Há quem diga que viajar “é o melhor investimento que existe”, ou que é como “trocar a roupa da alma” e, para muitos, uma viagem de férias em família ou entre amigos é o ponto alto do ano – muitas vezes, até mesmo o da vida. Porém, nem sempre é possível ter a companhia de outras pessoas e pode ser que aquela viagem tão sonhada não se concretize por razões como medo ou insegurança, o que é um problema.
A verdade é que, por mais que a companhia seja agradável, viajar apenas com a “cara e a coragem” pode ser algo extremamente positivo e valioso para uma pessoa, que terá experiências únicas que a farão crescer como ser humano. Viajar sozinho é como estar acompanhado pelo mundo.
Viajar faz bem à saúde, pode ser uma boa terapia?
Conhecer novos lugares e diferentes culturas é uma ótima forma de distrair a mente e esquecer um pouco dos problemas do dia a dia, do estresse ou de algum trauma vivido.
Ao iG Turismo , a psicanalista Ana Tomazelli afirma que, apesar de ser uma grande ajuda, uma viagem não deve ser vista como uma terapia, pois são conceitos que não devem ser confundidos. “Mas, com certeza, recomendo como um momento para se recarregar e se reconectar consigo, sendo, complementar a uma rotina de descanso mais constante”, pondera.
Já a psicóloga Fabiana Antonelli é mais direta e indica que uma viagem pode ajudar a afastar, ou mesmo “curar” certos problemas.
“Viajar sozinho para quem passa por um período de estresse ou trauma, seja o fim de um relacionamento, excesso de trabalho, conclusão de um curso, quem estudou durante anos para passar em um concurso, a perda de um ente querido, pode ser bastante terapêutico, pois isso tudo gera um desgaste físico, emocional e mental e esta é uma excelente forma de reconectar-se consigo mesmo, iniciar um novo ciclo e renovar as energias!”, afirma.
É bom viajar sozinho?
Cada pessoa tem sua própria razão para viajar, para algumas é uma opção, para outras uma oportunidade que surge e deve ser aproveitada.
Para Vanessa Rosseto, 36, moradora de Nova Iguaçu, a primeira viagem sozinha foi aos 18 anos, a trabalho, e ela acredita que este “empurrão” ainda tão jovem foi o que a levou a perder o medo de desbravar o desconhecido. “Eu era bailarina e peguei um contrato de um ano para dançar em um navio que percorria a Tailândia, Malásia e Cingapura”, conta Vanessa ao iG Turismo.
“Mesmo fazendo amizades com os colegas de trabalho, eu muitas vezes desbravava a cultura local sozinha e me perdia nas passagens subterrâneas de Cingapura, ou nas vielas da Tailândia, durante os meus day offs ou nos shore leaves (tempo livre que tínhamos em terra). Em uma época sem Google Maps e smartphones, se jogar tão nova em países de culturas tão interessantes foi essencial para construir minha personalidade desbravadora”, afirma Vanessa.
Para Paula Kotouč, 35, moradora do Rio de Janeiro, a primeira vez em que esteve sozinha em uma viagem veio naturalmente, mas abriu portas para futuras oportunidades.
“Para ser sincera, eu nem percebi que comecei a viajar sozinha. Nunca fui de depender dos outros para fazer passeios, apesar de já ter desistido algumas vezes por falta de companhia”, conta ao iG Turismo.
Paula relembra algumas viagens que fez acompanhada, mas que aproveitou para passear e conhecer novos lugares sozinha, como quando foi a São Paulo assistir a um show, um passeio pelas Ilhas Cayman durante um cruzeiro que fez com os avós e até um tour em pontos turísticos da capital do México, em uma escala enquanto voltava da casa de um tio que vive nos Estados Unidos.
“Eu tinha muito receio, mas acabei adorando viajar assim exatamente por não ter ninguém me freando. Viajar é caro demais para não sair tudo do meu jeito. Sei de gente que nunca havia estado na Europa e foi a Londres. Lá, a amiga não quis ir a Stonehenge . A pessoa acabou não indo. Da mesma forma, em Paris, viu o Louvre correndo porque a pessoa cedeu a ida, mas não gostava de museus...”, conta Paula.
As vantagens de se viajar sozinho
Para Ronaldo Paixão, 43, que hoje vive na Inglaterra, a maior diferença de se viajar sozinho é a sensação de liberdade ao tomar decisões e moldar a experiência de acordo com seus próprios desejos e interesses.
Ronaldo considera que “sem a necessidade de conciliar agendas, preferências e compromissos com outra pessoa, você pode planejar sua viagem da forma que melhor se adequa a você, seja explorando lugares específicos, descobrindo novas aventuras ou simplesmente relaxando. Além disso, viajar sozinho também pode ser uma oportunidade de se conhecer melhor, ampliar sua perspectiva de mundo e fazer novas amizades.”
A sensação de liberdade é, sem dúvida, uma unanimidade quando se pensa na maior vantagem de ser fazer uma “viagem solitária”.
“Se quero almoçar pão na chapa porque estou sem dinheiro, ok, tudo certo, mas se estou numa condição melhor e quero ir naquele restaurante que é o melhor da cidade, tudo certo também”, Paula continua.
“A escolha dos passeios fica totalmente a meu critério. Em Londres, não fui à London Eye. Optei por ver a cidade do alto da Catedral de St. Paul (a subida ao mirante estava inclusa no ingresso), do SkyGarden (grátis) e do The View From The Shard (eu estava com passe de passeios que me dava acesso gratuito a ele). Achei suficiente. Se tivesse com outra pessoa, talvez esta fizesse questão de ir [a outros lugares] por ser um cartão-postal e gastaríamos tempo e dinheiro que poderia ser dedicado a outra atração.”
Embora, no geral, nem tudo seja tão vantajoso assim, como aponta Vanessa: “Para mim, viajar sozinha é mais caro do que viajar com alguém, ou várias pessoas, mas isso é bem pessoal”.
Mas a sensação de liberdade, mais uma vez, compensa: “Uma grande vantagem é poder escolher a data da viagem, o roteiro, tudo de acordo com a sua própria vontade e necessidade. Parece egoísta, mas é bom demais não ter que cumprir uma agenda baseado nas necessidades alheias. E outra vantagem é realmente fazer amizades! Você sai da sua bolha, encontra outros viajantes solitários, cria conexões, daqui a pouco você tem uma casa em cada canto do mundo para ficar.”
Por que nos sentimos livres longe das pessoas do nosso cotidiano?
Em um primeiro olhar, pode parecer que por se sentir tão livre ao estar longe, em um lugar onde não se conhece ninguém pode parecer que o oposto é verdadeiro e, mesmo que inconscientemente, a pessoa se sente presa ao viajar com outra pessoa. Seja por ter que dividir os poderes de decisão, ou por algum problema de relacionamento.
“Esta sensação de estar ‘presa’ viajando acompanhada mesmo que seja por pessoas queridas, não necessariamente reapresenta um problema nas relações, mas, quando fazemos uma viagem com mais pessoas, sempre nos programamos com horários, roteiros, e nem sempre conseguimos descansar ou aproveitar como gostaríamos”, esclarece a psicóloga.
“Daí surge a necessidade de viajar sozinho, pois a sensação de liberdade está em fazer o que, como e quando você quiser! Sabe aquele dia em que todo mundo vai para a praia e você gostaria de ficar sozinho dormindo sem ser o chato da história? Sabe aquele restaurante que a maioria gosta e você vai só para não ser do contra? Aquele dia que você está querendo silêncio, mas o pessoal quer fazer festa? Essas tradicionais viagens, com aquela turma tradicional que nem sempre você está a fim? Quando falamos de viajar sozinho é sobre esta liberdade”, conclui Fabiana.
Já Tomazelli completa que “as noções de liberdade vão ganhar contornos específicos para cada pessoa, por exemplo: em um casal, às vezes, uma pessoa quer determinar um horário para uma atividade, mas a outra pessoa quer ‘deixar fluir’. Geralmente, a pessoa que quer combinar um horário se sente frustrada porque corre o risco de não fazer algo que gostaria muito e a pessoa mais fluida pode se sentir presa e controlada. Nenhuma das duas pessoas está certa ou errada, elas só estão em territórios emocionais distintos e o desafio vai ser a comunicação”.
“Viajar sozinho elimina a necessidade de diálogo, negociação e, por consequência, evita que você precise ceder em alguns momentos, o que torna o processo mais ‘fácil’ - porém, nem sempre isso é sinônimo de ‘mais prazer’ ou ‘mais descanso’”, pontua.
Tomazelli afirma ainda que algumas pessoas podem experimentar todas essas sensações ao viajar desacompanhado, “mas é importante lembrarmos que nem tudo se aplica a todos e que não devemos sentir culpa por não sentirmos algo que parece ‘positivo’ em certos contextos”.
“Há pessoas que se sentem mais expostas, por exemplo ou que sentem falta de alguém com mais intimidade para compartilhar os momentos, porque não se sentem à vontade para interagir socialmente com pessoas desconhecidas e isso não é, necessariamente, um problema”, explica Tomazelli. “Em meu entendimento, a maior vantagem em viajar sozinho é atender a uma vontade genuína, a um impulso interno de realizar algo, até mesmo em uma viagem de trabalho, por exemplo.”
Experiência e evolução pessoal
Estar em um ambiente no qual você é um completo desconhecido e precisa depender unicamente de você para interagir com pessoas diferentes é algo que, certamente, pode transformar uma pessoa.
Paula afirma ter se tornado mais independente, sem deixar que a falta de companhia a impedisse de aproveitar o que queria fazer. Ela conta que, certa vez, deixou de comprar uma passagem, que estava na promoção, porque nenhum amigo poderia ir.
“Hoje, nada mais me prende nesse sentido. Já assisti ensaios de quase todas as escolas de samba, fiz trilhas sem conhecidos (nesse caso, reservei com excursão e fui por segurança), fui em quase todos os museus daqui... sem dúvidas, me tornei mais livre e de certa forma, mais feliz sem aquela angústia do ‘ai, que saco, não tem ninguém para sair hoje’”, diz aliviada.
Vanessa é filha única, por isso, segundo ela, seus pais realmente faziam suas vontades e ela poderia ter se mantido em uma situação confortável, mas reflete que a liberdade de viajar sozinha lhe trouxe uma "sensação incrível de paz".
“A paz de entender que eu posso me virar em qualquer lugar, a confiança de que não dependo de ninguém para me divertir e me sustentar. Acredito que grande parte da coragem de viver que sinto hoje foi construída através dos momentos de solitude no desconhecido. Ao mesmo tempo que aflorou meu poder de comunicação com pessoas completamente desconhecidas”, continua.
“É maravilhoso fazer amigos em um ambiente fora do profissional, familiar e escolar, você se conecta de verdade por interesses em comum. Seja pela comida, passeio, cultura ou aventura.”
Para Ronaldo, viajar sozinho e ter essas experiências o mudaram de diversas maneiras. “Aumentaram a minha confiança, flexibilidade e capacidade de adaptação, além de promover o aprendizado, autonomia, autoconhecimento, estar aberto a novas amizades e sensação de liberdade e independência”.
Para ele, tudo contribuiu não somente em sua vida pessoal, como profissional. “Essas mudanças me ajudaram a me desenvolver pessoalmente, melhorar minhas habilidades sociais e profissionais, além de ampliar minha visão de mundo e perspectivas de vida.”
Conhecer o mundo ou se aprofundar na cultura brasileira?
Mesmo visitando e conhecendo diferentes culturas pelo mundo, Vanessa diz sentir que, no momento, o que ela precisa mesmo é conhecer mais a cultura brasileira.
“Ano passado fui para a Chapada dos Veadeiros e fiquei apaixonada pela comida do quilombo Kalunga do Engenho II”, lembra ela.
“Eu sou vegetariana e nunca tinha comido uma comida feita no forno à lenha quase 100% produzida localmente pela comunidade. Sonho com aquele umbigo de banana até hoje! [risos] Existe muita cultura no nosso país, ainda conheço pouco”, assume.
“Eu adoro as duas coisas”, diz Paula. “Sou apaixonada pelo Brasil, mas também gosto de conhecer o exterior.”
Paula aponta que todas as viagens que fez ao exterior saíram do papel graças a oportunidades como passagens promocionais, Black Friday e outras soluções. “Por isso, viajei menos pelo Brasil, mas conheço 11 estados e Brasília, ainda que na maioria, tenha passado só um fim de semana, um feriadão... Nem sempre sozinha, mas algumas vezes, sim. Fico tão feliz com viagens pelo Brasil quanto para o exterior.”
Já Ronaldo tem um ponto de vista diferente, ele diz buscar por experiências culturais e geográficas diferentes das que o Brasil oferece.
“Explorar lugares mais distantes para mim é a escolha mais adequada. Mas entendo que se alguém deseja conhecer melhor a própria cultura e a diversidade regional brasileira, viajar pelo país pode ser uma excelente opção.”
Os melhores lugares para se conhecer
Para Paula, a resposta vem sem pensar duas vezes, no Brasil os melhores lugares que já conheceu foram João Pessoa e Belém.
“Belém pela questão amazônica. Impossível não amar a Ilha do Combú, ali ao lado. João Pessoa é toda ‘completinha’. Excelente como cidade, com praias lindas, passeios ótimos, preços justos... Realmente gostei muito! Aliás, visitei também Conde, bem ao lado, e foi uma das melhores experiências da vida”.
Já no exterior, é claro, foi a capital inglesa, além de ter vivido uma ótima experiência, para ela “é uma cidade fascinante, linda e repleta de história”. Apesar de não ter visitado sozinha, ela lembra de uma experiência fascinante que viveu em Israel.
“Meu primeiro passeio, antes mesmo de fazer check-in no hotel (não estava na hora ainda) foi por Jaffa, a parte mais antiga de Tel Aviv. Precisei de um tempo para meu cérebro entender que aquelas construções não eram cenário construído por um parque temático e sim algo real”, lembra. “Em Israel, tudo foi muito marcante: dormi em tenda beduína, fui ao Mar Morto, visitei Jerusalém ... Ah, amei o Peru também, o México, mas eu deveria responder um lugar só, né? (risos)”
Para Vanessa, os lugares que ela mais ama no mundo são a Chapada dos Veadeiros, e Bali, na Indonésia. “Ambos transmitem uma vibe completamente diferente dos outros lugares que visitei ou morei. É questão de vibe, mesmo. Uma sensação boa que parece que me deixa mais leve, só por estar ali. Aparentemente as pessoas que estão nesses lugares estão mais felizes e dispostas. Deve ter algum motivo espiritual ou quântico.”
Para Ronaldo, porém, é uma questão um pouco mais complexa: “Depois de conhecer 36 países é difícil apontar apenas alguns lugares, pois cada lugar tem suas próprias características únicas”, reflete Ronaldo, que destaca três lugares que considera especiais.
Ele explica: “A Islândia, por sua beleza natural espetacular, sua cultura única e fascinante, e por oferecer uma qualidade de vida excepcional, além de uma população hospitaleira e acolhedora; Singapura é destino incrível para se conhecer: é uma cidade-estado moderna e cosmopolita, com uma cultura fascinante que combina influências chinesas, malaias, indianas e ocidentais. Possui uma das melhores infraestruturas do mundo. E a Itália, conhecida por sua rica história, cultura, culinária e belas paisagens. A Itália tem algo para todos, desde as praias ensolaradas do Sul até as cidades históricas do Norte.”
Viajar sozinho é bom, mas e quando bate a saudade?
Estar em um lugar novo, poder fazer o que quiser em seu próprio tempo, certamente é uma experiência única, mas partilhar de tudo isso com alguém também é tão gratificante quanto – além de, é claro, ser uma ótima ajuda financeira.
Apesar das ótimas experiências viajando sozinha e da liberdade que isso proporciona, Vanessa confessa que, em certos momentos, ter alguém para compartilhar realmente faz falta.
“Em alguns lugares exuberantes ou em momentos que as pessoas não estão muito abertas a fazer amizades, pode ser que a vontade de ter alguém para compartilhar apareça. Não nego que adoraria ter um namorado para viajar comigo. Além do mais as viagens seriam mais baratas quando se viaja em dupla”, ela responde com bom humor, e pondera: “Mas já que não tenho, viajar sozinha também é ótimo e revigorante”.
“Sim. Já senti e sinto”, diz Ronaldo. “Quando se viaja muito como eu não é fácil encontrar companhia todas as vezes. Por mais incrível e enriquecedor que viajar sozinho pode ser, é natural sentir falta de compartilhar as experiências com alguém.”
Já Paula, assume que ter uma companhia em uma viagem não é algo que faça tanta falta assim. “Sendo bem sincera, não. Com as redes sociais, consigo compartilhar essas experiências com gente em qualquer lugar no mundo. Claro que não vou ficar dentro de um museu postando tudo, mas posso dividir memórias me deslocando de metrô, sentada em uma cafeteria etc”.
Viajar pode ser uma forma de encontrar uma “solução para problemas”, ou apenas uma fuga para adiar situações?
“É necessário avaliar, muitas vezes pode ser uma fuga sim. E cá entre nós, quem nunca pensou em ‘sumir no mundo’ e voltar quando tudo estivesse resolvido? Mas, sabemos que isso não resolve as coisas”, diz a psicóloga Antonelli.
“Porém, viajar sozinho, pode ser uma estratégia bem interessante, pois sozinho, longe da rotina, da pressão do dia a dia, muitas vezes é possível encontrar soluções, reorganizar e reprogramar a vida.”
Tomazelli concorda, e pondera que ambos podem acontecer simultaneamente – assim como nenhuma delas. Para a psicanalista, é fundamental que se saiba o real motivo pelo qual se quer fazer uma viagem.
“É importante perguntar: por que estou querendo viajar? O que pretendo realizar neste período? Quando eu retornar, o que eu gostaria que acontecesse? O que/quem depende de mim nesse momento?”
“Sem dúvida nenhuma, se a viagem for organizada em um momento de vida em que o descanso possa ocorrer em um local seguro, sem que compromissos no lugar de origem sejam negligenciados, as chances de descansar, acalmar a mente e pensar com mais clareza sobre algo pode contribuir, sim, para tomar decisões mais ajustadas - mas isso não é uma matemática certa e direta”, pondera.
Pensando em fazer sua primeira viagem sozinho ou sozinha, mas não se sente confiante? Veja o que as especialistas dizem:
Fabiana Antonelli : “Viage! Escolha o lugar! Pesquise e planeje os mínimos detalhes. Preço, transporte, horários, paradas, clima, roteiro, estadia, bares, restaurantes, baladas, praias mais badaladas ou mais desertas, cultura local, se pretende viajar para o exterior e não fala a língua local, aprenda as expressões idiomáticas mais importantes, pense nos imprevistos e se programe para o que fazer se algo fora do planejado acontecer. Converse com quem já viajou sozinho, [especialmente] com quem já foi para o mesmo lugar.”
Ana Tomazelli: “Respeite os seus limites, não viaje porque todo mundo diz que é bom e, se é da sua vontade viajar ainda assim, busque apoio terapêutico, para que você possa desenvolver o seu próprio caminho em direção a experiências realizadoras nos seus termos.”
As viagens mais marcantes:
Vanessa Rosseto: “É difícil escolher uma só, quando existem tantas especiais”, pondera Vanessa. “Um pôr do sol no mirante São Jorge, na Chapada; um salto de Bungee Jump de uma altura de 233 metros da Torre de Macau, na China; um festival de sustentabilidade em Hong Kong; Uma paixão no México; Amizades verdadeiras em Caraíva… cada viagem tem seu momento especial e aquela experiência que dá vontade de reviver pra sempre, mas o que faz dela única, é voltar pra realidade e deixar já saudade.”
Ronaldo Paixão: “Foi o meu primeiro dia na Islândia. Acordei cedo, estava empolgado. Depois de um rápido café da manhã no meu hotel em Reykjavik, eu parti em direção à região de Reykjanes, conhecida por suas paisagens vulcânicas e termais. Minha primeira parada foi no Lago Kleifarvatn, um lago vulcânico cercado por montanhas rochosas e um terreno desolado. Caminhei até a costa e fiquei impressionado com a vista. O sol brilhava, mas o vento era forte e frio. Me se sente vivo”, conta.
“Em seguida, me dirigi até a área geotérmica de Seltún, onde pode ver fumarolas e fontes termais ativas. Andei pelas trilhas e senti o cheiro forte de enxofre no ar. À tarde, visitei a Ponte entre os Continentes, uma ponte de madeira que atravessa a fissura entre a placa tectônica americana e a euro-asiática. Atravessei a ponte e fiquei entre os dois continentes ao mesmo tempo. É uma sensação única”, afirma.
“À noite, voltei para Reykjavik e jantei em um restaurante local. Experimentei um prato de carne de cordeiro, um prato típico da Islândia, acompanhado de uma cerveja local. Refleti sobre o dia incrível que tive e era apenas o primeiro dia, mal podia esperar para explorar mais deste país fascinante”, finaliza.
Paula Kotouč: Paula destaca sua ótima experiência quando esteve no México, “preciso falar da gentileza dos mexicanos”, começa ela.
“Cheguei numa madrugada, achei que o sol já estava nascendo e decidi ir para o hotel, já que disseram ser seguro. O metrô ainda estava fechado e saí do aeroporto em um ônibus expresso. Errei em relação ao horário, estava tudo escuro, mas eu não estava com medo porque havia muitas pessoas que claramente estavam indo trabalhar. Eu sabia que aquele ônibus tinha um ponto no Zócalo e de lá eu saberia chegar no hotel, mas o ponto não era na praça e me perdi, ainda de madrugada, sozinha, com mochila, sem internet”, continua.
“Em segundos uma dupla de policiais veio me abordar (e convenhamos, a gente escuta falar tudo sobre a polícia do México, menos elogios) e quando entendeu que eu estava perdida, me orientou e disse para eu ir sem medo porque a polícia iria me ajudar. Fui andando meio com medo, mas a cada 100m, uma nova dupla, já avisada pelo rádio, saía da sombra para me encorajar. ‘Está indo pelo caminho certo’, ‘continue por aqui’, ‘está quase chegando’, ‘você está segura’. Em certo momento, virei na rua errada e os policiais me corrigiram. Eles todos sabiam para onde eu estava indo.”
“Cheguei no hotel, ainda estava escuro e descobri que fiz a reserva para o dia errado. Na verdade, estava no dia certo, mas o check-in era só à tarde. Eu tinha que ter reservado desde a véspera. Estava lotado, não havia lugar para mim, mas me ofereceram descansar até o sol nascer numa sala que tinha lá. Me ofereceram roupa de cama, cochilei em paz e ainda me chamaram para o café da manhã e perguntaram se eu gostaria de tomar um banho. Tudo isso antes do check-in e não me cobraram nenhum centavo por isso depois, apenas pediram que eu voltasse a me hospedar lá em futura viagem, o que certamente farei”, ela aponta.
Por fim, ela conta outra experiência positiva, também no México, quando precisou contratar um guia para levá-la até Teotihuacán.
“Não dirijo, não falo espanhol e estava sem internet. E, justamente por não dominar o idioma, eu não entendi que o ingresso era cobrado à parte, em dinheiro, na bilheteria”, lembra.
“Descobri chegando lá e eu não tinha nada em espécie, estava só com cartão. Sequer havia lugar perto para sacar. Era baratinho, custava 60 pesos mexicanos. Na cotação da época, dava uns R$10. Fiquei arrasada e o guia percebeu o quão chateada fiquei. Sem que eu pedisse, ele comprou um ingresso para mim porque, segundo ele, nenhum turista poderia ir embora sem ver as pirâmides. Ele não aceitou que eu pagasse nem uma água para ele. A única coisa que ele pediu foi que eu falasse para os outros como a Cidade do México é boa para fazer turismo, já que existe muito a ideia de ser um lugar perigoso e por isso, não é um destino turístico óbvio para muitos”, finaliza.
Os benefícios psicológicos de se viajar sozinho podem não ser para todo mundo, garante a psicanalista.
“É muito importante que a gente não reforce o coro de que as soluções funcionam para todo mundo, principalmente quando estamos falando de uma experiência que seja mais dependente de capital (dinheiro mesmo). Sofrer é ruim em qualquer lugar, mas, certamente, sofrer num lugar tido como paradisíaco facilita muito as coisas”, diz Ana Tomazelli.
“No entanto, o senso comum de paraíso, por exemplo, é questionável. Há quem odeie praia, mar e, portanto, pensar em uma viagem para uma bela ilha do Caribe seja uma tortura sem fim. Há pessoas que detestam viajar para qualquer lugar e não podemos, simplesmente, dizer que elas têm um recurso a menos para lidar com a angústia”, continua a especialista.
“O fato é que, ao deslocar-se geograficamente, principalmente se vamos para lugares mais ‘livres’ das regras morais, mais nos sentimos relaxados em relação às obrigações e obediências do dia a dia, o que pode oferecer um descanso temporário - mas, também, proporcionar grandes dores de cabeça, a depender de como usamos essa liberdade. Cada pessoa precisa saber o que funciona para si e empenhar-se em viver de acordo com seus próprios parâmetros”, completa.
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