a pergunta que nao quer calar: quem paga essa conta?
Vitor Vianna
a pergunta que nao quer calar: quem paga essa conta?

Imagina só um país onde você pode embarcar no trem, no ônibus ou no bonde sem pagar nada! Não somente por um trecho, mas em todo o território nacional. Esse país é Luxemburgo, no coração da Europa Ocidental.

Sempre que estou por lá, confesso que ainda sinto uma sensação muito estranha ao entrar em um transporte público e não ter que pagar absolutamente nada. Tenho certeza de que todos os brasileiros sentem o mesmo, porque esse é justamente o feedback que recebo dos meus clientes quando levo grupos para o país com a minha agência. É uma mistura de surpresa e admiração, afinal de contas, estamos acostumados a pagar caro até pelos deslocamentos curtos nas grandes cidades, como é o caso da minha cidade, no Rio de Janeiro, onde um ticket de metrô custa quase R$ 8,00. Então imagine: poder ir trabalhar, voltar, circular, fazer tudo o que quiser usando transporte público totalmente de graça... é algo realmente diferente.

Luxemburgo ainda é pouco conhecido pelos brasileiros e normalmente não faz parte do roteiro tradicional de quem planeja uma viagem pela Europa. Mas ele deveria. O país é pequeno, encantador e fica estrategicamente localizado entre a Bélgica, a França e a Alemanha, o que torna fácil incluí-lo em uma viagem por esses destinos. É possível chegar de trem, de ônibus ou até mesmo de carro, e em apenas dois dias você consegue conhecer boa parte da capital e das áreas turísticas principais antes de seguir viagem. Se você, assim como eu, gosta de sair do óbvio, Luxemburgo merece entrar no seu roteiro!

Agora, vamos ao ponto inicial: como funciona esse transporte público gratuito que desperta tanta curiosidade.

Desde 29 de fevereiro de 2020, Luxemburgo se tornou o primeiro país do mundo a oferecer transporte público gratuito em todo o território nacional. A medida inclui ônibus, trens e bondes, tanto para moradores quanto para turistas. É isso mesmo, você pode circular pelo país inteiro sem gastar um centavo em passagens. A única exceção fica para quem deseja viajar em primeira classe nos trens, que continua sendo paga. Mas fora isso, basta embarcar. Ninguém pede bilhete, ninguém cobra nada. Você simplesmente entra, escolhe seu assento e aproveita a viagem.

A decisão de tornar o transporte gratuito foi motivada por três principais fatores: sustentabilidade, acessibilidade social e simplicidade administrativa. O governo queria reduzir o uso de carros e o congestionamento nas cidades, melhorar a qualidade do ar e incentivar hábitos mais sustentáveis. Além disso, a medida ajuda pessoas de todas as classes sociais a se deslocarem com mais facilidade, e ainda elimina os custos e a burocracia com emissão e controle de passagens.

Claro que uma decisão desse porte só foi possível porque Luxemburgo é um país pequeno, rico (inclusive o país mais rico do mundo) e muito bem organizado. O território é compacto, as distâncias são curtas e a rede de transporte público é eficiente e moderna. Tudo isso facilita a logística e o funcionamento do sistema gratuito, algo que seria mais difícil de aplicar em países maiores e mais populosos.

Na prática, funciona de forma muito simples: qualquer pessoa pode usar o transporte público dentro do país sem pagar. É só subir no ônibus, no bonde ou no trem e seguir viagem. E, sim, o serviço continua de altíssima qualidade, com horários precisos, veículos limpos e boa cobertura das principais regiões.

O resultado dessa política foi extremamente positivo. Além de facilitar a vida dos moradores, o sistema gratuito se tornou um verdadeiro cartão de visita para os turistas, que se encantam ao descobrir um país moderno, eficiente e acessível.

Mas a essa altura você deve estar se perguntando: quem paga essa conta?  Todo o sistema é financiado pelo governo por meio dos impostos. Antes da mudança, a venda de passagens representava menos de 10% do custo total de operação, o que fez o país entender que abrir mão dessa receita seria viável. Hoje, o investimento é totalmente coberto pelo orçamento nacional, e o governo considera que o retorno em mobilidade, sustentabilidade e qualidade de vida compensa cada centavo gasto.

Luxemburgo pode ser pequeno, mas é um exemplo de planejamento, inovação e qualidade de vida. E o fato de o transporte ser gratuito é apenas uma das muitas coisas que surpreendem quem visita o país. Então, da próxima vez que você pensar em fazer uma viagem pela Europa, lembre-se de que entre Bélgica, França e Alemanha existe um país charmoso, seguro e diferente de todos os outros. E se você gosta de experiências autênticas, que fujam do turismo de massa, Luxemburgo precisa estar no seu roteiro.

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