Com uma programação diversificada, o projeto tem o objetivo de potencializar o borogodó brasileiro por meio de vivências criativas e sustentáveis para expandir pessoas e negócios
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Com uma programação diversificada, o projeto tem o objetivo de potencializar o borogodó brasileiro por meio de vivências criativas e sustentáveis para expandir pessoas e negócios

Em um espaço de 10 mil m², cercado por natureza e uma bela vista ilha paradisíaca de Gamboa, na Bahia, a Base da Unesco-Sost Transcriativa está sediada em uma comunidade quilombola, oferecendo um espaço para o que é chamado de Turismo de Capital Intelectual , a fim de unir o melhor da criatividade ou, como é definido, o “Borogodó” do brasileiro.

O projeto foi fundado durante o ano de 2019, após uma viagem para pesquisa em 12 estados brasileiros, a fim de se reunir ideias sobre criatividade aplicada à geração de renda, diferenciação de negócios e geração de valor. A partir de conteúdos elaborados por meio dessas ideias, foi formado o projeto, assumindo assim a vertente de “Turismo de Capital Intelectual”.

O que é Turismo de Capital Intelectual

A base Unesco-Sost Transcriativa, em Gamboa (BA), é um espaço de criatividade com Turismo de Capital Intelectual
Divulgação
A base Unesco-Sost Transcriativa, em Gamboa (BA), é um espaço de criatividade com Turismo de Capital Intelectual

Alex Lima, hunter da Unesco-Sost Transcriativa , explica ao iG Turismo que o Turismo de Capital Intelectual é “uma maneira de ver um novo nicho de mercado de turismo”. Segundo ele, isso se define como uma viagem de ganho de conhecimento – para estudos e para ter novas experiências -, assim como para uma forma de moradia. Tudo de maneira integrada.

“Ir à Miami para fazer compras não é Turismo de Capital Intelectual - e não desmerecendo - mas você ir para o sertão do Cariri, para estudar sobre o Patativa do Assaré, isso entra em um outro contexto”, diz.

Alex aponta que o objetivo é semelhante ao do Turismo Religioso, ou seja, ter novas experiências, vivência e, por meio delas, obter novos conhecimentos. “Não é simplesmente ir à praia para relaxar ou ir para Jurerê para aproveitar a noite. É viver uma experiência completamente diferente e com isso aprender sobre algo. Então, na base há uma vivência com inovação e criatividade. E é nesse tipo de aprendizado que a gente, mais do que vender uma diária, entrega uma experiência de Turismo de Capital Intelectual”.

Para saber do seu próprio valor e o valor de suas ideias

“A valorização do capital intelectual brasileiro, mais do que uma questão mercadológica, tem também uma questão de autoestima. Estamos lutando contra o complexo de vira-lata. O que nós fazemos aqui em Gamboa, uma comunidade de 3 mil pessoas, que possui difícil acesso, é algo absurdo”, diz o hunter.

Ele afirma que as pessoas estão se interessando em viver esse tipo de transformação, seja por meio de palestras, podcasts, entre outras opções. “Acredito nesse movimento de resgate da autoestima do brasileiro, como se fosse um gigantesco alarme para dizer que o próximo passo precisa da nossa criatividade”.

Alex questiona: “É o caso, por exemplo, de um sorveteiro que vende picolé de uma forma completamente diferente e por isso ele vende 10 vezes mais. Então como podemos colocar essa tecnologia e esse pensamento a favor de uma marca que quer se diferenciar, mas está fazendo tudo sempre da mesma forma?”.

Aí entra a transformação digital, que já está acontecendo há muito tempo e, segundo ele, está levando todo mundo a ser “mais do mesmo”, e é necessário sair da mesmice.

“A transformação criativa não é o projeto em si, mas é sobre esse movimento de valorização da criatividade genuinamente brasileira, aplicada para pessoas, negócios e territórios. Quando isso acontecer, a geração de valor acontece”, pondera.

Na base do projeto existe toda uma fiscalização desse movimento, onde acontecem vivências criativas para empreendedores, empresários, profissionais liberais, nômades digitais, famílias que queiram passar um período em um ambiente agradável e enriquecedor.

“A base é uma forma de fisicalizar (tornar físico) esse comportamento do movimento que tem como objetivo final e absoluto a valorização da criatividade brasileira para o mundo”, conta Alex.

Mostrando o Brasil criativo para o mundo

“Quando a gente chega lá com a Unesco Barcelona, queremos ser exemplo para fora. Queremos que as pessoas ao invés de irem para o Vale do Silício ou para Israel, venham para o Brasil ver o que está acontecendo aqui. Venham entender o que é uma produção do Carnaval, por exemplo. Isso, como gestão de projeto, tem o mundo para ser ensinado. Todo o gerenciamento desse espetáculo é algo absurdo”, detalha.

Um espaço para nômades digitais

Entendendo que se trata de um projeto para que busca expandir, criar e conhecer novas ideias, é natural entender que seja um projeto totalmente voltado para empreendedores, ou mesmo investidores. Mas não é exatamente assim e o local está aberto para receber o público de forma geral.

“Hoje qualquer pessoa pode visitar a base como hóspede, inclusive temos pacotes aqui para isso. São três opções de pacotes: sete dias, 15 dias e um mês. A pessoa também pode passar uma curta temporada ou morar aqui por até três meses. Recebemos intercambistas em uma parceria com a Worldpackers, que troca hospedagem por trabalho”, explica o hunter da Unesco-Sost.

Alex aponta exemplos como os nômades: “São as pessoas que vêm para trabalhar daqui, para se conectar com outras pessoas, cocriar outros projetos e ter outros tipos de insights do trabalho que ele não teria se estivesse trabalhando fisicamente. Então aqui ele tem toda a estrutura para isso”, afirma Alex, que ressalta que, por lá, ainda se faz tudo isso “com direito ainda a banho de mar e água de coco”.

O objetivo é transformar

Alex afirma que, ainda que todos sejam bem-vindos, o objetivo é que se tenha cada vez menos hóspedes e mais transcriativos, por isso vão acontecer algumas remodelações nos dias de estada.

“Hoje aceitamos hóspedes, mas focamos muito mais nessas experiências imersivas de Turismo de Capital Intelectual. A pessoa que vem viver um mês aqui sai completamente ‘virada do avesso’, esse é o objetivo”, afirma.

“Então nós vamos aumentando [os pacotes] de sete dias para 15, e de 15 para 30, focando mais nisso. Ainda não estamos operando essas imersões, mas certamente em 2023 vamos fazer muito disso. Imersões de sete dias que têm um grande valor”, aponta.

Uma realidade extremamente brasileira

Toda essa imersão apontada por Alex, que visa transformar as pessoas intelectualmente, é coroada por um ambiente paradisíaco em uma ilha baiana, algo que ajuda a “se desconectar” do resto do mundo.

“[O turista] vai encontrar uma realidade extremamente brasileira, essa vivência no borogodó, que a gente até chama de ‘borogodó soft landing’. É uma realidade completamente brasileira, com deficiências, com necessidades, com situações reais. Por outro lado, ele também vai encontrar uma realidade extremamente positiva, abundante, criativa e gastronômica. Ele vai se desconectar do mundo onde está e se conectar em um outro tempo”, comenta ele.

Alex diz que chegar ao local onde tudo acontece, por si só, já é um processo de desconexão para que o turista possa se conectar com uma outra forma de viver, de trabalhar, de gerar valor, de fazer um processo de inovação que não está necessariamente dentro de uma sala, onde ele sempre vê as mesmas pessoas, da mesma forma, em um mesmo horário.

“Ele estará aqui produzindo intelectualmente, gerenciando o negócio dele de onde estiver e colaborando e cocriando com outras pessoas. Ele aprende, inclusive, o valor do próprio borogodó e pode deixar isso na base ou na comunidade, caso seja o desejo dele. A gente chama isso de ‘transbordo’”, conta.

Alex lembra que já receberam artistas gráficos de Salvador e da Suíça, que não fizeram artes apenas para a base do projeto, mas também para fora, e que o interesse é ir mais além.

“Nós estamos começando a atrair marcas que não só coloquem situações aqui, mas para fora também. Um exemplo disso é a parceria que estamos fazendo com três empresas de brinquedo. Eles vão fazer toda a estrutura aqui da base para crianças, mas também vão abastecer as duas creches locais com estruturas similares. Então, nesse processo você deixa o seu borogodó”, explica.

O Borogodó é a moeda do futuro

O projeto tem como um de seus lemas afirmar que “o borogodó é a moeda do futuro”, entendendo que esse borogodó é a criatividade genuinamente brasileira, algo que nos difere do resto do mundo.

Alex explica que é algo “que todos nós compartilhamos em níveis diferentes, mas ainda assim, a nossa brasilidade nos diferencia frente ao mundo, que cada vez mais vai precisar de soluções criativas para resolver problemas nesse caminho da transformação 5.0.

Ele continua: “Se olharmos para caminhos de comportamento de negócios daqui para frente, eles não serão necessariamente os que estão em linha de produção em escala mais industrializada. Não necessariamente uma questão tecnológica vai me diferenciar”.

Hoje, como Alex ressalta, existem serviços que podem ser feitos remotamente, algo que há 10 anos não era possível, se tornando possível graças ao avanço tecnológico.

“O próximo passo disso, que é a transformação 5.0, é o uso da criatividade para resolver problemas. E nós somos um país extremamente criativo. O borogodó é exatamente isso, a moeda do futuro, não só para o brasileiro, mas principalmente do brasileiro para o mundo”, comenta Alex, que explica um pouco do conceito de “mercado 5.0”, como sendo o de “sociedade da imaginação”, e “sociedade da inteligência”, onde tudo está conectado e cabe ao coletivo resolver outros problemas que precisam ser resolvidos.

“Então em um processo desse, o borogodó daqui a pouquíssimo tempo, passa a ser uma moeda de valor. Uma empresa da Alemanha contratar um brasileiro para solucionar um problema já é um exemplo disso. Isso aconteceu na tecnologia com a Índia, hoje os CEOs das grandes empresas são todos indianos. Então o próximo passo é trazer a criatividade no processo de gestão exatamente para achar novas soluções. E nisso o brasileiro é imbatível. Aí é que está a aposta do borogodó como moeda do futuro”, pontua.

O foco é na criatividade e na transformação de forma acessível para todos

O hunter explica que a Transcriativa tem como foco fortalecer e valorizar a criatividade genuinamente brasileira como atrativo, diferencial e principal ponto de valor de uma pessoa, de um negócio ou mesmo de um território. De modo que as pessoas não viagem apenas “por viajar”, aproveitando aquele momento específico, mas que essa viagem tenha um caráter transformador, tanto pessoal, quanto profissionalmente.

“E nós podemos ver isso no turismo com muita facilidade. Um exemplo é quando a pessoa vai até Belém para comer um pastel. Ou quando falamos do design brasileiro, da música brasileira”, pontua.

Seguindo esse pensamento de processo de economia criativa, Alex aponta os principais diferenciais para o Brasil e para o mundo, que deve começar a ver tudo isso como um motor de diferenciação.

“Não adianta ter o produto mais barato ou ser o mais ágil se daqui a pouco tudo vai ser muito igual. O que vai diferenciar um do outro é essa capacidade criativa de ser único, de ser desejado o suficiente para viver aquele tipo de coisa, independentemente de ser uma marca de roupa, uma marca de software, entre outras.”.

Todo esse processo tende a ser de uma forma cada vez mais emocional, do ser humano que pode ser envolver, algo que uma máquina não é capaz de fazer. “Então, o que fazemos é valorizar essa criatividade focada aqui no Brasil, um dos países mais criativos do mundo, e direcionar isso para o borogodó”, afirma Alex.

Além das hospedagens, Alex explica que na base são produzidos diversos conteúdos, como webséries, entrevistas, reunião de autoridades criativas do Brasil para colocar tudo em um projeto ainda maior. “Como é o caso da Unesco. Fazemos isso também em eventos, conectando pessoas e marcas que valorizam isso. E, principalmente, entregando todo esse tipo de coisa com acesso gratuito, esse é o nosso foco”.

“Então essa rede começa a se conectar e se consumir, seja na parte de capital intelectual, na produção de algum texto, na criação de algum filme, participação em algum evento, uma aula etc. Tudo isso a rede começa a fazer para distribuir ou transbordar essa moda, o próprio borogodó”, explica.

O ponto e chegada

Alex afirma que o grande objetivo é que se possa patrocinar ideias, levando outras pessoas a conquistarem seus objetivos por meio dessa criatividade – ou borogodó.

“Na nossa primeira expedição fomos atrás de mais de 120 projetos e hoje temos uma rede de 64 pessoas que devem ter infinitamente mais projetos do que esses que a gente já viu. Então, o objetivo do projeto Unesco-Sost em um ano é chegar nisso, a promoção desses exemplos de criatividade genuinamente brasileira, de pessoas, negócios e territórios”, ele aponta.

“Então, para resumir, o que fazemos como Transcriativa é a identificação, o direcionamento, a aceleração e a promoção desses exemplos de criatividade brasileira. E fazemos isso na base, em vídeos, em eventos e por meio da conexão de marcas”, conclui.

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