
Pouco mais de um ano após as enchentes que devastaram o seu território , o Rio Grande do Sul voltou à lista de principais portas de entrada do Brasil, apontam dados da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo).
As paisagens gaúchas incluem desde vinícolas, serras e até a herança arquitetônica italiana em um estande no Salão do Turismo 2025, que vai até sábado (23) no Distrito Anhembi, Zona Norte de São Paulo .
Para Cláudia Mara Borges, diretora de Planejamento e Competitividade da Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul, o segredo para o sucesso do estado em dar a volta por cima tem três motivos principais: a união do governo com o setor turístico, campanhas de promoção do turismo no estado e as viagens de ônibus. Por causa das enchentes, o aeroporto de Porto Alegre ficou cinco meses fechado.

No momento, o foco de atração de turistas é o frio e o inverno gaúcho , explica a diretora.
“Enquanto todo o Brasil está vendendo sol e mar, a gente tem o inverno. E fomos brindados com duas temporadas de neve esse ano”
, diz.
E ela lembra: o frio no estado “só acaba quando termina” .
“É uma coisa que é bem importante salientar: o turismo de inverno não é 15 dias das férias de julho no Rio Grande do Sul. São quatro meses. A gente brinca que o inverno só acaba quando termina; e, no Rio Grande do Sul, pode ser em novembro” , diz.
Outras iniciativas incluem fortalecer o Festival de Cinema de Gramado e, em setembro, comemorar o Mês do Gaúcho. A intenção é que ele ganhe a mesma importância que as festas juninas têm para o Nordeste, segundo a diretora.
A Embratur investiu no festival de cinema, que também foi apontado pelo diretor da agência, Marcelo Freixo, como estratégico para retomada do turismo no Rio Grande do Sul.
Para Freixo, a reabertura do aeroporto de Porto Alegre também foi importante para a volta dos números, mas as parcerias que foram fechadas durante o fechamento tiveram sua relevância. Um exemplo é um voo que uma empresa aérea passou a operar para Florianópolis e que, após a reconstrução do aeroporto gaúcho, foi mantido mesmo com a reabertura dos voos para a capital do Rio Grande do Sul.
De janeiro a julho deste ano, o Rio Grande do Sul foi a porta de entrada de mais de 1,2 milhão de turistas estrangeiros, segundo a Embratur, atrás apenas de São Paulo, com quase 1,6 milhão, e Rio de Janeiro, com 1,3 milhão. Antes das enchentes, o estado era a principal porta.
E o local de origem mais frequente de visitantes de fora do país é a Argentina. No mesmo período, 2,5 milhões de argentinos vieram para o Brasil (um aumento de 94% em relação ao ano passado).
Freixo reforça que a retomada do cenário turístico gaúcho, principalmente na promoção do estado no país vizinho, foi fruto de uma parceria dos governos federal, estadual e das prefeituras.
“Acho que isso deu certo, e todos nós comemoramos. Essa não é uma vitória só do Rio Grande do Sul. A tragédia ali foi muito grande. Quando a gente recupera o Rio Grande do Sul, é uma boa notícia para o Brasil inteiro” , diz.
As estratégias futuras incluem promover o estado em outros mercados, como o Chile e os Estados Unidos, por meio de ampliação da malha áerea – os dois países foram o segundo e o terceiro em número de turistas que visitaram o Brasil até julho deste ano, com 495 mil e 465 mil visitantes respectivamente.
Porto Alegre: ‘voltando com tudo''
As estratégias de sucesso também alcançaram a capital gaúcha. Com parcerias com as secretarias municipais de esporte e cultura, a cidade está promovendo a retomada de festivais, campeonatos esportivos, experiências com música e o Acampamento Farroupilha, que atrai milhões de pessoas todo ano.
No segundo semestre, a cidade vai receber um campeonato de jiu-jitsu e, em março, deverá ter um novo centro de eventos.
“A questão do turismo de Porto Alegre, a retomada, eu vejo muito perto isso do próprio desenvolvimento econômico, porque uma coisa está atrelada na outra” , explica Fernanda Barth, a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Eventos da capital.
Ela pontua que ainda é preciso recuperar algumas partes da cidade, como o 4º Distrito – região que concentra a vida noturna da capital, com bares e cervejarias. A maior meta, entretanto, e também um desafio, é que a cidade seja vista como um destino turístico pelas operadoras do setor assim como municípios ou passeios mais conhecidos.
''Porto Alegre tem muita coisa pra oferecer e pra vender. O que falta, muitas vezes, são as grandes operadoras olharem pra nós e verem como um destino turístico muito bom, que a gente consiga agregar um ou dois dias a mais pra quem sobe a Serra [Gaúcha], pra quem vai fazer o tour dos cânions“ , avalia.
Uma questão central, inclusive, é reforçar que a cidade está pronta para receber turistas.
''Tem muitas pessoas que olham pro Rio Grande do Sul e acham que a gente ainda está embaixo d’água, por incrível que pareça, ou que a gente ainda está com problemas de aeroporto. O nosso sistema de proteção de cheias e enchentes está de pé, foi reconstruído e está melhor do que estava antes. Pode vir para Porto Alegre, que não tem risco. Vai dar tudo certo“ , promete.