A aventura de hoje aconteceu em outubro de 2014, quando decidi ir para o Senegal depois de visitar a Tunísia e atravessar todo o Marrocos, até o extremo sul. E não foi nada fácil chegar até o próximo destino.
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O problema é que eu teria que cruzar duas fronteiras complicadas. A primeira seria a do Saara Ocidental com a Mauritânia, que passa por um território chamado "Terra de Ninguém" – área disputada pelo Marrocos e pela República Árabe Saharaui Democrática. Já a segunda era entre a Mauritânia e o Senegal , local considerado por muitos como a fronteira mais corrupta do mundo.
Treze horas de viagem
Mesmo sabendo dos perigos, era hora de seguir viagem até o Senegal. Estava em Dakhla, no Marrocos, e combinei com um homem o preço para que ele me levasse de carro até Nouadhibou , maior cidade do norte da Mauritânia. A viagem era de apenas 430 km, mas durou treze horas! E não ache que foi por causa da condição precária do asfalto. O que tornou a viagem extensa foram as treze barreiras policiais que tinham até a fronteira com a Mauritânia.
A sorte é que trouxe comigo dez cópias do meu passaporte. Assim, mostrava o documento original e deixava uma cópia com os oficiais. Com isso, economizei dez minutos (ou mais) em cada uma das barreiras, pois como eles não tinham computadores e precisavam escrever todos os dados em uma folha de papel.
Primeira fronteira e a "Terra de Ninguém"
Neste trecho não encontramos nenhuma alma viva, exceto os policiais. Pensando na densidade demográfica, esse é um dos países menos populosos do mundo.
Quando passamos a fronteira, entramos em uma zona chamada “ Terra de Ninguém ”. Como o nome já diz, essa região, de alguns quilômetros de extensão, não pertence a nenhum país e é completamente abandonada. Foi um dos lugares mais sujos que vi na minha vida.
Além disso, a Terra de Ninguém possui um grande cemitério de carros , com veículos que ficaram por lá porque atolaram, quebraram ou foram contrabandeados. Como não há estrada para atravessá-la, é preciso fazer muitos ziguezagues com o carro para não ficar atolado na areia e acabar como os outros veículos. Fiquei um pouco apavorado por estar em um lugar sem leis, mas nada de ruim aconteceu comigo.
Bônus no caminho: o maior trem do mundo
Ao chegarmos à Mauritânia, tivemos a sorte de ver passar bem na nossa frente o maior trem do mundo, que é usado para transportar ferro das minas. À noite, ao entrar na cidade de Nouadhibou, cansados da viajar o dia todinho em um carro velho e sem ar condicionado debaixo de um sol de rachar no deserto do Saara , fui direto para o hotel (muito, mas muito simples) e desmaiei de sono.
Segunda fronteira e o desafio da propina
Depois de conhecer Nouadhibou e a capital Nouakchott , resolvi ir para Dakar, que é a capital do Senegal. Eram apenas 550 km de distância, mas a viagem também levava um dia inteiro, mais uma vez por causa das barreiras policiais e pela demora na travessia de mais uma fronteira.
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Sair da Mauritânia, na cidade de Rosso , até que foi tranquilo. O problema foi entrar no Senegal. O lugar parecia um formigueiro, um monte de filas e gente correndo para todos os lados. O que me ajudou é que eu falo francês e consegui fazer amizade com uma pessoa que tinha influência com os policiais que trabalhavam no local. Mas logo vi que teria mais dificuldades pela frente.
Já visitei 17 países africanos, e em quase todos os oficiais pediram propina para me deixar passar por terra. Nesta fronteira não foi diferente. O policial corrupto não queria deixar que passasse sem pagar, especialmente porque eu era um turista. Indignado e por ser murrinha, disse que não pagaria. O oficial segurou meu passaporte por alguns minutos para fazer um jogo psicológico e disse que se eu não pagasse, não entraria.
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Então resolvei ser malandro com ele, disse que só pagaria se ele me desse um recibo e menti falando que era um jornalista. Depois, perguntei se ele realmente gostaria de continuar com essa atitude. Com um olhar de ódio, o policial me entregou o passaporte calado e me deixou entrar no país.
Senegal, finalmente
Cruzando a linha, entrei em outro carro que me levou até Dakar . Como de costume, fiz amizade com alguém que estava no mesmo carro e acabei passando a noite na casa dessa pessoa. Entrar no Senegal foi parte mais complicada e um dos grandes desafios que já passei viajando, mas sobrevivi a mais essa aventura.
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*Igor Galli é um Viajante Pesquisador e Escritor do livro “As Melhores Atrações Culturais do Mundo”. Está há 14 anos viajando e conhece 153 países e 588 estados e regiões do nosso planeta. Possui o recorde do brasileiro e latino-americano mais viajado do mundo, está entre o top 100° no ranking mundial e na classificação da sua idade, é a pessoa mais viajada do mundo. Toda quinta-feira o viajante estará aqui no iG Turismo para compartilhar histórias e aventuras.
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