Percorrer caminho vale mais que chegar ao destino para peregrinos
O peregrino não quer chegar, quer estar no caminho. Parece filosofia de vida, mas é uma forma de explicar o prazer de colocar a mochila nas costas, apanhar o cajado e gastar o solado da bota em caminhadas longas, por vezes longuíssimas. Viagens feitas a pé onde percorrer o trajeto é o objetivo. Muito mais que chegar ao destino.
O Caminho de Santiago de Compostela , com seus cerca de 800 quilômetros de extensão entre Portugal, Espanha e França, é a referência mais lembrada quando se fala em roteiro peregrino. Tanto que, apesar de sua vocação religiosa, faz parte dos sonhos turísticos de muitos viajantes sem fé.
O tempo no asfalto, no barro ou na areia é encarada pelos viajantes como uma oportunidade para pensar na vida e se reinventar. A internet está cheia de depoimentos de quem viveu a aventura de viajar a pé. Casos como o de um coronel da Polícia Militar, que conta que se sentiu um recruta ao precisar da ajuda de um jovem de 23 anos para chegar ao fim do dia.
O curioso é que a maioria dos turistas andarilhos, que passam desde oito dias até um mês caminhando, lembra bem das dificuldades enfrentadas. Dor, cansaço, bolhas nos pés, sol, chuva, aridez e frio fazem parte da jornada. Mesmo assim, nos relatos, o destaque sempre é dado à riqueza das experiências e à beleza dos cenários vistos - afinal, praias, cidadezinhas históricas montanhas e planícies surgem todo o tempo no horizonte. Em geral, quem faz uma caminhada repete a dose, acaba virando entusiasta e transforma as viagens a pé em estilo de vida.
Rotas peregrinas também no Brasil
Segundo a Junta de Galícia, órgão que controla o fluxo de andarilhos na Basílica de Santiago de Compostela , onde termina a rota peregrina mais famosa do planeta, o Brasil ocupa a oitava posição na lista de 140 países que mais enviam turistas ao trajeto - e que completam o percurso. Fora da Europa, somos os campeões de frequência por lá. O que mostra o gosto dos brasileiros pela caminhada e a força da religião católica por aqui.
O que muitos talvez não saibam é que, fiéis ou não, os andarilhos nacionais podem encontrar roteiros interessantes para viajar de mochila e cajado na mão aqui mesmo, no País. São dez grandes percursos demarcados no Brasil, com razoável estrutura e entidades que zelam por seu bom funcionamento.
A maior parte das iniciativas partiu de viajantes que completaram com esforço o Caminho de Santiago. E perceberam que uma boa preparação faz diferença antes de encarar a grande aventura peregrina da vida. O Caminho Lagunar , por exemplo, com 87 quilômetros, margeia lagoas e praias em Alagoas e tem como propósito declarado o preparo para Compostela.
Entre os roteiros com vocação religiosa estão o Passos do Padre Ibiapina , que percorre no mínimo 60 quilômetros pelo interior da Paraíba. E o Passos de Anchieta , com 89 quilômetros ao longo de praias no Espírito Santo, saindo da Catedral de Vitória, rumo ao município de Anchieta, onde o famoso padre faleceu. O trajeto pode ser concluído em quatro dias e a saída oficial, em grupo, acontece em junho - mas pode ser percorrido de forma independente em qualquer período.
Vários outros Estados brasileiros oferecem a chance de cruzar municípios sob a orientação de mapas, sendo recebido em pousadas simples ou casas de moradores que acolhem os viajantes e fornecem refeições a preços justos.
Acompanhe as novidades do iG Turismo pelo
Twitter
.