O que era para ser um período tranquilo de férias na Ilha do Sal, em Cabo Verde, se tornou um pesadelo para um grupo com cerca de 80 brasileiros que não conseguem retornar ao País. Com voos cancelados pela companhia aérea Cabo Verde Airlines, turistas não têm previsão de retorno ao Brasil e precisam bancar do próprio bolso alimentação e hospedagem. 

Luiz Veiga ao lado da família no aeroporto em Cabo Verde
Foto: Arquivo Pessoal/WhatsApp
Luiz Veiga ao lado da família no aeroporto em Cabo Verde

O piloto de avião Luiz Veiga Neto, 27, viajou com a família para passar férias na região no dia 16 de março. O retorno para Macapá, no Brasil, estava agendado para o dia 19 de março, mas não aconteceu. De acordo com o brasileiro, ao chegar no aeroporto, a resposta foi de que o voo tinha sido cancelado.

"A companhia aérea também falou que não arcaria com nenhum custo e que não tinha nenhum previsão do nosso retorno. Colocou a culpa na determinação do governo local de fechamento das fronteiras, mesmo com as exceções para voos de retorno", lamenta o piloto Luiz Veiga.

O piloto diz que no aeroporto outras companhias aéreas seguem normalmente a rotina e não tiveram os voos cancelados.

Registro feito por brasileiros mostra que voos de outras companhias aéreas estão confirmados
Foto: Arquivo Pessoal/WhatsApp
Registro feito por brasileiros mostra que voos de outras companhias aéreas estão confirmados

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Por meio de nota, a Cabo Verde Airlines afirma ter conhecimento da situação do grupo de brasileiros, diz que lamenta a situação dessas pessoas e confirma que se viu forçada a cancelar seus voos a partir do dia 18 de março.

No último dia 17, o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, anunciou o fechamento fronteiras para impedir o alastramento do surto de Covid-19 no País.

"Na sequência do anúncio do Governo, a Cabo Verde Airlines não teve outra opção se não suspender, com efeitos a partir de 18 de março de 2020, todas as suas operações para todos os países em que operava até então, nos quais se inclui o Brasil", confirma Raúl Andrade - VP para Sales & Marketing da Cabo Verde Airlines.

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No e-mail, para comprovar o cumprimento das medidas estatais, a companhia aérea cita literalmente o anúncio feito por Correia e Silva. Mas, não inclui o trecho em que o chefe nacional define as exceções à interdição aérea: "Excetuam-se da interdição, os voos cargueiros e os voos de regresso de cidadãos em férias ou em serviço em Cabo Verde aos seus países de origem ou de residência".

Confira posicionamento completo do governo de Cabo Verde:



Luiz destaca que olhou os decretos e fica claro que há exceções. "A companhia diz que não fará o voo de repatriamento porque quem tem que solicitar isso seria a embaixada do Brasil, o governo brasileiro e o governo de Cabo Verde", explica. 

O turista reclama que a Cabo Verde Airlines não está seguindo o contrato com os passageiros. "Nós pagamos as passagens aéres a ela e não ao governo. Fica nesse impasse porque um joga para o outro. Até o momento não há data de quando nós vamos sair". 

fernanda
Foto: Arquivo Pessoal/WhatsApp

Fernanda Sanches em viagem de férias a Cabo Verde

A empresária baiana Fernanda Sanches, 43, chegou na Ilha do Sal no dia 13 de março e retornaria ao Brasil no dia 18 de março. Ela lembra que durante a semana, as medidas de segurança não estavam tão fortes no Brasil e por isso estava mais tranquila curtindo a viagem de férias. 

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Mas, no último dia 15, a família começou a telefonar informando que a situação estava piorando. "Eu comecei a ligar para a Cabo Verde Airlines e eles me disseram, até então, para ficar despreocupada, porque o voo ocorreria normalmente", relata. 

No dia 17, um dia antes de embarcar, ela foi ao aeroporto com as malas para tentar antecipar a passagem e voltar ao Brasil. Sem sucesso, não tinham voos naquele dia. 

"No dia 18, após o decreto do ministro, fui novamento ao aeroporto e me informaram do cancelamento de todas as embarcações da companhia aérea. Eu estava sozinha nessa viagem e eles fecharam a porta na minha cara. Encontrei mais cinco brasileiros e me juntei a eles para a gente conseguir sair daqui", conta Fernanda. 

A companhia também teria negado o acesso dos turistas a um telefone local para a comunicação com o Cônsul Honorário do Brasil na Ilha do Sal.

A situação de Fernanda é a mesma de outros brasileiros que estão na Ilha. Sem muito dinheiro para bancar a hospedagem e a alimentação, os turistas tentam se ajudar para conseguir comer e ter onde dormir.

"A minha sorte é que eu sempre deixo um dinheiro para dor de barriga e é com ele que estou vivendo porque a companhia não está nos apoiando. De primeiro, eles me falaram que ninguém ficaria na rua, mas mudaram de ideia e não nos deram o voucher", diz Fernanda. Ela diz ainda que a situação está difícil porque a moeda local é o euro, hotéis estão fechando e o dinheiro é pouco.

O grupo está em contato com o cônsul honorário do Brasil na Ilha do Sal, o vice-cônsul do Brasil em Cabo Verde e o atendimento de emergência da Embaixada brasileira.

De acordo os brasileiros, nenhum dos órgãos tem assumido apoio prático à estadia dos turistas no país estrangeiro e limitam-se a dizer que estão em contato com a companhia aérea.

Em nota enviada ao grupo de brasileiros, a embaixada do Brasil diz que permanece em contato com a Cabo Verde Airlines e com o Governo de Cabo Verde com vistas ao agendamento de voo de repatriação para os viajantes retidos no país.

Texto enviado aos brasileiros:

"A data de partida do voo ainda não foi definida, mas deverá ser ao longo da próxima semana e terá como destino uma cidade do Nordeste do Brasil, provavelmente Fortaleza. Questões logísticas ainda estão sendo alinhadas, pois o mesmo voo deverá trazer no regresso para Cabo Verde cidadãos cabo-verdianos e estrangeiros residentes no arquipélago. Os viajantes brasileiros com os quais a Embaixada tem mantido contato encontram-se distribuídos em quatro ilhas. Nesse sentido, orientamos que busquem se deslocar para alguma das ilhas do país que contam com aeroportos internacionais, exceto a ilha da Boa Vista, a saber: ilha do Sal, ilha de Santiago (Praia) e ilha de São Vicente (Mindelo). A Embaixada manterá todos informados sobre novos desdobramentos. Estamos cientes da gravidade da situação e permaneceremos empenhados na construção de uma solução. Trata-se de uma situação global, que tem afetado milhares de brasileiros em todo o mundo. Solicitamos que mantenham a calma, busquem tranquilizar uns aos outros e aguardem novas informações do Setor Consular da Embaixada".

À imprensa, a Embaixada do Brasil afirma que há uma sinalização importante do Ministério do Turismo e dos Transportes local sobre a possibilidade de um voo especial, de caráter humanitário, para repatriação dos viajantes brasileiros na próxima semana.

"Ainda não há definição da data exata da partida do voo. Solicitamos aos brasileiros que se encontram nessa situação que mantenham a calma e que aguardem novas informações da Embaixada sobre o procedimento de repatriação a ser adotado. Manteremos todos informados de qualquer novo desdobramento ao longo do final de semana", diz a nota.

*com colaboração de Renato Feitosa

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