
Além de ter batido o recorde histórico de entrada de turistas internacionais em setembro de 2025, o Brasil ainda conquistou um altíssimo índice de satisfação entre os visitantes estrangeiros.
De acordo com uma pesquisa inédita realizada pela Embratur, em parceria com a Visa e o Instituto Ipsos, 94% dos estrangeiros que visitaram o país nos últimos 12 meses avaliaram a experiência como “boa” ou “muito boa”.
Mas a questão é um pouco mais complexa... Eu, que viajo profissionalmente há mais de 20 anos para diversos lugares do mundo, já ouvi de muitos turistas (principalmente europeus) que deixaram de vir ao Brasil por considerarem o país caro, especialmente quando comparado a outros destinos da América do Sul.
Com essa mudança crescente no número de visitantes estrangeiros, parece claro que o cenário está se transformando. Por isso, fiz questão de conversar com a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) para entender o que realmente mudou e o que tem levado o Brasil a viver esse novo momento no cenário global.
Em entrevista exclusiva à minha coluna, a Embratur revelou que esse resultado não é fruto do acaso, mas de uma política pública sólida de promoção internacional, baseada em inteligência de dados, inovação e uma nova imagem do país, um Brasil diverso, sustentável e conectado à cultura do seu povo:
O que mudou na estratégia da Embratur para recolocar o Brasil no radar internacional?
O resultado que temos observado no turismo internacional no Brasil é fruto de uma política pública sólida de promoção internacional, conduzida pela Embratur, com base em inteligência de dados e inovação, tocada por uma equipe técnica reconhecida pelo mercado. Retornamos às principais prateleiras do turismo mundial com uma imagem de país renovado, um Brasil que valoriza a diversidade de seu povo e que tem compromisso ambiental.
Em linhas gerais, a Embratur passou a buscar diferentes perfis de turistas, com estratégias específicas para cada um deles. O turista mochileiro, por exemplo, que tem um perfil de consumo mais sensível ao preço, também é alvo de nossas ações, tanto que trabalhamos em parceria com associações de hostels, e esse público tem crescido, especialmente entre mulheres que viajam sozinhas ou em grupos de amigas.
Mas entendemos que, para a ampla maioria dos turistas de mercados distantes, como Europa e Estados Unidos, o preço não é o principal fator de decisão. Esse público busca experiências, autenticidade e facilidade de acesso. Por isso, mostramos que hoje o Brasil tem uma oferta de voos muito mais robusta, com conexões diretas e acessíveis. Outro ponto importante foi mostrar um Brasil além do óbvio. Passamos a destacar nossa diversidade de natureza, cultura e gastronomia, o país vai muito além do sol e praia.
A Embratur estruturou todas essas diretrizes em uma ferramenta inédita: o Plano Brasis, um plano de marketing turístico internacional que orienta ações de estados e destinos, promovendo integração e sustentabilidade. Com ele, criamos as condições para transformar o bom momento atual em uma tendência duradoura de crescimento.
O Brasil sempre foi reconhecido por seus atrativos naturais, mas também carrega desafios históricos como segurança, infraestrutura e malha aérea. Qual tem sido o principal desafio da Embratur para mudar essa percepção internacional e transformar o Brasil em um destino competitivo e desejado?
Os índices sobre segurança do turista no Brasil não são diferentes dos verificados nas principais metrópoles do mundo. Questões de segurança existem em qualquer destino. Para se ter uma ideia, uma pesquisa da Fecomércio/RJ mostra que 95% dos turistas que visitaram o Rio de Janeiro recomendariam a cidade a amigos ou voltariam a visitá-la. Nessa mesma pesquisa, o item “segurança” aparece apenas em quinto lugar entre os empecilhos para viajar.
O Brasil tem melhorado sua capacidade de atendimento ao turista, com delegacias especializadas, policiamento turístico e capacitações voltadas às mulheres viajantes. Isso tem refletido diretamente na imagem do país.
Quanto à infraestrutura, nossos aeroportos estão hoje em padrão internacional de excelência, o que aumentou nossa competitividade na atração de voos. Em 2023, tínhamos pouco mais de 59 mil voos internacionais. Agora, projetamos quase 76 mil até o fim de 2025, e o número de assentos internacionais para o Brasil deve atingir 17,6 milhões, um crescimento de mais de 80% em relação a 2022. Esse avanço é resultado de diálogo constante com companhias aéreas internacionais e de uma estratégia que direciona investimentos de promoção em parceria com as próprias empresas, garantindo maior ocupação de estrangeiros. Hoje, o Brasil já é visto como um destino competitivo e desejado. O desafio agora é consolidar esse patamar histórico e transformá-lo em expansão sustentável.
De que forma o Brasil está se preparando para atender esse novo perfil de viajante e se destacar no segmento de turismo de experiência, que vem crescendo em todo o mundo?
A Embratur tem acompanhado de perto essa tendência global. O turista moderno busca experiências autênticas, diversas e sustentáveis, que valorizem a natureza, a cultura e o modo de vida das comunidades locais. O Brasil tem todas as condições para se destacar nesse movimento. Nossos destinos oferecem exatamente o que o mundo procura: diversidade de paisagens, cultura e hospitalidade. Este ano, em parceria com o Sebrae, lançamos o projeto Feel Brasil, que reúne 101 experiências turísticas em todas as unidades da federação, apresentando vivências diferenciadas, imersivas e sustentáveis.
Essas experiências geram emprego, renda e desenvolvimento local, mostrando que o turismo pode (e deve) ser também uma ferramenta de transformação social.
Em resumo, o Brasil voltou a ser destaque no turismo mundial.
Com mais voos, novas estratégias e uma comunicação que valoriza nossa autenticidade, o país está pronto para receber o novo turista global, aquele que quer viver o Brasil além do óbvio.
Entrevista exclusiva com a Embratur
Texto: Vitor Vianna