
O governo da Itália aprovou novas regras para concessão de cidadania por descendência nesta sexta-feira (28). A medida restringe o benefício a pessoas com pelo menos um dos pais ou avós nascidos em solo italiano. O objetivo é evitar abusos no sistema e reduzir a alta demanda em consulados no exterior.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, anunciou as mudanças em entrevista coletiva. “Ser cidadão italiano é algo sério. Não é um jogo obter um passaporte que permita fazer compras em Miami”, declarou. Segundo ele, muitos pedidos vinham de descendentes sem vínculos reais com o país.
Até agora, qualquer pessoa que provasse ter um ancestral italiano vivo após 1861, ano da unificação da Itália, podia solicitar a nacionalidade. Com a nova regra, apenas netos de italianos natos manterão esse direito. A mudança afeta principalmente descendentes em países da América do Sul.
O Ministério das Relações Exteriores informou que o número de cidadãos italianos vivendo no exterior cresceu 40% na última década, passando de 4,6 milhões em 2014 para 6,4 milhões em 2024. O aumento ocorreu, em grande parte, devido a concessões de cidadania por ascendência.
Apenas na Argentina, os reconhecimentos saltaram de 20 mil em 2023 para 30 mil em 2024. No Brasil, os números subiram de 14 mil para 20 mil no mesmo período. O governo italiano acredita que a flexibilização das regras antigas incentivou o crescimento desses pedidos.
Tajani criticou empresas que lucram com o processo, ajudando solicitantes a rastrear ancestrais e reunir documentos necessários. “Estamos atacando duramente aqueles que querem ganhar dinheiro com a oportunidade de se tornarem cidadãos italianos”, afirmou.
A nova legislação também suspende todos os agendamentos para pedidos de cidadania até que o sistema seja reformulado. No futuro, a análise dos processos será feita diretamente em Roma, reduzindo a carga de trabalho dos consulados.
A Itália enfrenta um declínio populacional e já considerou alternativas para manter sua demografia. A primeira-ministra Giorgia Meloni sugeriu facilitar a vinda de cristãos de ascendência italiana, especialmente da Venezuela, para compensar a queda no número de habitantes.
Críticos da cidadania por ancestralidade alegam que o sistema beneficiava pessoas sem laços culturais ou sociais com o país. Ao mesmo tempo, filhos de imigrantes nascidos na Itália precisam esperar até os 18 anos para solicitar um passaporte, mesmo falando italiano fluentemente.