Cobrança de R$ 95 em Ilha Grande gera reação do setor turístico

Audiência pública na Alerj vai discutir a legalidade e os impactos da nova taxa

Foto: (Ilha grande/ Divulgação turismo)
Foto: Foto: (Ilha grande/ Divulgação turismo)
Foto: (Ilha grande/ Divulgação turismo)

Quanto custa pisar em um dos patrimônios mundiais da Unesco? Em Angra dos Reis, no litoral do estado do Rio de Janeiro, essa resposta virou motivo de uma intensa disputa política e econômica.

A Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) realiza uma audiência pública nesta quinta-feira (13), para discutir a nova Taxa de Turismo Sustentável (TTS). A medida, aprovada recentemente pela Câmara Municipal, estipulou um valor de R$ 95 por visitante para a entrada na Ilha Grande, o que gerou uma forte reação de empresários e moradores.

A Associação dos Meios de Hospedagem da Ilha Grande (AMHIG) não poupou críticas, classificando a taxa como “injusta e prejudicial ao turismo local”. O temor é que o "pedágio" afaste os viajantes, especialmente em tempos de concorrência acirrada entre destinos. A Associação ainda participou do encontro e alertou que o valor pode afastar turistas e encarecer viagens em família.

"A concorrência com o continente é desleal e vai gerar a informalidade já que tem vários acessos a Ilha em bairros e municipio ao lado. " disse Fábio Nunes Ferreira um dos Representantes da Associação dos Meios de Hospedagem da Ilha Grande em nota. 

A entidade fez as contas e o resultado assusta o bolso do turista médio : “Um casal com dois filhos gastará quase R$ 1.180 apenas com barco e taxa. Isso é incentivo ao turismo? ”, questiona a associação em nota.

O estudo ignorado e o "recuo"

A polêmica ganha contornos ainda mais complexos quando se olha para os bastidores da lei. Um estudo técnico realizado pela própria Prefeitura de Angra dos Reis recomendava uma taxa irrisória de R$ 2,70, com o dinheiro carimbado especificamente para a preservação ambiental.

No entanto, a versão aprovada pelos vereadores elevou o valor drasticamente e direcionou a arrecadação para o caixa geral do município, o que permite que o dinheiro seja gasto em áreas não relacionadas ao turismo ou ao meio ambiente.

Diante da pressão popular e do setor hoteleiro, a prefeitura anunciou que vai alterar a regra, propondo uma redução e um escalonamento da cobrança.

Como deve ficar o preço?

Pela nova proposta apresentada pelo Executivo municipal, a quantia será amortecida nos primeiros anos. Veja os valores previstos para começar a valer em 2026:

Visitantes do continente (Day Use): R$ 23,75 (equivalente a 5 UFIRs).
Hóspedes na Ilha Grande: R$ 47,50 (10 UFIRs).

Taxa extra: Cada diária adicional custará R$ 2,37.

A implementação será gradual:
em 2026, haverá um desconto de 50% sobre o valor cheio. Em 2027, o desconto cai para 25%. A partir de 2028, a taxa será cobrada integralmente.

Quem não paga?

Para acalmar os ânimos locais, uma lista extensa de isenções foi definida. Não pagarão a taxa:

Moradores de Angra dos Reis e parentes até o segundo grau;
Prestadores de serviço;
Crianças de até 12 anos e idosos acima de 60 anos;
Ônibus cadastrados no Cadastur;
Quem comprou pacotes turísticos até o fim de 2025 (com embarque até julho de 2026).


A meta: "Esgoto Zero"

Angra dos Reis recebe cerca de 1,8 milhão de visitantes por ano, sendo que 1,2 milhão têm como destino a Ilha Grande.

A prefeitura estima arrecadar R$ 150 milhões com a nova taxa. A promessa é utilizar a verba para saneamento básico, preservação, segurança e infraestrutura. A meta ambiciosa da gestão municipal é atingir os status de “Esgoto Zero” e “Lixo Zero” na ilha até 2028.