RIO - A pediatra Lara Junqueira Zacaron tinha acabado de se formar pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, após dois intensos anos de residência, com plantões redobrados na Santa Casa de Misericórdia, também em Juiz de Fora.
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Ela e o marido Vitor Santos Mockdece, empresário, ambos de 26 anos, estavam juntando dinheiro para realizar a viagem dos sonhos, a lua de mel. Começaram nas Ilhas Maldivas, passaram por Dubai e depois embarcaram no navio cruzeiro Costa Victoria. Teriam mais 22 dias de celebração entre Omã, Israel, Jordânia, Grécia, Croácia e Itália.
A viagem do cruzeiro teve início no dia 29 de fevereiro em Mumbai, na Índia, e tinha previsão para chegar ao fim no último sábado, 28 de março, em Veneza. Eles embarcaram em Dubai, no dia 7 de março.
"Mas a lua de mel virou um pesadelo", conta Lara, por telefone, de dentro da sua cabine onde está em isolamento desde o dia 23, ao jornal O Globo.
O cruzeiro Costa Victoria está atracado no porto de Civitavecchia, na Itália após única parada turística em Omã e outra, na Grécia, apenas para o desembarque de uma passageira, argentina, que estava com os sintomas da Covid-19 . Seu teste teria dado positivo e desde então todos os passageiros do navio entraram em isolamento. Eles foram impedidos de desembarcar porque a Itália fechou seus portos a embarcações estrangeiras para tentar evitar a propagação do novo coronavírus.
Lara diz que a empresa lhe informou que haviam entrado em contato com o governo brasileiro para repatriá-los, mas até agora não obteve nenhuma informação concreta sobre o processo.
"Estamos em um país que não é o nosso e dá muita insegurança. Não nos falam nada, não sabemos nada. Mas achamos estranho porque vários outros turistas já deixaram o navio e voltaram para suas casas. Porque a gente continua por aqui? E mais: por que nos disseram que temos de ficar mais 14 dias em um hotel em Milão e não seguir direto para o Brasil se estamos em isolamento? Ainda mais em Milão. Vamos correr mais riscos", questiona Lara, que disse que o navio, que tinha cerca de 700 pessoas, já está com bem menos gente.
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Ela e o marido estão confinados em sua cabine há 12 dias. Recebem três refeições por dia, na porta do quarto, e não podem circular pelo navio. As únicas vezes que saem do isolamento são para medir a temperatura, diariamente, em um grande salão, sob supervisão das autoridades sanitárias do país.
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Ela manteve contato com outros brasileiros que estão a bordo por WhatsApp. Ao todo, são 16 brasileiros, sendo seis tripulantes. Lara conta que, por sorte, sua cabine tinha janela, mas que não era o caso de todos eles — após reclamações e divulgação de vídeos nas redes sociais, eles foram levados para cabines com varanda e com mais conforto.
"Tentamos controlar a ansiedade, mas como não nos falavam nada e vendo outras pessoas deixarem o navio, um dos brasileiros, que tem chip internacional, ligou na Embaixada do Brasil e descobriu que eles não sabiam da nossa situação. Se as regras são rígidas na Itália, que é a única coisa que nos falam, por que só com a gente?".
Sem janela
A arquiteta Ligia Cossina, de 36 anos, que também está no navio junto com o marido Thiago Paes, gerente de projetos, de 34 anos, ficou oito dias em isolamento em uma pequena cabine interna, sem janela.
Disse que desde o início, a viagem apresentou algumas alterações no roteiro, mas a empresa "encorajou e prometeu" cumprir com os destinos. Eles embarcariam nas Ilhas Maldivas, mas começaram a viagem em Dubai, por exemplo. Explicou que o avanço da doença foi muito rápido e que quando iniciaram a viagem o quadro mundial era outro, sem epicentros na Europa.
"Foi muito estressante oito dias numa cabine de 20 metros quadrados. Mas, depois que o nosso caso veio à tona, na internet, a empresa nos colocou em outra cabine e mudou o tratamento em relação a gente. Nosso drama, nesse momento, mesmo após 12 dias de quarentena e com tomada de temperatura diária, é ter de ficar mais 14 dias na Itália. Temos pessoas do grupo de risco no nosso grupo e não tem cabimento cumprir mais uma quarentena na Italia", desabafa Ligia, lembrando que o barco tem bandeira Italiana e está atracado em importo na Itália. — Todos os brasileiros estão saudáveis.
Na última sexta-feira (03), o Cônsul-Geral do Brasil em Roma, Afonso Carbonar, acompanhado de funcionário diplomático do consulado, esteve em Civitavecchia para conversar com os brasileiros retidos e com as autoridades italianas competentes. Segundo Lara, eles não sabiam, ao certo, como os brasileiros estavam.
Questionado, o Ministério das Relações Exteriores disse que "acompanha com atenção a situação dos 10 viajantes e 6 tripulantes brasileiros a bordo do Costa Victoria".
Informaram ainda que o Consulado-Geral do Brasil em Roma "está há vários dias em contato com os passageiros brasileiros e que a operadora do cruzeiro e as autoridades locais enfrentam uma série de dificuldades para desembarcar os passageiros, em vista da falta de acomodações para quarentena de 14 dias em um dos hotéis-hospitais da região (exigida pelas autoridades italianas). Até o momento, não foi possível lograr dispensa da exigência de quarentena para embarque imediato ao Brasil."
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A pasta confirmou que já foram repatriados cerca de 10.500 brasileiros por causa da pandemia do coronavírus . Explicaram qie as operações dependem "de complexas tratativas com os governos locais para a suspensão temporária de medidas restritivas, tais como fechamento de aeroportos, toques de recolher, quarentenas, etc".