
Depois da repercussão negativa sobre a nova tarifa de bagagem de mão, o CEO da Latam, Jerome Cadier, reconheceu nesta segunda-feira, dia 20, que houve uma falha de comunicação sobre a nova modalidade tarifária, que não contempla mais a bagagem de mão em voos internacionais.
Segundo Cadier, o modelo tarifário mais básico da companhia, denominado “Básica” (ou Basic, em inglês), havia sido pensado para oferecer ao cliente mais opções, especialmente àqueles que viajam com pouca bagagem, mas acabou sendo interpretado como uma cobrança pelo uso do compartimento de bagagem de mão:
“Infelizmente, isso foi mal interpretado. Reconhecemos que não comunicamos bem isso ao público”, afirmou o executivo.
Cadier ainda defendeu que a nova tarifa pode beneficiar o consumidor por permitir acesso a preços mais baixos e maior flexibilidade, e pediu compreensão das autoridades brasileiras:
“ Espero que o Congresso entenda que isso é bom para o Brasil e bom para o consumidor brasileiro ”, declarou o CEO da Latam durante um evento no Peru.
A Gol também já veio a público com o mesmo discurso, de que essa modalidade serviria para tornar a empresa mais competitiva no mercado.
Eu mesmo, que estive participando da ABAV Expo 2025, realizada no Rio de Janeiro, ouvi da própria Gol que essas tarifas estariam sendo pensadas para se adequarem a um novo perfil de viajantes, aqueles que viajam com pouca mala"... bom, neste caso, nenhuma, certo? E que essa tarifa teria chegado para ser competitiva com as outras companhias aéreas. Mas aí eu te pergunto: competitiva com quem, exatamente?
Essa justificativa de “alinhamento com as low cost ” (empresas que oferecem passagens mais baratas ao remover serviços considerados extras, que são cobrados à parte) soa, no mínimo, desonesta. Afinal de contas no Brasil, não existe companhia aérea de baixo custo. As empresas que operam aqui praticam tarifas altas e oferecem um serviço cada vez mais reduzido (o oposto do conceito de low cost).
Na Europa, quando você paga 30 euros num voo de Lisboa para Paris, você sabe que está embarcando em uma companhia realmente de baixo custo: sem lanche, sem bagagem incluída e, às vezes, nem o bilhete impresso está no pacote. Mas, em compensação, você paga barato de verdade.
No Brasil, o cenário é completamente diferente. Um simples trecho Rio–São Paulo ultrapassa facilmente os R$ 1.200, dependendo da data. E ainda querem cobrar pela mala de mão, sob o argumento de que “é o padrão internacional”.
O problema é que as aéreas brasileiras não competem com o padrão internacional. Gol, Latam e Azul operam majoritariamente voos domésticos e, mesmo nos internacionais, não há concorrência direta com as grandes low cost estrangeiras. Então, de que competição elas estão falando?
Na prática, tudo isso é apenas mais uma estratégia para aumentar o lucro, travestida de discurso de modernização e flexibilidade. E diga-se de passagem, as companhias têm lucrado (e muito) com a cobrança separada das bagagens, algo que antes já estava incluso no valor final da passagem.
No fim das contas, o argumento de “mais opções para o consumidor” é apenas uma desculpa esfarrapada para transformar um serviço básico em mais uma fonte de receita.