Tiago Pirrô terminou a faculdade de arquitetura e foi viajar pelo mundo
Arquivo pessoal 28.06.2022
Tiago Pirrô terminou a faculdade de arquitetura e foi viajar pelo mundo

A liberdade de viajar sem destino final, sem um porto ou compromisso poderia facilmente ser equiparada à autonomia de vivenciar as próprias escolhas sem amarras. A vida de Tiago Pirrô, de 35 anos, poderia ser olhada desse prisma. O arquiteto nasceu em Guarulhos, na Grande São Paulo, e se mudou para a Zona Leste de São Paulo, onde viveu até os 28 anos. Ali, ele se conheceu como pessoa, aprendeu a se identificar como um homem cis pansexual e descobriu a liberdade de ser quem é. 

A história poderia parar por aí, se não fosse um acontecimento trágico que abalou sua vida: uma grande amiga morreu ainda jovem, aos 25 anos, o que o fez pensar sobre que rumo tomar na vida. Mais tarde, a violência também bateu à sua porta quando foi assaltado em São Paulo, ao lado de um ex-namorado, que levou dois tiros; um ultrapassou o pulmão o outro se alojou a dois dedos do coração e não pôde ser retirado.

O trauma gerou em Tiago uma síndrome do pânico e, embora o então namorado tenha sobrevivido, ele diz que esse foi outro fator importante para adotar um novo estilo de vida, largar a carreira de arquiteto e viver livre, sem rumo e sem destino. O aventureiro primeiro foi para a Irlanda, onde morou por quatro anos, mas o desejo de viver na Espanha falava mais alto.

“Programar as coisas não faz muito parte da minha realidade. Mudo de um país para o outro muito rápido. Decidi ir para Espanha, eu larguei meu trabalho na área de arquitetura, em que ganhava muito bem, e fui para lá em menos de 48 horas. Entretanto, passei por perrengues durante a pandemia. Tive que ir para a Irlanda para ajudar minha família. Não desisti do meu sonho de morar na Espanha e, na primeira oportunidade, voltei para lá”, narra Tiago.

Ele também criou um canal no Youtube, “Tiago Pirrô Mundo Afora” para mostrar suas aventuras pelos estados brasileiros e países que visita. O nômade morou por três anos na Espanha e se apaixonou pelo novo: lugares desconhecidos, novas culturas, ideias e histórias de vida. "Elas sempre me fascinaram. Conheço cerca de 20 cidades do sul da Espanha e vivi em Málaga todo tempo em que morei lá”, adiciona.

Em seus roteiros pelo Brasil, ele já foi para São Paulo, Rio de Janeiro, em locais como Botafogo, Copacabana, Urca, Ipanema; em Minas Gerais já passou por Extrema, Guapé, Formiga, Ilicínea, Santa Rita, Pouso Alegre e Alfenas. Na Europa, ele conhece a Irlanda e Irlanda do Norte quase inteira. Além de já ter ido para Portugal, mais precisamente a Lisboa, Setúbal e Albufeira.

Além de já ter ido para o Reino Unido, onde conheceu Londres, Glasgow, também a Escócia e Gibraltar. Ele já morou também quatro meses na Itália. Enquanto estava em processo de adquirir a cidadania. Na Alemanha, Tiago foi para Colônia, Amsterdã, Bruxelas e entre outros destinos enriquecedores.

“Na Itália, tive o prazer de conhecer 18 cidades do norte. Morei dois meses em Pádua e os outros dois em Milão. Já fui em muitos lugares, sem dúvida, e o número de cidades que fui já passou de 200”, retoma.

Na Polônia, que acredita ser o destino mais longe em suas viagens, até agora pôde visitar a cidade de Poznán, onde relata que foi uma das melhores experiências que já teve.

“Conheço pessoas de vários países, culturas, idades, religiões e graças a Deus sempre fui admirado e respeitado por todos. Sou grato por jamais ter sofrido o preconceito na pele”, reflete.

Apoio familiar

O processo de anunciar a família a decisão de viver a vida sem um rumo certo não foi fácil. O aventureiro lembra que muitos integrantes ficaram com um pouco de medo, mas apoiaram.

“Hoje todos da família me olham com admiração e um exemplo a ser seguido, o que me enche de orgulho, pois também ajudei pessoas da minha família a correrem atrás dos próprios sonhos”, completa.

Todavia, nem tudo são flores, ele conta que para conseguir se manter, precisou aceitar diversos tipos de trabalhos, mas não vê isso como um grande mal, porque prefere enxergar o lado positivo.

“Não tenho tempo ruim para trabalho. Na Espanha fui garçom, fazia faxinas em casas e estabelecimentos comerciais, recepção de hostel e cuidei de alguns jardins e cuidei de cachorros e gatos”.

Recentemente, ele voltou para o Brasil para visitar sua família que não via há muito tempo. No dia dessa entrevista, Tiago estava em casa, com a família, e faz novos planos para seguir com o projeto de conhecer o mundo. O arquiteto está investindo em trabalhos on-line, pois dará a ele a mobilidade que precisa.

"Vou fazer meu perfil em sites para fazer tradução inglês-português, dar aulas com foco em conversação e vocabulário para iniciantes e intermediários, e agora que estou ficando melhor na edição de vídeos também vou oferecer esse serviço. O mundo é cheio de oportunidades, basta sabermos aproveitá-las. Medo e insegurança sempre existem, e se deu medo é porque estamos no caminho certo”, defende.

Comprar itens no mercado é também uma forma que ele utiliza para economizar, além disso, ele sempre opta em provar comida típica fora das áreas turísticas, porque é mais barato, e para ele é também mais gostosa: “Já trabalhei muito em restaurante em áreas turística e não turísticas. Onde os estrangeiros circulam, por ser sempre cheio e precisarem preparar rápido, a comida é sempre ruim e cara, têm só a aparência bonita. Restaurantes em destinos menos turísticos a comida é barata, sempre fresquinha e feita com muito amor e carinho”, divide o mochileiro experiente.

Além disso, ele aconselha que todos que desejam seguir esse estilo de vida, só basta ter a coragem de se jogar para o novo. Tiago garante que o medo vai surgir, mas salienta que é assim que alguém chega ao lugar que todo esse sentimento vai passar.

"O bicho-de-sete-cabeças só existe na nossa mente. Descobri isso quando fiz minha primeira viagem internacional, que foi meu intercâmbio na Irlanda. Não conhecia ninguém lá e não sabia o significado de ‘How are you?' [‘Como você está?’, em português]. Perrengue existe em todo lugar, mas ser humano é justamente saber lidar com os perrengues. Eles são as melhores histórias da nossa vida”, argumenta Pirrô. 

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** Julio Cesar Ferreira é estudante de Jornalismo na PUC-SP. Venceu o 13.º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão com a pauta “Brasil sob a fumaça da desinformação”. Em seus interesses estão Diretos Humanos, Cultura, Moda, Política, Cultura Pop e Entretenimento. Enquanto estagiário no iG, já passou pelas editorias de Último Segundo/Saúde, Delas/Receitas, e atualmente está em Queer/Pet/Turismo.

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