A Austrália é um país que sempre tive vontade de visitar, mas conhecer a ilha da Tasmânia, esse sim, era um dos meus grandes sonhos. A ilha está localizada a 250 km ao sul da Austrália e é nessa região que fica abrigado o famoso e endêmico animal conhecido como diabo da Tasmânia.
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Em março de 2014, pesquisando previamente sobre o que fazer na ilha, descobri que o local possui um dos melhores trekkings - ou trilhas - do mundo: o cobiçado Overland Track. Em questão de um mês, resolvi fazer minhas malas e visitar esse paraíso na Tasmânia .
Overland Track
O Overland Track está localizado na parte central da ilha, que possui o relevo mais alto da região. É um dos lugares preferidos de quem gosta de avistar a vida selvagem característica do país. Durante o trajeto é comum ver animais como o canguru pequeno, vombate e possum.
No final da caminhada, no lago St. Clair, você também encontrará ornitorrincos nadando. Já o diabo da tasmânia é bem raro de se ver, pois foi quase extinto devido a um câncer transmissível. Hoje, boa parte da espécie vive em cativeiros e um excelente lugar para ter contato com esse animal é no Bonorong Wildlife Reserve , que está próximo da capital Hobart .
Economizando no trekking
A maioria dos turistas realizam o trekking através de um tour, onde há guia, comida e lugar para dormir. Eu, ao contrário, gosto de fazer sozinho, pois além de ir caminhando e meditando, eu também aperfeiçoo minhas habilidades de sobrevivência na natureza.
O que difere muito é o preço. Por conta própria, o principal gasto é a taxa do parque, que custa em torno de 230 dólares australianos. Agora se você optar por um tour guiado, o preço gira em torno de 2.500 dólares australianos. É muita diferença, né?
Frio na barriga
Bem, tenho que confessar, quando saí do centro de visitantes e comecei a caminhada sozinho em uma manhã nublada, deu um frio na barriga. Eu estava em um ambiente completamente desconhecido. Não conhecia a fauna e nem a flora, sabia somente o que estudei antes em = minha preparação.
Eu já escalei montanhas e realizei vários e vários trekkings ao redor do mundo, mas nunca tinha carregado uma mochila tão pesada comigo. Eram mais de 20 kg com equipamentos, barraca, isolante térmico, saco de dormir, kit de primeiros socorros, fogareiro, muita roupa de frio, comida para seis dias e outras coisas.
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Fora isso, quando você está fazendo trilha numa região inóspita, qualquer erro de cálculo pode te levar a morte. Se eu levasse pouca comida, não teria força para continuar a caminhada. Se eu não tivesse roupa de frio adequada, poderia morrer de hipotermia. Se eu torcesse o pé ou machucasse de alguma outra forma, também poderia ser meu fim. Ou seja, se algo acontecesse eu dependeria da sorte de outra pessoa passar no local e me socorrer.
Animais selvagens
A Austrália é o país mais peçonhento do mundo e o mais perigoso, já que não é difícil ter contato com animais selvagem. As cobras mais venenosas do mundo estão nessa terra! Para você ter uma noção, eu morei por um tempo no norte do país e lá ninguém se arriscava a entrar nos lagos, pois o risco de ser atacado por crocodilos era grande.
Até mesmo no mar do norte e nordeste do país, há os crocodilos de água salgada, que são os maiores do mundo. Também há mortíferas águas vivas e pássaros que podem chegar a dois metros de altura, como a casuar, uma rara ave azul, comum de ser encontrada na floresta de Daintree.
Caminho estreito
Foi em um desses contatos com um animal australiano, que vi mais uma vez a morte de perto. Depois de ir ao topo da montanha Craddle e no monte Ossa - que é o ponto mais alto da ilha - entrei numa área de mata fechada. Essa área estava exatamente a três horas de caminhada, no meio da trilha.
O caminho era bem estreito, então só era possível andar uma pessoa atrás da outra, como uma fila indiana. Os arbustos que delimitavam o caminho eram grandes, e não havia como ver nada além de uma pequena faixa de terra por onde meus pés passavam.
Encarando o perigo
Caminhando distraído, passa em minha frente, rente ao meu pé, uma cobra tigre de quase dois metros. Essa serpente é bem venenosa e sua picada é letal. Eu estava a mercê deste animal, pois sabia que, se ela me picasse, era morte na certa.
Quem iria me ajudar? Eu teria menos de uma hora de vida. Meu corpo estava tão próximo dela, que se eu tentasse mover, o bote dela com certeza seria mais rápido. Fiquei pálido, minha boca secou e em entrei em estado de choque. Meu corpo ficou completamente paralisado e minha vida passou mais uma vez como um flashback.
É muito difícil manter a calma e saber o que fazer numa situação de perigo. Graças a Deus, a cobra não me fez mal. Respirei fundo, e quando eu ia dar a primeira passada, a bendita veio de novo.
Desta vez, ela estava me encarando. Toda a adrenalina que passei há cinco segundos, veio à tona, mas desta vez foi mais forte. Senti desespero e tive que me controlar. Eu sabia que ela estava incomodada com minha presença, mas o que ela não sabia, era que eu estava muito mais incomodado com a presença dela.
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Por sorte, mais uma vez a serpente passou, mas desta vez, rapidamente tomei um impulso e saltei tão alto, que não sei explicar como consegui. Saí correndo só para garantir que ela não viria atrás de mim como uma cobra caninana. Aliviado, passei o restante dos dias na caminhada agradecendo a Deus por nada ter acontecido e aproveitando essa atração da ilha da Tasmânia.
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*Igor Galli é um Viajante Pesquisador e Escritor do livro “As Melhores Atrações Culturais do Mundo”. Está há 14 anos viajando e conhece 153 países e 588 estados e regiões do nosso planeta. Possui o recorde do brasileiro e latino-americano mais viajado do mundo, está entre o top 100° no ranking mundial e na classificação da sua idade, é a pessoa mais viajada do mundo. Toda quinta-feira o viajante estará aqui no iG Turismo para compartilhar histórias e aventuras.
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