Diagnosticado com Parkinson, doença degenerativa, o consultor financeiro Maurício Carvalho embarcou em uma viagem com o filho para o Kilimanjaro.
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Diagnosticado com Parkinson, doença degenerativa, o consultor financeiro Maurício Carvalho embarcou em uma viagem com o filho para o Kilimanjaro.

Seguir em uma expedição em direção ao Kilimanjaro, a montanha mais alta da África, com certeza é um desafio. No entanto, foi este o destino, situado na Tanzânia, que o consultor financeiro Maurício Carvalho escolheu como cenário para sua próxima viagem, que gostaria de realizar acompanhado do filho, Pedro. E ainda havia mais um fator a se acrescentar: Maurício tinha sido diagnosticado sete anos antes com Parkinson, doença neurológica que causa tremores, rigidez nos movimentos e desequilíbrio. 

Com Parkinson%2C pai escala o Kilimanjaro com o filho%3A “Oportunidade única”
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Após retornar da viagem, Maurício decidiu que iria contar a experiência no livro “Rumo ao Kilimanjaro - Levando o Parkinson na Mochila”.

Mas a doença não impediu que pai e filho partissem para o Kilimanjaro e, em 2017, após um ano de preparação física e mental, os dois escalaram um dos maiores montes do mundo. Depois da aventura, Maurício decidiu contar a experiência no livro “Rumo ao Kilimanjaro - Levando o Parkinson na Mochila”, que escreveu sob o pseudônimo de Julio Rocha e que foi publicado em 2020 pela editora Autografia. A jornada para chegar ao Kilimanjaro demanda extrema resistência física, um guia certificado e conhecimento acerca do clima e das características da natureza local. Afinal, são 5.895 metros a serem enfrentados. 

Segundo o consultor financeiro, ele encarou a trilha para chegar ao Kilimanjaro do mesmo modo que uma caminhada rotineira. “Nunca tive problemas em fazer caminhadas, o Kilimanjaro seria mais uma delas. Mais difícil, mas ainda uma caminhada. Escolhi o monte porque era num lugar diferente, selvagem e seria uma oportunidade única. Estava pensando em fazer a Trilha de Santiago e um amigo, que já havia feito o Kilimanjaro, me deu a ideia e várias indicações muito importantes”, conta. 

Na época, Maurício estava com 55 anos e Pedro com 27. Acostumados a viajarem juntos, no começo foi difícil aceitar que o Parkinson agora seria uma presença constante. De acordo com Pedro, sempre fora incentivado a praticar atividades ao ar livre, mas desde o diagnóstico, acreditava que nunca mais iria concretizar uma nova aventura com o pai. A proposta para viajar para o Kilimanjaro veio justamente de Maurício, que determinou que a doença não seria um empecilho.

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“Naquele início de verão em 2016, ele propôs que fizéssemos mais uma vez uma viagem pai e filho, daquela que costumávamos fazer quando eu era mais novo e que, pela correria do dia a dia, havia muito tempo que não fazíamos juntos. Desde que ele me contara do Parkinson, não ousava pensar em realizar algo mais aventureiro com ele. Acontece que por um lapso não recordei de quem era meu pai, de sua determinação e resiliência para se provar e contornar as adversidades da vida. Depois que apresentei as opções que havia pesquisado, ele descartou de pronto todos os meus planos e sugeriu que encarássemos algo maior, muito maior”, revela Pedro, no prefácio do livro. 

Maurício, por sua vez, disse que também demorou para que finalmente aceitasse a doença. O Parkinson age fundamentalmente no cérebro e, com o tempo, traz danos à coordenação motora. Consequentemente, os movimentos, que são quase automáticos, ficam cada vez mais difíceis de serem efetivados. Na família do consultor financeiro, a doença já havia se manifestado no pai e no irmão mais velho. “Fiquei revezando entre surpresa e negação, pois minha festa de aniversário de 49 anos seria no dia seguinte com uns 30 convidados. Depois da festa comecei a fazer todos os exames e fui caindo na realidade e fiquei bastante perdido e inconformado”, explica. 

Quando finalmente resolveu que realmente iria escalar o Kilimanjaro, Maurício sabia que o filho seria o companheiro ideal. O trajeto, que dura entre sete e oito dias, exige um enorme esforço do viajante para desafiar a vasta floresta e o ar rarefeito, presente por conta da elevada altitude. “Ele gosta muito desse tipo de programa e seria uma oportunidade única de passar duas semanas com ele. Me separei da mãe dele quando era bem pequeno e, muito embora ficássemos muito juntos nos finais de semana, nunca havia passado tanto tempo só com ele”, revela. 

Em nenhum momento, pensou em desistir ou voltar para trás. “O que poderia acontecer seria o guia dizer que não tinha condições físicas de seguir em frente. Nesse caso estava preparado para aceitar e voltar. Não queria correr riscos desnecessários. Quando a viagem foi concluída, me senti muito bem. Provei para mim mesmo que o Parkinson não ditaria minha vida. No meu caminho teria um companheiro chato, mas quem decidiria  o destino continuaria sendo eu”, finaliza. 

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