2008 e 2015. Visitei o Líbano nessas duas datas e foram dois cenários distintos. Na primeira vez, fui ao país logo depois da Guerra Israel-Líbano. Naquele período era comum avistar marcas de balas nos prédios. Também era frequente a revista de civis pelo exército e vários soldados me paravam na rua para me interrogar. Não me senti seguro em explorar o país, me restringi em ficar somente na capital Beirute e ainda nem sonhava em conhecer sede do Hezbollah.
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Já na segunda passagem, em outubro de 2015, consegui conhecer melhor suas maravilhas do local. Essa nova passagem pelo Líbano contou com uma visita ao templo Bacchus, o maior remanescente da herança greco-romana no mundo, e muito perigo para chegar até lá. Foi dessa vez que resolvi tentar conhecer o Hezbollah .
Terra do Hezbollah
Esse templo fica na cidade de Baalbek e teria de visitá-lo para escrever parte do meu livro “As Melhores Atrações Culturais do Mundo”. De todas as peripécias que vivenciei no país, a que mais se destaca foi minha ida à cidade.
Além, de estar bem próximo à fronteira com a Síria , o Baalbeck é a sede do grupo militante islâmico xiita Hezbollah. Mas o que eu podia fazer? Às vezes minha coragem transpassa a razão. De novo arrisquei a minha vida e desta vez, poderia ser sequestrado.
Plano antissequestro
Entrei em um transporte público de Beirute e fui em direção ao meu destino, que estava a 89 km (2 horas de van) ao leste da capital. Foram as duas horas mais longas da minha vida. No veículo havia dois homens meio maltrapilhos, com um jeito estranho e com o semblante mal no rosto. O maior problema é que eles não paravam de olhar para mim e cochichar. A situação estava tão esquisita que eu tinha certeza que eles iriam me sequestrar.
O que eu poderia fazer nesse caso? Estava dentro de uma van, percorrendo uma área montanhosa, perigosa, indo em direção a cidade sede do grupo extremista Hezbollah e tinham dois membros deles que supostamente queriam fazer algo de mal comigo.
Para piorar, já próximo a meu destino, os homens começaram a conversar com o motorista e com mais um que estava no veículo. Os quatro me encaravam, cochichavam e conversavam ao celular.
Comecei a meditar e a orar, pensando em plano antissequestro em como eu sairia dessa circunstância. Tive uma ideia: também vou fazer amizade por aqui, fazer parte de um grupo e não parecer que estou viajando sozinho.
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Vi uma família com um filhinho, sentei ao lado deles e ofereci uma bolacha para o menino –sempre trago na mochila pacote de biscoito e balinhas quando estou viajando em países em desenvolvimento. Já consegui muitas hospedagens de graça com essas guloseimas, mas, nesse caso, eu não queria dormir na casa deles, eu ia voltar de tarde para capital. Só precisava chegar vivo e bem ao templo que queria conhecer.
Ao mesmo tempo, comecei a pensar no que aconteceria se o plano falhasse e fosse realmente sequestrado pelo Hezbollah. Como minha família pagaria milhões de dólares de resgate? Se eles soubessem que sou brasileiro, até que pediria menos, às vezes uns US$ 500 mil, mas mesmo assim eu não teria como pagar. O problema era que eu estava viajando com meu passaporte italiano e nesse caso, para europeu, a cifra subiria para mais de US$ 1 milhão. A minha ideia tinha de funcionar.
Santa bolacha!
Bem, quando eu ofereci bolacha para o menino, com um jeitinho brasileiro de puxar assunto, começamos a conversar e uma amizade aconteceu. Passamos o restante da viagem conversando e rindo. Dava para ver a cara de decepção dos outros homens. Agora eu estava com essa família. Creio que os homens não me sequestrariam ao lado deles.
Quando chegamos em Baalbek, os homens saíram primeiro da van e ficaram esperando do lado de fora. Claro, pedi para a família me acompanhar até o templo . Assim, caminhamos juntos ladeira abaixo e os homens desistiram e pegaram outra direção.
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Esse foi apenas um caso do que me aconteceu no Líbano que jamais esquecerei, mesmo sendo perigoso foi muito poder conhecer Hezbollah de perto. Próximo destino, Iraque, mas essa aventura será relatada em um outro capítulo.
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*Igor Galli é um Viajante Pesquisador e Escritor do livro “As Melhores Atrações Culturais do Mundo”. Está há 14 anos viajando e conhece 153 países e 588 estados e regiões do nosso planeta. Possui o recorde do brasileiro e latino-americano mais viajado do mundo, está entre o top 100° no ranking mundial e na classificação da sua idade, é a pessoa mais viajada do mundo. Toda quinta-feira o viajante estará aqui no iG Turismo para compartilhar histórias e aventuras.
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