
Pensar em ser pago para mudar de cidade pode parecer inusitado, mas é exatamente o que está acontecendo em Albinen, um vilarejo nos Alpes suíços que tenta reverter décadas de esvaziamento populacional. Em meio a paisagens que parecem saídas de um cartão-postal, a comunidade decidiu transformar um problema demográfico em oportunidade: oferecer dinheiro vivo a quem decidir fincar raízes por lá.
O programa — criado em 2018 e retomado em novas fases nos últimos anos — prevê um pagamento de cerca de 20 mil francos suíços (aproximadamente R$ 135 mil) por adulto, além de 10 mil francos por criança (aproximadamente R$ 60 mil). O objetivo é simples, mas ambicioso: revitalizar um vilarejo que perdeu boa parte de seus habitantes e corre o risco de desaparecer.
Um plano para repovoar os Alpes
Situada a 1.300 metros de altitude, no cantão de Valais, Albinen chegou a ter menos de 240 moradores. Muitas das antigas casas de madeira foram transformadas em residências de férias, e até a escola local precisou fechar as portas. A falta de empregos e de jovens provocou uma migração constante para cidades maiores como Leukerbad, Sion e Visp, todas a menos de uma hora de distância.
Para frear o êxodo, o município criou um incentivo financeiro destinado a famílias dispostas a viver de forma permanente no local. Mas o dinheiro vem com regras claras. Os interessados precisam ter menos de 45 anos, comprar ou construir um imóvel no valor mínimo de 200 mil francos suíços (aproximadamente R$ 1,2 milhão) e morar na vila por pelo menos dez anos. O imóvel precisa ser residência principal, e não casa de temporada.
O acordo é de compromisso mútuo: quem não cumprir as condições deve devolver o valor recebido. Estrangeiros também podem participar, desde que tenham permissão de residência válida. É possível encontrar e solicitar mais informações sobre o processo no site oficial da prefeitura da cidade.
Vida tranquila, mas com desafios
A paisagem em Albinen conta com com montanhas cobertas de neve, trilhas e um ar de serenidade difícil de encontrar em centros urbanos. O vilarejo mantém um ritmo calmo, com poucos comércios, um pub e transporte regular até as cidades vizinhas. Em compensação, não há escola, banco ou agência dos correios — fatores que exigem adaptação de quem busca uma mudança definitiva.
O clima alpino também é rigoroso. Invernos longos e frios são parte do cotidiano, o que pode ser um obstáculo para quem não está habituado às temperaturas negativas. Ainda assim, a comunidade oferece um alto padrão de segurança e qualidade de vida.
O fenômeno dos vilarejos que resistem
Albinen não é o único caso de cidade suíça que luta para preservar sua identidade diante da migração para os grandes centros. Pequenas localidades como Bosco Gurin, Dardagny, Trogen, Hospental e Poschiavo também enfrentam desafios semelhantes — e algumas delas vêm apostando em estratégias próprias de revitalização.
Em Bosco Gurin, por exemplo, o mais alto vilarejo do cantão do Ticino, o turismo de inverno se tornou uma alternativa econômica. Já Grüningen, na região de Zurique, aposta em programas culturais e eventos sazonais para atrair visitantes e novos moradores. Zofingen, no cantão de Argóvia, investe na restauração de prédios históricos e na economia criativa como forma de estimular o comércio local.
Em Giornico, o apelo histórico e arquitetônico — com suas pontes e igrejas medievais — é a principal força de atração, enquanto Arlesheim e Diessenhofen se consolidam como vilas residenciais para quem busca o equilíbrio entre tranquilidade e acesso a grandes cidades.