoa que pretende viajar para a Argentina precisa saber é que o país vizinho tem mais de um tipo de câmbio. Há a taxa do dólar oficial, fixada pelo governo, e o chamado "dólar blue", amplamente comercializado no mercado paralelo, que normalmente tem taxa de conversão bem maior que o oficial. Na última semana, para se ter uma ideia, a diferença de um para outro foi mais que o dobro.

Por conta dessa discrepância de valores, há quem busque a troca de dólares (e outras moedas) por pesos argentinos em casas de câmbio ilegais, que operam foram do sistema oficial e costumam se encontrar em escritórios escondidos (as "cuevas") nas regiões centrais das cidades. No caso de Buenos Aires, esses pontos estão espalhados pelo Centro, mas se concentram na região da Calle Florida, a mais famosa rua de pedestres da capital, onde habitam os "arbolitos", as pessoas que ficam na calçada oferecendo câmbio aos pedestres.

Já a troca de moedas oficial acontece em bancos e casas de câmbio legalizadas, seguindo a taxa fixada pelo governo, geralmente menos favorável. A grande diferença entre os dois serviços, além do valor recebido pelo cliente, é a segurança. Não são poucos os casos de pessoas que receberam notas falsas nas "cuevas" ou da mão dos "arbolitos".

"Não recomendo em hipótese alguma trocar dinheiro na rua ou com esses desconhecidos que te abordam, como na Calle Florida", diz o guia de turismo brasileiro Jefferson Thomas, que vive há 40 anos em Buenos Aires.

Existem ainda outras cotações oficiais do dólar, reguladas pelo governo, que são usadas para transações em bolsas de valores, em pagamentos de dívidas no exterior, para aquisição de divisas para poupanças e até para comercialização da soja. Uma dessas categorias, a MEP (Mercado Eletrônico de Pagamentos), será a base para a tal "taxa oficial para turistas". Essa taxa, na semana passada, variou em torno dos 300 pesos argentinos, um valor próximo, mas um pouco menor, que o "dólar blue".

Como é o novo 'dólar turismo'?

Notas de 100 pesos argentinos: a moeda do país vizinho tem sofrido forte desvalorização nas últimas semanas
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Notas de 100 pesos argentinos: a moeda do país vizinho tem sofrido forte desvalorização nas últimas semanas

O governo argentino estima que apenas 16% dos dólares injetados na economia pelo turismo ficam no sistema financeiro oficial, com o restante circulando no mercado paralelo, onde vigoram as transações em dinheiro vivo trocados nas "cuevas". Para reter uma quantidade maior da moeda no âmbito legal, o Ministério da Economia autorizou, em 21 de julho, uma nova categoria de câmbio, já batizada de "dólar turista".

De acordo com a nova medida, o turista estrangeiro não residente na Argentina poderá trocar até US$ 5 mil (ou o equivalente em outras moedas, como o real) por mês em instituições financeiras oficiais, como bancos e casas de câmbio legais. Nessa transação, a referência será o dólar MEP. Para comprovar que não vive no país, o cliente deve mostrar o documento usado na entrada do território argentino, comprovar a passagem de volta e assinar um termo de compromisso ("carta jurada") que em que garante sua condição de visitante.

O lado positivo da novidade é garantir, com uma cotação bem melhor que a do câmbio oficial, uma maior segurança ao turista, que (presumivelmente) não correrá o risco de receber notas falsas ou cair em outros golpes. Por outro lado, o processo ainda não está totalmente implementado e inclui mais etapas burocráticas, além de não garantir os mesmos valores do mercado paralelo. Ainda assim, a iniciativa é vista com desconfiança.

Vale a pena usar cartão de crédito?

A Calle Florida, mais famosa rua de pedestres de Buenos Aires, onde se concentra boa parte das casas de câmbio do mercado paralelo na cidade
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A Calle Florida, mais famosa rua de pedestres de Buenos Aires, onde se concentra boa parte das casas de câmbio do mercado paralelo na cidade

Uma opinião unânime entre quem recebe turistas brasileiros em Buenos Aires é que não vale a pena usar cartões de crédito ou de débito durante sua viagem ao país vizinho. Tanto por conta do IOF, o imposto de 6% sobre as transações financeiras, cobrado pelo governo brasileiro, quanto pelo fato de que as compras feitas com cartão acompanham a cotação oficial do dólar.

"Um jantar pago com cartão de crédito num restaurante, com a diferença atual, vai custar mais que o dobro, quando a fatura vier. O que sempre recomendo é: tenha o cartão de crédito para emergências, mas evite ao máximo usá-lo para os gastos do dia a dia", sugere o guia Jefferson Thomas.

É melhor comprar peso no Brasil ou deixar para trocar na Argentina? 

A Argentina está barata para brasileiros?
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A Argentina está barata para brasileiros?

Outra dúvida frequente é se o viajante deve trocar reais por pesos argentinos ainda no Brasil. A dica é trocar apenas uma quantia pequena, suficiente para os primeiros gastos logo na chegada, e deixar para trocar quantidades maiores já em Buenos Aires (ou Bariloche, Mendoza etc), pois a cotação oferecida fora da Argentina ou nos postos nos aeroportos costuma ser ainda menos vantajosa que as das instituições legais no país vizinho.

Os guias costumam sugerir também que os turistas não troquem todo seu dinheiro de uma vez só. Os motivos são vários. Um deles é a segurança, para evitar um prejuízo grande em caso de roubo, furto ou golpe. Outra razão é a própria instabilidade do câmbio: a conversão praticada num dia pode melhorar no da seguinte. E a terceira é não ficar com pesos sobrando na carteira, o que acarretaria em perda de dinheiro ao fazer uma nova troca ao final da viagem.

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