Europa mostra que o banho em rios urbanos é possível
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Europa mostra que o banho em rios urbanos é possível

No verão europeu, moradores e turistas se reúnem às margens do rio Isar, em Munique, para flutuar em suas águas geladas — algo impensável há algumas décadas. Em pleno centro da cidade, com mais de 1,4 milhão de habitantes, o rio é hoje próprio para banho e símbolo da recuperação ambiental alemã.

A qualidade da água está diretamente ligada à eficiência do saneamento básico. Na Alemanha, mais de 96% da população está conectada ao sistema público de esgoto, que conta com cerca de 10 mil estações de tratamento. No Brasil, o número não chega a 4 mil, mesmo com o dobro de habitantes.

Além do tratamento de esgoto, a despoluição dos rios na Alemanha envolve uma combinação de medidas, como a implementação de leis ambientais rigorosas e o monitoramento constante da qualidade da água. As autoridades locais e federais também colaboram para restaurar os ecossistemas fluviais, reduzindo a poluição industrial e agrícola.

Nem sempre foi assim. Até os anos 1980, os rios alemães sofriam com poluição industrial. A criação do Ministério do Meio Ambiente, em 1986, e uma legislação rigorosa obrigaram empresas e municípios a adotar medidas sustentáveis. 

Recuperação que virou modelo

O processo de despoluição também atingiu o rio Reno, o maior da Alemanha, alvo de um programa internacional iniciado em 1989. Mais de US$ 15 bilhões (R$ 83,4 bilhões) foram investidos por seis países banhados por ele e pela iniciativa privada. O esforço conjunto resultou em trechos liberados para banho e navegação recreativa.

A experiência alemã se repete em outros pontos da Europa. O Sena, em Paris, voltou a ser  usado para atividades aquáticas após um investimento de €1,4 bilhão (R$ 8,8 bilhões). A revitalização foi acelerada pelos Jogos Olímpicos de 2024, quando o rio recebeu competições de natação em águas abertas.

O monitoramento da qualidade da água geralmente envolve a coleta de amostras em diferentes pontos do rio, analisando parâmetros como bactérias, níveis de nutrientes, metais pesados e outros contaminantes. 

No caso do Sena, em Paris, a cidade tem um histórico de poluição mais complexo, e a infraestrutura de tratamento de esgoto ainda está em processo de modernização. Durante a preparação para as Olimpíadas de Paris 2024, foram feitos investimentos em infraestrutura, melhorias no tratamento de esgoto e um monitoramento mais rigoroso.

Porém, após as Olimpíadas, o desafio de manter a qualidade da água em um nível adequado para banho de forma contínua é bem complexo. Então, o que se buscou foi garantir que, pelo menos durante o período olímpico, o rio estivesse em condições ideais. Depois disso, o foco voltou para o tratamento contínuo e para o equilíbrio entre o uso recreativo e a preservação ambiental.

Em Paris, o sistema de esgoto ainda tem pontos onde o esgoto doméstico e pluvial podem acabar sendo despejados diretamente no rio, principalmente em situações de chuvas fortes, quando o sistema não dá conta do volume. Além disso, o Sena tem um tráfego intenso de barcos e uma densidade populacional altíssima, o que dificulta a manutenção contínua da qualidade da água.

Em Paris, a densidade populacional é de cerca de 26.700 habitantes por quilômetro quadrado, enquanto Munique tem em torno de 4.800 habitantes por quilômetro quadrado. Em relação aos rios no Brasil, o Rio Paraguaçu, na Bahia, é conhecido por ser próprio para banho.

Na Suíça, o rio Aar é tradicionalmente usado para mergulhos no verão, e em Londres, o Tâmisa voltou a ter trechos com qualidade adequada para lazer. O avanço é resultado da Diretiva das Águas Balneares da União Europeia, criada nos anos 2000, que estabeleceu padrões rígidos para controle de esgoto, resíduos agrícolas e industriais.

Segundo relatório da Agência Europeia do Meio Ambiente, 78% dos rios e lagos do continente apresentaram qualidade “excelente” em 2024.

O caso de Munique

O Isar só se tornou balneável em 2005, após modernização completa das estações de tratamento, equipadas com desinfecção por luz ultravioleta — tecnologia que elimina bactérias sem uso de químicos. Mesmo assim, o banho é permitido apenas em áreas sinalizadas.

No canal Eisbach, braço artificial do Isar , o surfe é a principal atração. A prefeitura autoriza apenas atletas experientes na famosa “Eisbachwelle”, uma onda estacionária que se tornou cartão-postal da cidade.

No caso do Canal Eisbach, as ondas são formadas por um obstáculo subterrâneo, uma espécie de pedra ou estrutura que interrompe o fluxo da água. Isso cria uma corrente contínua e uma onda estável que se mantém o tempo todo, independentemente do fluxo do rio. Isso permite que os surfistas pratiquem o surfe o dia todo, sem precisar de maré ou ondas naturais.

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